MENU

BUSCA

Círio 2022: Esperança é renovada em visita da imagem peregrina de Nazaré a oito unidades prisionais

Após dois anos suspensa, visita voltou a ocorrer em unidades penais de Belém, Ananindeua e Marituba

Natália Mello

A falta do convívio em sociedade pode, muitas vezes, afastar o corpo de dentro dos templos construídos para a adoração a Deus ou santos famosos por seus milagres na igreja católica. Mas, no Círio, um dos padrões quebrados é o de que o devoto vai até as igrejas em busca de alimentar sua fé. E, graças à programação pela festividade mariana, quando acontece exatamente o inverso, a imagem peregrina sai de sua casa e vai em direção aos fiéis, que essa fé vai em busca de alcançar àqueles privados de liberdade, dentro das unidades prisionais.

De acordo com a diretora de Assistência Biopsicossocial da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), Régia Sarmento, dentre todas as assistências que o órgão garante ao custodiado e a custodiada, uma delas é religiosa. Então semanalmente as instituições religiosas fazem a evangelização no cárcere. Para ela, as atividades religiosas, assim como a família, a educação e o trabalho, são de extrema importância para o processo de reintegração social da pessoa presa.

“Especificamente a aproximação da crença religiosa, é fundamental para manter a essência humana dentro do cárcere. As atividades religiosas produzem, a cada momento de reflexão, de fé, a crença em uma mudança de vida. A visita da imagem peregrina de Nossa Senhora é muito esperada por todos, é um momento de extrema emoção, devoção e de muita fé. Fé que renova esperanças”, afirma Régia.

A escolha das unidades que recebem a imagem da Nossa Senhora é feita pela Pastoral Carcerária, que fazem o cronograma e repassam para a Seap. Após dois anos sem a atividade, devido à pandemia da Covid-19, as unidades escolhidas esse ano foram o Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), a Central de Triagem Masculina (CTM2), o Centro de Recuperação Feminino de Ananindeua, o Centro de Recuperação de Condenados de Icoaraci (CRCI), a Central de Triagem da Cremação (CTC), e os Presídios Estaduais de Marituba, PEM1, PEM2 e PEM3. As visitas, que chegaram até 2.611 custodiados, fazem parte do calendário oficial do Círio, percorrendo as unidades penais de Belém, Ananindeua e Marituba.

Durante a visita, a imagem é levada até a entrada das celas, onde os presos podem fazer seus pedidos, orações e até mesmo tocar na imagem. A visita é conduzida pelos diáconos e guardas de Nossa Senhora de Nazaré. “Jesus está sempre amando e mãe está intercedendo junto a ele. É Nossa Senhora que intercede e é mãe, e toda mãe toca no coração do filho”, disse o diácono José Maria Borges, da Pastoral Carcerária. Ele revela que as visitas têm como pano de fundo a intenção de despertar o interno à conversão e que, mesmo na condição de privação de liberdade, os internos têm, dessa forma, a oportunidade de celebrar a maior festa cristã, que é o Círio.

O interno W., de 38 anos, do Centro de Recuperação do Coqueiro, durante a celebração cantou o tradicional Hino do Círio, “Vós sóis o Lírio Mimoso”, enquanto a imagem passava entre os internos, levada pelas mãos do diácono. O custodiado considerou aquele momento de reflexão, para além dos dogmas disseminados pela igreja católica. Mesmo afastado da sociedade, o custodiado acompanha as informações que chegam sobre o Círio e lembra que o Círio de Nazaré não é apenas dos católicos.

“Virou um patrimônio cultural e imaterial do Pará e do Brasil”, diz. “É o momento em que Nossa Senhora vem trazer um conforto, uma palavra, neste momento em que estamos, difícil, de internos, mas Deus não se esquece da gente, porque ele tem a mãe, e a mãe não esquece dos seus filhos, e ela intercede por nós junto ao Nosso Senhor Jesus Cristo”, declarou o interno.

Pará