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No Ophir Loyola, pacientes enfrentam câncer com apoio da psicologia

Profissionais da saúde descrevem como auxiliam pacientes oncológicos no enfrentamento à doença; rede de apoio contribui para o cuidado com a saúde mental

O Liberal

Iniciado com o diagnóstico assertivo, o tratamento do câncer pode representar um longo caminho. Durante e após esse período, muitos desafios devem ser enfrentados, como a lida com os medos e preconceitos relacionados à enfermidade. Neste 27 de agosto, Dia do Psicólogo, o Hospital Ophir Loyola destaca a importância deste profissional no acompanhamento necessário de quem tem de enfrentar as neoplasias malignas e suas incertezas.

A taxa de sobrevida de pacientes diagnosticados com câncer varia de caso para caso e também depende do tipo de tumor, do grau de agressividade e do estadiamento da doença. Contudo, independente do tempo e da terapêutica adotada, o acompanhamento com o profissional da psicologia faz-se necessário para que o paciente compreenda a doença. É o que defende a chefe da Divisão de Psicologia do Hospital Ophir Loyola (HOL), Rivonilda Graim.

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“Prestamos assistência psicológica ao paciente e à família desde o acolhimento, quando recebem o diagnóstico de doença crônico-degenerativa. Ao longo do processo de adoecimento e hospitalização, buscamos contribuir para o bem-estar biopsicosocioespiritual, bem como para a promoção e manutenção da saúde. Também atuamos junto à equipe multiprofissional de forma interdisciplinar para que haja enfrentamento efetivo à doença e adesão ao tratamento”, explicou.

Vínculo

A necessidade de tratamentos, por vezes, longos, pode afetar variados setores da vida do paciente oncológico e de familiares. O psicólogo pode favorecer a compreensão sobre a mudança de rotina, estilo de vida e sobre os tratamentos necessários.

“Realizamos atendimentos individuais na internação, minimizando os efeitos adversos, como sofrimento, perdas, estresse e transtornos emocionais decorrentes do processo de hospitalização, promovendo a autoestima e o bem-estar do paciente e da família. 

Realizamos ainda avaliação psicológica pré e pós-cirúrgica, dando suporte e preparo para realização de cirurgias, procedimentos e exames. Além de disponibilizarmos atendimentos individuais no ambulatório, por meio da psicoterapia breve e focal”, afirmou Rivonilda.

“Com compreensão e empatia, o psicólogo influencia positivamente no enfrentamento da doença, pois o paciente sente-se acolhido em seu sofrimento e angústia. Afinal, muitos vivenciam perdas e diversos sintomas que, além de acarretar prejuízos ao organismo, podem ocasionar a incerteza em relação ao futuro. Logo, quanto mais o paciente estiver com informações sobre a doença, melhor será o enfrentamento”, explicou a psicóloga Paula Anaissi.

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Os psicólogos do Ophir Loyola integram a equipe multidisciplinar da instituição, dando o suporte e apoio emocional aos assistidos. Para Paula Anaissi, a atuação conjunta com profissionais de outras áreas é importante diante da complexidade e variabilidade dos problemas decorrentes do tratamento oncológico, que podem afetar o usuário e a família.

“O envolvimento familiar precede o diagnóstico. Os familiares estão presentes no apoio e na companhia necessária para um bom andamento do processo de minimização do sofrimento psicológico e incapacidade emocional. É inegável que o tratamento como um todo influencia significativamente no cotidiano do paciente, debilitando-o e causando, além de efeitos somáticos, alterações de humor, negação  da  realidade e  desesperança. Mas, são nesses  momentos que mais atuamos, pois os pacientes se sentem desprotegidos e ansiosos por auxílio externo, seja ele pela equipe multidisciplinar ou por familiares”, explicou Paula.

Acompanhamento - Durante o atendimento psicológico são avaliados aspectos emocionais, cognitivos e comportamentais. E nesse processo de autoconhecimento, faz-se necessário o esclarecimento sobre as possíveis intercorrências, assim como a desmistificação de crenças errôneas sobre o adoecimento e as terapêuticas sugeridas pelos médicos.

“Receber o diagnóstico de uma doença como o câncer pode ser extremamente impactante e doloroso para os pacientes e familiares. A psicologia atua visando acolher, orientar e dar suporte emocional, favorecendo a comunicação e interação entre pacientes, família e a equipe de saúde. É fundamental compreender a doença e o tratamento para lidar com questões emocionais oriundas do processo saúde/doença”, explicou Rivonilda.

Conforme o Hospital Ophir Loyola, o primeiro contato com o profissional de psicologia ocorre já no momento em que o paciente chega ao hospital. Após receber o diagnóstico, o usuário é atendido e avaliado no setor de acolhimento, onde recebe a primeira escuta e suporte emocional. Em seguida, este paciente é encaminhado para atendimento junto ao profissional de psicologia responsável pela clínica de sua patologia.

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Estressores

Dores, desconfortos, ansiedade, depressão. O sofrimento emocional, associado ao diagnóstico e tratamento do câncer, pode reduzir a qualidade de vida de usuários e familiares. Problemas que podem afetar a adesão à terapêutica recomendada para a reabilitação. Mas a necessidade de suporte psicológico também surge diante da possibilidade de limitações psicomotoras em pacientes oncológicos neurocirúrgicos, por exemplo. 

Seja pelo comprometimento da autonomia ou da iminência da finitude de vida, a escuta, o apoio e o suporte fazem a diferença no enfrentamento à doença e na reabilitação. “Dentre as principais queixas do paciente oncológico, estão: a angústia diante do diagnóstico; a insegurança em relação ao tratamento e possível prognóstico, o que inclui a perda de sua qualidade de vida e possível finitude de vida. Durante a hospitalização, o paciente nos traz também queixas referentes às dificuldades relacionadas a processos adaptativos gerados pelo momento, como mudanças no ambiente, na alimentação e na rotina como um todo”, explicou Roberta Gondim.

Reconhecimento

Ao proporcionar espaço de escuta, o serviço psicológico busca a redução da angústia e ansiedade dos pacientes e acompanhantes. No mês de maio deste ano, a dona de casa Patrícia Carvalho, de 46 anos, foi diagnosticada com câncer de colo de útero. Para ela, o compartilhar de sentimentos com o profissional da saúde a ajudou a compreender a doença e desmistificar conceitos.

“Quando eu descobri que estava com câncer, foi um baque. Eu chorei muito, fiquei muito abalada. Mas, depois que me consultei com a psicóloga, pude entender melhor o que estava acontecendo e hoje tenho esperança de que serei curada. O câncer foi descoberto logo no início e, apesar de nervosa, sairei vitoriosa. Essa força também me ajuda a passar  a tranquilidade para os meus familiares”, afirmou Patrícia.

“A gente carrega muitos medos sobre o câncer e quando a gente precisa encarar, tudo vem à tona. Escutamos tantas histórias tristes sobre a doença que a gente sempre imagina que o pior vai acontecer. Mas a psicóloga do Ophir me ajudou muito, muito mesmo, porque além da doença, eu estava enfrentando outros problemas antigos. Eu saí de casa por conta de um casamento de 20 anos que não deu mais certo. Depois disso, fiquei desempregada, peguei covid forte e quase morri ainda no início da pandemia. Tudo isso mexeu muito comigo. Mas com o apoio daqui, sei que vou vencer”, desabafou Patrícia Carvalho.

A luta rumo ao êxito completo no tratamento oncológico tem percalços, como o do primeiro impacto do diagnóstico. Contudo, para a psicóloga Roberta Gondim, o acompanhamento oferecido ao paciente e à família contribui para o enfrentamento e para a promoção de qualidade de vida. No caso de pacientes acometidos por câncer de pulmão e que não conseguem largar o cigarro, por exemplo, o acolhimento e a orientação são fundamentais para que haja conscientização e senso de mudança diante do vício.

“O trabalho de psicologia é sempre no sentido da escuta. Em casos de dependência, acolhemos as demandas, trabalhamos as questões no processo terapêutico e, caso necessário, fazemos encaminhamentos para centros de apoio especializados. Os pacientes são acompanhados durante todo o tratamento, enquanto necessitarem desse suporte. Após alta, este paciente só será encaminhado para outro serviço, caso surjam outras demandas pessoais que ainda precisem de escuta e intervenção”, explicou Roberta Gondim.

Pará