Hanseníase: pesquisa descobre resistência a medicação
17 casos foram detectados na Colônia do Prata, junto a pacientes em tratamento rotineiro
Pesquisadores brasileiros de diversas instituições de ensino no Pará e fora do Estado detectaram que existe resistência alta dos pacientes aos medicamentos usados habitualmente no tratamento da hanseníase. Somente este ano, já foram confirmados 1.273 novos casos da doença no Pará, que ocupa o quinto lugar em incidência da doença no Brasil. O País conta com cerca de 28 mil novos casos registrados por ano e ocupa o segundo lugar no ranking mundial de novos pacientes diagnosticados, atrás apenas da Índia.
O estudo foi feito com 3.500 pessoas que vivem na Colônia do Prata, em Igarapé-Açu, nordeste do Pará. Delas, 17 adultos apresentavam resistência a alguma das drogas utilizadas no tratamento rotineiro da doença. A taxa é considerada alta pelos pesquisadores e supera a proporção dos números divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os cientistas afirmam ainda que todos os 17 casos e a comunidade da Colônia do Prata são vigiados. Porém, isso não significa que as pessoas devam entrar em pânico e alertam que é fundamental o Ministério da Saúde estabelecer os protocolos e distribuição de medicamentos para os casos de bactéria multirresistentes.
Marília Brasil Xavier, professora adjunta do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA), que fala em nome do grupo de pesquisadores, explica que os 17 casos foram descobertos após inquérito da pesquisa aplicada de 2009 a 2011. “Fomos de casa em casa cobrindo toda a comunidade, formada por 3,5 mil pessoas, examinando os pacientes e coletando material de lesões processado por uma equipe multidisciplinar e de várias instituições trabalhando o genoma da bactéria. Deles, 17 notificados apresentavam resistência a alguma das drogas utilizadas no tratamento de forma rotineira. Então, embora hoje esses pacientes estejam tratados e sem atividade clínica, fazemos monitoramento para controlar. O principal risco é a disseminação de uma bactéria resistente, bem como ocorreu com a tuberculose. Vamos iniciar novas pesquisas e novos protocolos, e outros casos podem ocorrer”, afirma Xavier, que é pesquisadora-chefe do estudo no Pará.
Ela frisa que a Colônia do Prata é uma área sentinela, logo, um cenário propício para bactérias resistentes da hanseníase. “Por ser uma das antigas colônias usadas no passado como uma forma de segregação dos doentes, é uma área vulnerável. Lá, as famílias são geneticamente mais susceptíveis a adoecer de hanseníase. Além disso, tem o fator ambiental, pois as pessoas viviam com alta carga do bacilo circulante. Então, há pessoas que adoeceram uma, duas ou três vezes, há pacientes mais antigos, com diversos tipos de tratamento, desde o antigo até o mais novo. Assim, são áreas sentinelas para que surja alguma resistência desses bacilos”.
De acordo com a Coordenação Estadual de Controle da Hanseníase da Sespa, na última década, o Pará apresentou redução de 42,3% no número de casos novos, de 4.076 diagnosticados em 2009, para 2.531 em 2018. Em 2019, já foram confirmados 1.273 novos casos. Pelos parâmetros do MS, o Pará ocupa o quinto lugar em incidência da doença, com 29,73 casos por 100 mil habitantes notificados em 2018, ficando atrás do Maranhão, Mato Grosso, Tocantins e Rondônia.
A taxa de cura é de 76,9% e o percentual de abandono de tratamento de apenas 7,3%. No Estado, o diagnóstico e tratamento para a hanseníase estão disponíveis em todas as Unidades Básicas de Saúde, mantidas pelas Secretarias Municipais de Saúde, vinculadas às prefeituras. O esquema terapêutico dispensado ao paciente é todo ambulatorial, ou seja, não necessita de internação. Para casos de média complexidade, pacientes são encaminhados para a Unidade de Referência Especializada Marcello Cândia, em Marituba.