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Nova espécie de ave é descoberta na Amazônia por pesquisadores do Pará

O estudo iniciou em 2013 e foi conduzido por um grupo de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará e Universidade de Helsinki, na Finlândia

O Liberal

Uma ave discreta, de coloração verde-oliva e que pouco canta é a mais nova espécie de ave descoberta na Floresta Amazônica. Batizada como "Bico-chato-críptico" (Rhynchocyclus cryptus), a nova ave é a quarta espécie identificada dentro de um complexo conhecido como os "Bico-Chato", grupo que ocorre por quase toda a Amazônia, Mata Atlântica e América Central.

O estudo foi liderado pela pesquisadora Carlynne Simões, do Museu Paraense Emílio Goeldi, em parceria com cientistas da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade de Helsinki, na Finlândia. A bióloga conta que o estudo com essa espécie começou em 2013, no segundo ano de graduação, como uma proposta de iniciação científica, com o então curador da coleção de aves do MPEG, Alexandre Aleixo.

Inicialmente, o grupo estudou todas as quatro espécies do gênero Rhynchocyclus (R. olivaceus, R. pacificus, R. brevirostris e R. fulvipectus) para saber quais delas eram mais parecidas entre si usando dados de DNA, chamado de filogenia. Em seguida, focaram no bico-chato-grande (R. olivaceus) e ao investigar mais a fundo a diversidade genética dessa ave, os pesquisadores puderam identificar que não existe apenas um único tipo em toda a área de ocorrência, mas sim diversas espécies.

Para complementar os resultados, foram usadas medidas de tamanho do corpo, coloração da plumagem e os diferentes tipos de canto desta espécie. A surpresa foi descobrir que é possível identificar pelo menos quatro espécies diferentes que estavam “escondidas” na espécie que chamavam de bico-chato-grande. Três delas já tinham nome, ou seja, já haviam sido batizadas, mas estavam classificadas como subespécies. Os autores então as elevaram ao status de espécie, são agora elas: Bico-chato-grande (Rhynchocyclus olivaceus), Bico-chato-da-guiana (Rhynchocyclus guianensis) e o Bico-chato-do-equador (Rhynchocyclus aequinoctialis).  A quarta espécie é completamente nova e recebeu o nome de Bico-chato-críptico (Rhynchocyclus cryptus).

 

Características e habitat da nova espécie

A nova espécie é restrita às regiões no sudoeste da Amazônia, especificamente nos estados do Amazonas e do Acre, assim como uma parte da Bolívia. Pode ser encontrada em ambientes sazonalmente alagados, como as várzeas, incluindo até mesmo áreas mais degradadas pelo ser humano, como na região metropolitana do Rio Branco (AC). 

Como o Bico-Chato-Críptico se trata de uma espécie “críptica”, ou seja, não é facilmente diferenciada da espécie que fazia parte anteriormente, não é fácil distinguir pela aparência. Por isso a abordagem feita em diferentes linhas de evidência foram tão importantes para o desenvolvimento dessa descoberta. Somente os pesquisadores viram que as diferenças entre as espécies estavam, principalmente, na vocalização e na genética. Portanto, é possível diferenciar a nova espécie através do seu canto, desde que você esteja no ambiente que ela habita.

"Em 2016, ao vermos as evidências de diversidade de novas espécies "escondidas", se tornou meu projeto de mestrado, com a orientação/coorientação do Dr. Pedro Peloso e do Dr. Alexandre Aleixo, respectivamente, além da colaboração do Dr. Pablo Cerqueira. Nesse período, foi feito um esforço maior para o desenvolvimento, resultando neste trabalho que foi publicado na revista científica internacional Zoologica Scripta", explica Carlynne.

Depois de publicado, o trabalho vai ser registrado e passará por diversos comitês para formalmente ser aceito como espécie e fazer parte das listas de aves do Brasil. A espécie Bico-Chato-Críptico não é uma espécie ameaçada, mas por habitar áreas de várzea, ambientes que são ameaçados. Se esses biomas não forem preservados, a espécie fica em risco. 

Carlynne Simões acrescenta que o impacto dessa descoberta para a sociedade se relaciona ao fato de poder conhecer o Bioma Amazônico e a grande biodiversidade que nele tem. "Não tem como separar a Amazônia das espécies que nela habitam, assim como não tem como separar o nosso futuro enquanto sociedade, sem pensar em todos os benefícios que a conservação/preservação dos nossos biomas trazem. Por isso conhecer a nossa biodiversidade, através também do estudo das nossas espécies, é importantíssimo para que possamos montar e conhecer esse grande quebra-cabeça", conclui.

(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)

Pará