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Maternidade atrás das grades: conheça histórias de amor e resistência no cárcere

Apesar dos esforços institucionais, a realidade das mães no sistema prisional ainda é marcada por desafios

Jamille Marques | Especial em O Liberal

Por trás dos muros do sistema prisional, mulheres privadas de liberdade enfrentam os desafios da maternidade com força e esperança. No Centro de Reeducação Feminino (CRF), em Ananindeua, mães custodiadas vivenciam a criação de seus filhos pequenos dentro da unidade, enquanto lidam com a saudade dos que ficaram do lado de fora. Dentro das unidades prisionais, mulheres como Andreza Gonçalves, de 32 anos, vivem a maternidade em condições adversas. Mãe de cinco filhos, ela está há um ano e quatro meses no CRF com o filho mais novo, Bruno Emanuel, de um ano e seis meses. "É uma experiência difícil, mas, também maravilhosa, de poder estar com meu filho desde o começo da amamentação", compartilha Andreza.

A saudade dos filhos que estão fora é constante. "Sinto muita falta deles. Quando saí de licença e os vi, foi difícil voltar para cá", relata. Andreza também relembra a falta que sente da própria mãe, que faleceu quando ela tinha apenas 9 anos. "Antes de ser mãe, eu não gostava desse dia, porque nunca tive essa atenção de mãe. Mas depois que passei a ser mãe, é uma maravilha", diz.

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Cleudiane Moura dos Santos, de 42 anos, está custodiada há 11. Mãe de dois filhos, ela compartilha a dor da separação. "Quando saí de casa, meus filhos eram crianças ainda. Meu caçula tinha 10 anos, o meu filho mais velho tinha 12. E essa ruptura, essa separação, sempre causou muita dor." Apesar das dificuldades, Cleudiane se orgulha das conquistas dos filhos. "O meu filho mais velho é formado engenheiro civil. O meu filho caçula faz educação física pela Uepa e eles moram com a minha mãe."

Dentro do CRF, Cleudiane buscou capacitação. "Me formei em pedagogia pela Universidade Federal do Pará antes do cárcere e dentro da UCRF eu tive a oportunidade de fazer mais uma graduação, letras, na modalidade EAD."

Cleudiane integra a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina e Empreendedora (Coostafe) dentro do UCRF, onde aprendeu novas habilidades. "Hoje eu tenho dentro desse lugar perspectivas de vidas diferentes, porque antes eu imaginava 'vou sair daqui e vou voltar para minha profissão'. Hoje eu tenho um leque maior, as oportunidades para o trabalho para mim hoje são maiores." Ela expressa com carinho o desejo de reencontrar a família. "O que eu queria era só poder dar um abraço nos meus filhos, na minha mãe e dizer para eles que eles são o motivo de eu estar de pé."

Dorotea Soares Lima, Diretora do UCRF, é servidora pública há 30 anos, está há um ano e oito meses na direção do Centro de Reeducação Feminino (CRF). Ela destaca a importância dos projetos voltados para as mães custodiadas. "Toda política voltada para a pessoa privada de liberdade busca justamente fazer com que o ambiente prisional seja menos traumático e que as políticas penitenciárias sejam efetivamente aplicadas."

Dorotea enfatiza a relevância do trabalho e da educação na vida dessas mães. "Aqui no CRF temos as oficinas de corte e costura, onde é produzido parte dos uniformes usados nas unidades penitenciárias. Elas cortam, costuram, fazem a limpeza e embalam esses uniformes." Ela também ressalta a importância da Unidade Materno-Infantil (UMI) para as custodiadas gestantes e com crianças menores. "A UMI é um espaço com estrutura diferenciada em relação ao bloco carcerário. Possui quartos com camas hospitalares, cozinha, banheiro, solário e brinquedoteca."

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