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Maré alta destrói bares e pousadas na praia do Crispim, em Marapanim

Força das água já derrubou 15 bares nos últimos 3 anos

Dilson Pimentel

O cenário lembra um terreno bombardeado. Mas os escombros são de uma pousada e mostram a força da maré que está causando prejuízos a moradores e comerciantes da praia do Crispim, no município de Marapanim, no nordeste do Estado e distante mais de 150 quilômetros de Belém. A força das águas está destruindo residências e estabelecimentos comerciais. Quem mora e trabalha na praia estima que, nos últimos três anos, pelo menos 15 bares e restaurantes foram destruídos pela força das marés. A maré alta mais recente ocorreu há 15 dias e simplesmente acabou com uma rua, a avenida Beira Mar, em cujas margens estão erguidas casas e pousadas. A rua deu lugar ao lixo trazido pelas águas. Uma das mais bonitas do Pará, e com águas banhadas pelo oceano atlântico, a praia do Crispim tem 14 quilômetros de extensão.

Aquela pousada, da qual só restaram os escombros, começou a cair há três anos. E veio abaixo na Sexta-Feira Santa deste ano, com as marés altas de março. Há vídeos mostrando a força das águas. Edson dos Santos, o Edinho, 40, era dono da pousada que caiu. Era dessa atividade que tirava o sustento de sua família há mais de 15 anos. Para poder continuar trabalhando, ele mantém outro estabelecimento comercial, porém não mais na orla da praia. "Para evitar isso aí tem que ter investimentos do poder público", disse Edinho.


Ao lado da pousada que caiu, há um bar e restaurante que, segundo quem conhece o local, também não vai durar muito tempo e pode desabar na próxima maré alta. Nessa faixa de areia, situada logo no começo da praia, há o que os comerciantes chamam de "esqueletos" - ou seja, o que sobrou dos bares e pousadas destruídos pelas marés. "Hoje não temos mais ruas para chegar em nossas casas. A nossa situação está muito crítica", disse Luciano Falcão, de 49 anos. "As casas estão caindo. Bares e restaurantes estão indo para o chão", afirmou ele que, ao lado de outras pessoas, tem se empenhado em chamar a atenção para esse problema e, assim, mobilizar as autoridades competentes.

Na maré mais recente, há 15 dias, a destruição foi mais para o final da praia. E acabou com uma rua, a avenida Beira-Mar, e derrubou uma casa, que era parte de madeira e parte de alvenaria. Valdemir do Socorro Vieira dos Santos, o "Jamaica", tem 57 anos e há oito mora no local. Integrante da Associação Comunitária dos Moradores do Crispim, ele disse que esse problema prejudica o turismo, apesar da beleza da praia atrair muita gente. "A maré vem e afeta a beirada da praia", afirmou. Ele ressalvou, porém, que a força das águas "não está acabando com a praia. A praia continua linda e maravilhosa. Os turistas sempre vem. Mas afeta os moradores da beira, destruindo as casas", afirmou.

Jamaica disse que "a natureza está querendo de volta o que é dela". E afirmou que os moradores e os comerciantes esperam uma solução por parte das autoridades competentes. "Rapaz, na minha visão, não é a prefeitura que vai resolver. Isso aqui é um investimento muito alto, é beira do oceano, a maré vem  violenta. Tem que ter um investimento forte aqui, para fazer um negócio bonito aqui, ter um muro de arrimo", afirmou.

Próxima maré pode causar mais destruição

Segundo ele, o prefeito esteve na praia e conversou com os moradores. "O prefeito teve uma reunião com nós da associação. Ele disse que vai correr atrás desse investimento pra nós. Vieram aqui medir, deu 600 metros aqui na frente para fazer o murro de arrimo para proteção, no caso de emergência. Estamos esperando esses recursos. Vamos ver o que os homens vão fazer aí, pra melhorar pra todo mundo. Aqui tem até pousada com piscina dentro", afirmou, referindo-se à faixa da praia que foi castigada pela força das águas há duas semanas. Jamaica apontou o local onde, antes, era uma rua. "Não tem mais rua. Só ficou o lixo trazido pela maré", contou.

Eles temem que a próxima "maré grande", prevista para o dia 28 deste mês, derrube mais casas ainda. Para tentar conter o avanço das águas, os moradores construíram barreiras com pneus, mas a providência foi em vão. "Essa próxima maré grande pode derrubar muitas casas mesmo. Já derrubou a proteção que tinha aqui na frente. Quando ela (a próxima) vim não vai mais ter proteção. A água vai passar direto. No caso, é prejuízo para o pessoal todinho. Não tem nada seguro aí", afirmou Jamaica.

No dia 30 de outubro, o prefeito de Marapamim, Ronaldo Trindade, esteve em Brasília em audiência com o deputado federal Hélio Leite e a diretora do Departamento de Articulação e Gestão da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, Karine Lopes. O objetivo do encontro foi "solicitar medidas urgentes para investimentos na área da praia de Crispim que, ao longo dos anos, tem sido atingida pela influência da maré, prejudicando os moradores e o turismo local, devido o assoreamento da praia".

O prefeito e o deputado federal mostraram a realidade da comunidade local, a importância da praia para o turismo paraense e providenciaram todo o conteúdo necessário junto aos outros órgãos do governo federal para que as medidas saiam o quanto antes, em caráter emergencial. Ainda segundo o governo municipal, tanto a equipe da prefeitura quanto do gabinete do parlamentar agora "acompanham passo a passo todo o andamento desse processo".

O município de Marapanim é famoso por, segundo a prefeitura, "possuir praias paradisíacas. As mais famosas são Marudá, Camará, Crispim e Sacaiteua. Existem resquícios de povos indígenas na região anteriores a ocupação de religiosos". Ainda segundo o site da prefeitura, a história oficial do município tem início no século XVII, quando os padres jesuítas ali chegaram e fundaram uma fazenda, a qual chamaram de "Bom Intento".

A fazenda, à época da Lei Pombalina, em 1775, foi confiscada dos jesuítas e entregue a particulares. O domínio das terras chegou às mãos do padre José Maria do Valle, que dela separou uma parte, doando-a para criação de uma freguesia. Em 1833, durante a Independência, a então freguesia do Bom Intento ficou sob a jurisdição da Vila de Cintra, hoje município de Maracanã.

Dezessete anos mais tarde, em 1850, já era povoado. Em 1869 foi elevado à categoria de freguesia, sob a proteção de Nossa Senhora da Vitória, continuando, porém, a pertencer a Cintra. A autonomia veio em 1874. Mas sua instalação só ocorreu quatro anos mais tarde, em 1878, com a eleição dos vereadores e juiz de paz.

Sua emancipação municipal durou até dezembro de 1930, quando o município de Marapanim foi extinto, por meio de um decreto, e entregue a Curuçá. Entretanto, menos de um mês depois, o decreto nº 111, de 21 de janeiro de 1931, tornou-se sem efeito a extinção.

Marapanim é uma palavra da língua nheengatu, derivada do tupi-guarani, e significa "borboletinha do mar" ou "borboletinha d’água", nome dado pelos índios da região a um rio que por ali corria, e em cujas margens podia-se ver um grande número de borboletas pequenas.

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