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Estudo da UFPA pode ajudar a desenvolver novos tratamentos para doenças infecciosas

A pesquisa também sugere algumas possibilidades de estratégia terapêutica na hanseníase, prevendo diminuir ou atenuar o grau de deterioração neural

João Thiago Dias / Com informações da UFPA

Um estudo inédito no mundo, que conta com a assinatura de pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), abre possibilidades para a elaboração de novos tratamentos para doenças infecciosas, incluindo a hanseníase. A pesquisa também sugere algumas possibilidades de estratégia terapêutica na hanseníase, prevendo diminuir ou atenuar o grau de deterioração neural, que poderá ser pauta para pesquisas futuras na tentativa de melhorar a função sensitiva e motora dos pacientes.

Trata-se do estudo "Leprosy piRnome: exploring new possibilities for an old disease”, desenvolvido pelo Laboratório de Dermato-Imunologia e Laboratório de Genética Humana e Médica da UFPA, em associação com o Departamento de Microbiologia, Imunologia e Patologia da Colorado State University (EUA).

São 13 pesquisadores, sendo 12 brasileiros, que conseguiram sequenciar todos os pequenos RNAs (ácido ribonucleico), ou piRNAs, como são chamados na pele humana. Eles descobriram que, no caso de pacientes com hanseníase, os piRNAs aparecem de forma muito reduzida na pele.

O que são piRNAs

Os piRNAs são moléculas de RNA (ácido ribonucleico) não codificantes, que protegem e regulam informações do DNA (ácido desoxirribonucleico) humano modulando, entre outras coisas, a formação de proteínas, que são responsáveis por inúmeras funções vitais em todos os seres vivos. O estudo identificou os piRNAs na pele humana e os piRNAs mais importantes na pele de pacientes de hanseníase.

Essas moléculas ficam na parte conhecida como não codificante do genoma humano. “Achava-se que só uma parte do genoma era funcional ou codificante. O restante não tinha função. Aí descobriram que os pequenos RNAs se originam exatamente na parte não codificante”, explica o dermatologista e hansenologista Claudio Salgado, doutor em Imunologia da Pele pela Universidade de Tóquio.

Os experimentos

Experimentos de laboratório mostram que nervos danificados (por trauma mecânico ou por processo infeccioso) não conseguem se regenerar em ambiente com grandes quantidades dessas moléculas (piRNAs).

Em pele de pacientes de hanseníase, em que os piRNAs estão baixos, os genes responsáveis pela regeneração neural também não estão sendo expressos - pesquisadores acreditam que, no futuro, podem fazer experimentos para ativar esses genes.

Uma vez ativados, pode ser que os piRNAs sejam ativados também para controlar a expressão dos genes. Uma hipótese é que a ciência terá que, além de ativar os genes, modular a expressão dos piRNAs, que, já se sabe, em grande quantidade, bloqueiam a regeneração neural.

Como a hanseníase afeta os nervos provocando diminuição e perda de sensibilidade na pele, os genes responsáveis pelas informações das proteínas do organismo, os quais poderiam atuar na regeneração dos nervos acometidos pela hanseníase, não estão ativos ou podem estar sendo bloqueados. Neste caso, como não há expressão desses genes, os piRNAs também não se expressam. Salgado explica que há um mecanismo de compensação.

“O processo de regeneração neural é bastante complexo e deve ser estritamente regulado. Sempre tem de haver um controle. Uma das possibilidades é a ativação de piRNAs para regular a expressão de genes. Os piRNAs em baixas quantidades podem indicar ausência de regeneração neural nos pacientes de hanseníase, provavelmente porque os genes envolvidos na regeneração dos nervos também não estão sendo ativados”, ressaltou Salgado, que é pesquisador na UFPA e presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH).

Vários debates

A geneticista e professora da UFPA Ândrea Ribeiro dos Santos, doutora em Genética pela Universidade de São Paulo (FMRP-USP), com expertise nos mecanismos regulatórios envolvidos nos processos de adoecimento, ressalta que o papel dos piRNAs em doenças infectoparasitárias ainda é tema de vários debates.

“Seriam essas moléculas parte da causa para o desenvolvimento da hanseníase, ou sua consequência ao modificar o microambiente na pele? O fato é que piRNAs, como uma fotografia do momento da doença, podem ser estudados como prováveis biomarcadores [moléculas capazes de indicar o curso de uma enfermidade] para o melhor entendimento de debilidades neurológicas e consequentes sequelas sensitivas e motoras que ocorrem na hanseníase, afetando a qualidade de vida dos indivíduos acometidos pela doença, com o surgimento de incapacidades físicas visíveis”, explicou.

Assinam o artigo Claudio Salgado, Pablo Pinto, Moisés Batista da Silva, Fabiano Cordeiro Moreira, Raquel Carvalho Bouth, Angélica Rita Gobbo, Tatiana Vinasco Sandoval, André Mauricio Ribeiro-dos-Santos, Amanda Ferreira Vidal, Josafá Gonçalvez Barreto, Sidney Santos, John Stewart Spencer e Ândrea Ribeiro-dos-Santos.

Pará