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Genes de povos amazônicos pode ajudar a combater a Doença de Chagas, aponta pesquisa

Pará teve mais de 2,6 mil casos da doença em 12 anos

Camila Guimarães

Endêmica em 21 países das Américas, a Doença de Chagas já fez 2.632 infectados no Pará entre os anos de 2010 e 2022. O dado é a soma do contabilizado pelo Ministério da Saúde (MS), até 2020, mais os casos registrados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) em 2021 e 2022. Ainda segundo o MS, maior parte das infecções ocorrem no Norte, contudo, um estudo da Universidade de São Paulo (USP) aponta que povos amazônidas sofrem menos com a doença e isto se deve a uma característica genética dessa população.

O estudo desenvolvido há cerca de quatro anos no Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP avaliou o genoma de 118 pessoas, que fazem parte de 19 populações nativas diferentes espalhadas pela Amazônia. Essas informações genéticas foram comparadas com as de outros povos das Américas e da Ásia, chegando à conclusão de que as populações nativas da maior floresta tropical do mundo apresentam variações em três genes específicos – o que os torna mais resistentes a Chagas.

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Uma das autoras do projeto, a geneticista Tábita Hünemeier, explica que as populações que habitam a região há milênios passaram por adaptações no DNA que permitem "barrar" a infecção do protozoário causador da Doença de Chagas, o Trypanosoma cruzi, o ‘barbeiro’:

“O que encontramos é que os indígenas dessa região – como os Suruí, Karitiana, Xavante, Parakanã, Zoro e Gavião, por exemplo – possuem um perfil genético distinto, com variantes genéticas em alta frequência que aumentam a proteção contra a infecção. Basicamente, nos indivíduos que têm essa variante, o parasita da doença de Chagas tem mais dificuldade de entrar nas células e provocar a doença”.

Tábita detalha que essa adaptação de DNA é um fenômeno observável em outras regiões do mundo, um processo de seleção natural, que faz com os indivíduos melhor adaptados ao meio sobrevivam e passem essas características para outras gerações. Porém, a descoberta dessa peculiaridade em povos amazônidas tem um diferencial:

“No caso do nosso trabalho, identificamos pela primeira vez um evento de seleção natural guiada por um patógeno entre seres humanos”, destaca. No mundo, o fenômeno só foi observado em outras quatro circunstâncias. A mais famosa delas envolve a resistência à malária entre algumas populações africanas.

 

Novos tratamentos no futuro

Além disso, a descoberta da pesquisa abre portas para novas formas de lidar com a doença, na prática. Uma das principais características da Doença de Chagas é que ela pode permanecer silenciosa por muito tempo, só apresentando sintomas na fase crônica. Agora cientes sobre a existência desse gene capaz de ‘barrar a infecção’, pesquisadores têm a oportunidade de ampliar formas de combate à doença:

“Sim, uma possibilidade seria o desenvolvimento de medicamentos, pois conhecendo melhor os mecanismos responsáveis pela infecção, é possível desenvolver drogas que atuem junto a estes mecanismos, por exemplo”, garante a pesquisadora.
Sobre a Doença de Chagas

 

Mais sobre Chagas

No Pará, de janeiro até 31 de março deste ano, já foram registrados 75 casos de Doença de Chagas e apenas uma morte, conforme dados da Sespa. Informações da Fiocruz explica que a doença é uma infecção parasitária, que ocorre a partir do contato com fezes do ‘barbeiro’ depositadas sobre a pele da pessoa, enquanto o inseto suga o sangue.

Outros mecanismos de transmissão são a transfusão de sangue do doador portador da doença, a transmissão vertical via placenta (mãe para filho), acidentes em laboratórios e a ingestão de alimentos contaminados. Na região amazônica, o açaí contaminado com fezes do ‘barbeiro’ é um dos principais riscos.

Sobre isso, a Sespa afirma que promove a prevenção, por meio de treinamento de batedores de açaí e executa ações educativas para identificação, captura e análise de insetos, principalmente, nos municípios de maior incidência

Clinicamente, a doença se manifesta de forma aguda ou crônica. No primeiro caso, os principais sintomas são febre que dura mais de sete dias, dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas. Quando não tratada, pode evoluir para a fase crônica, onde pode apresentar complicações como problemas cardíacos (insuficiência, por exemplo) e problemas digestivos (como megacolon e megaesôfago).


O período de incubação da Doença de Chagas
(Tempo que os sintomas começam a aparecer a partir da infecção)

  • Transmissão pelo vetor (barbeiro) – de 4 a 15 dias.
  • Transmissão transfusional/transplante – de 30 a 40 dias ou mais.
  • Transmissão oral – de 3 a 22 dias.
  • Transmissão acidental – até, aproximadamente, 20 dias.

Outros fatores de risco que sugerem investigação além dos sintomas

  • Ter residido, ou residir, em área com relato de presença do ‘barbeiro’ ou em locais com reservatórios animais (silvestres ou domésticos) com registro de infecção por T. cruzi;
  • Ter residido ou residir em habitação onde possa ter ocorrido o convívio com vetor transmissor (principalmente casas de estuque, taipa, sapê, pau-a-pique, madeira, entre outros modos de construção que permitam a colonização pelo inseto);
  • Ter realizado transfusão de sangue ou hemocomponentes antes de 1992;
  • Ter familiares ou pessoas do convívio habitual ou rede social que tenham diagnóstico de doença de Chagas, em especial ser filho(a) de mãe com infecção comprovada por T. cruzi.

*Atenção especial deve ser dada a gestantes com os fatores de risco acima, devendo ser realizado o exame para doença de Chagas durante o pré-natal.

Fontes: Ministério da Saúde, Fiocruz

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Pará
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