No Pará, processos de divórcio litigioso aumentam 188% no 2º ano de pandemia

De acordo com a terapeuta de casais Mônica Moura, restrições do contexto pandêmico contribuíram para o fim dos relacionamentos

João Thiago Dias / O Liberal

30.01.22 8h00

A terapeuta Mônica Moura, colunista do Grupo Liberal, dá algumas orientações para que casais possam ter uma relação mais forte e menos suscetível a crises que terminam em separações dolorosas (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

Em 2021, segundo ano de pandemia da covid-19, aumentou 188% o número de entradas de processos de divórcio litigioso no Pará, em comparação a 2020. Significa que quase triplicou o número de casais que não conseguiram entrar em consenso quanto a uma ou mais partes que compõem a separação (partilha de bens ou pensão alimentícia, por exemplo) e recorreram ao processo judicial, onde um Juiz de Direito deve decidir por qual caminho o fato se dará.

Segundo levantamento do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA), em 2020, foram registradas 1.772 entradas de feitos judiciais desse tipo no Estado. Em 2021, foram 5.110 entradas. Entretanto, em 2019, mesmo antes do contexto pandêmico, o número foi maior: 6.272 novos processos. Do dia 1º até 26 de janeiro de 2022, o TJPA já registrou 280 entradas de processos de divórcio litigioso.

Na contrapartida, também no Pará, nos últimos três anos, de acordo com a Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR), houve uma redução de 7,21% no número de divórcios consensuais, aqueles realizados em cartório mediante a concordância das partes, sem filhos menores de idade ou incapazes e sem gravidez. O balanço aponta: 1.373 divórcios amigáveis em 2019, 1.332 em 2020 e 1.274 em 2021.

Já no Brasil, nesse mesmo período, a Associação contabilizou um aumento de aproximadamente 5,28% no número de divórcios consensuais: 75.033 em 2019, 76.846 em 2020 e 78.992 em 2021.

Ainda segundo a Anoreg-BR, no último triênio, no Pará, quase não houve mudança no número de separações nos cartórios. Refere-se a uma etapa anterior ao divórcio. Uma forma de dissolução da sociedade conjugal que extingue os deveres de coabitação e fidelidade próprios do casamento, bem como o regime de bens. Fica mantido, contudo, o vínculo matrimonial entre os separados, que os impede de contrair outro casamento.

O balanço da Anoreg-BR referente ao Pará aponta: 15 separações em 2019, 16 em 2020 e 16 em 2021. No Brasil, o levantamento aponta: 429 separações em 2019, 420 em 2020 e 691 em 2021.

Isolamento social contribuiu para o divórcio

As restrições do isolamento social estão entre as causas para o fim dos relacionamentos, conforme avaliou a fisioterapeuta pélvica e educadora sexual Mônica Moura, que assina a coluna "Rapidinha com a Dra. Mônica", publicada todo sábado, no jornal O LIBERAL.

"O isolamento aumentou exponencialmente o número de doenças mentais. Quando estamos dentro de um cenário com muitas doenças mentais, toda emoção fica à flor da pele. Todo sentimento de incômodo e desconforto acaba ficando exacerbado. Eu acredito que essa é uma das maiores causas de divórcio nesse período [pandemia]. É a falta de tolerância com as peculiaridades do outro", disse.

Para a especialista, que trabalha como terapeuta de casais, a busca pelo autoconhecimento é a principal dica para uma relação sadia, duradoura e resistente a crises inesperadas, como a pandemia da covid-19.

"Nesse momento em que as pessoas estão dando tanta atenção para a sua saúde mental, o autoconhecimento, que é consequência de quando as pessoas começam a fazer terapia. Esse momento de olhar mais para si, de entender mais quais são as suas necessidades e respeitar as necessidades dos outros, temos um momento de reviravolta", pontuou.

Com isso, ela defende que as relações vão se formar de uma forma muito mais sólida e verdadeira. "Um momento pós-terapia onde as pessoas vão se ouvir mais. O diálogo vai ser mais facilitado. E isso é o que assegura ou traz uma possibilidade de um relacionamento muito mais saudável e mais feliz. Espero que, nesse momento, todos consigam olhar para si, especialmente com a ajuda de um psicólogo, porque esse olhar terapêutico é fundamental, tanto para nossos pares como para nós mesmos", concluiu.