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Julho Verde alerta para casos de câncer de cabeça e pescoço

Doutor em Oncologia destaca dentre os câncer eles são os que mais causam morbidade no paciente

Cleide Magalhães

Durante a pandemia do novo coronavírus o Brasil deixou de fazer 100 mil cirurgias de todos os tipos de câncer no Sistema de Saúde (envolvendo hospitais públicos e privados), segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO). São pessoas que estão com atraso na realização de exames e consultas, que levam ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes.

Segundo o doutor Luis Eduardo Werneck, PhD em Oncologia e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), esse triste legado da covid-19 atinge também os casos de câncer de cabeça e pescoço, que dentre os câncer são os que mais causam morbidade, ou seja, que mais tira a qualidade de vida do paciente.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são cerca de 45 mil casos e 10 mil mortes por ano no País só para os câncer de laringe e cavidade oral. Pelo menos 90% dos casos de câncer de cabeça e pescoço ocorrem na cavidade oral, que inclui boca, amígdalas, língua, base de língua, palato e faringe, que envolve a nasofaringe, laringofaringe e a orofaringe, que são as três sessões da laringe.

Para alertar e informar a sociedade sobre esse problema, a SBCO abraça a campanha mundial Julho Verde, com ações em espaços públicos e nas mídias envolvendo médicos e a população. O vice-presidente da SBCO explica que as razões principais da campanha é devido aumento nos números de casos no mundo.

"Objetivo inicial da campanha é alertar a população para a importância do diagnóstico precoce dos câncer de cabeça e pescoço. Outra razão é informar à sociedade que a doença tem cura completa. Além de informar os fatores de risco e hábitos que devem ser feitos para minimizar as chances de desenvolver os câncer de cabeça e pescoço, porque esse câncer não é contraído, mas desenvolvido", afirma Werneck.

A campanha destaca ainda que o câncer de cabeça e pescoço é o que mais causa morbidade, "porque a cavidade da boca e da cabeça são órgãos mais que nobres, e a pessoa fica sem conseguir comer, engolir, sem produzir saliva, com odor fétido na boca, sem dentição, com condição da doença mais visualmente pior que um tumor interno, já que é mais visível e ataca a sociedade", explica Luis Eduardo Werneck.

Ele frisa que as questões genéticas para esses câncer são praticamente desprezíveis, pois está listada nos trabalhos científicos em menos de 4% dos casos, assim como é para o câncer de mama. E a doença adquirida por hábitos de vida nefastos. "Esses tipos de câncer podem ser evitáveis, se a pessoa ficar atenta aos grandes fatores de risco para os câncer de cabeça e pescoço, que são o fumo, as bebidas alcoólicas fermentadas ou destiladas e a infecção pelo HPV (vírus do papiloma humano). Se evitar isso tudo, as chances de ter a doença é quase zero", enfatiza o doutor.

Segundo ele, no Pará, há dificuldade de acesso aos dados da doença, mas, "sabidamente, os números do Pará são um pouco menores que a média brasileira, porque, no Pará, se fuma menos, se bebe menos proporcionalmente".

Em relação ao HPV, o oncologista observa a importância da vacinação contra e destaca a região Norte do Brasil, onde o Pará está localizado. "O início da atividade sexual das meninas na região Norte do Brasil e em todas as regiões mais pobres do País ainda é precoce. E aí a infecção pelo HPV, que ocorre pelo sexo oral, ocorre muito cedo, principalmente o HPV das cepas 16 e 18, que são os mais agressivos. Aí a importância da vacina para a imunização completa de crianças e adolescentes".

A vacina contra o HPV está disponível no Brasil inteiro, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), para meninas, de 9 a 14 anos, e meninos, de 11 a 14 anos, e protege contra vários tipos de cânceres em mulheres e homens. "Existe uma campanha e determinação do Ministério da Saúde para vacinar, porém, as pessoas ainda não acreditam na vacina por razões que nem sei explicar. A vacina imuniza por completo, é segura, gratuita e deve ser feita", enfatiza o PhD em Oncologia.

 

Pandemia

Na visão o doutor Luis Eduardo Werneck, devido a não realização dos procedimentos nos casos da doença, a pandemia da covid-19 tem causado problema enorme aos pacientes, porque a grande estratégia para o método de tratamento desses tipos de câncer é a cirurgia, radioterapia, quimioterapia e imunoterapia.

"Então, aquele paciente que tinha uma simples lesão na boca, em fevereiro deste ano, vai aparecer no consultório com tumor do tamanho de um ovo na boca. E aí fica muito mais difícil, pois a cirurgia é muito mais mórbida. Assim, por conta da pandemia, que levou ao atraso na realização de exames e consultas, que levam ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço a tendência é termos casos mais graves no segundo semestre deste ano. Vamos perder a janela cirúrgica e o tratamento vai ficar mais caro, menos eficiente e aumentar as chances de morte do paciente", considera o médico.

 

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