MENU

BUSCA

Emoção, tensão e música: os bastidores das UTIs do Pará na luta contra a covid-19

Profissionais de saúde e pacientes de três UTIs de tratamento da covid-19 em Belém contam parte da rotina do momento mais grave da pandemia no País

Eduardo Laviano e Tarso Sarraf

Desde que a segunda onda de covid-19 chegou ao Pará, no início de 2021, profissionais da saúde relatam um ritmo de trabalho mais intenso se comparado ao ambiente dos hospitais quando a lotação hospitalar estava bem mais baixa, como no final de 2020. Mesmo diante do cotidiano difícil, muitos trabalhadores estão buscando estimular o ânimo e o a busca de uma melhoria com os cuidados com o astral - e a saúde emcional - nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) voltadas a quadros agravados pelo coronavírus na capital.

A coordenadora de enfermagem da UTI do hospital, Priscila Viana, acredita que ações como essa podem fortalecer a humanização do atendimento, que ela avalia como uma aliada necessária no combate da pandemia já que os profissionais da saúde estão há mais um ano sem descansar do combate ao vírus.

"É uma iniciativa de criar momentos positivos juntos, com bondade e conforto, deixando as famílias mais seguras do nosso trabalho. Esse momento de pandemia deixa as famílias e pacientes aflitos, mas esse retorno que damos mostra que eles estão sendo cuidados com muito respeito. Várias famílias puderam presenciar por videochamada os momentos de oração", diz.

Paulo Charchar, de 52 anos, estava só agradecimentos com a alta: para o atendimento, para os médicos e para a família. Foram 12 dias de internação, o que motivou ele a avaliar a recuperação como um milagre.

"É uma doença traiçoeira na qual é muito difícil prever alguma coisa. 21 dias atrás tive uma gripe com um pouco de febre e olha onde vim parar. Graças a Deus eu consegui ficar bem. Segurem mais um pouco, pois a vacina está chegando. Vamos esperar", aconselha.

"É criar momentos positivos juntos, com bondade e conforto, deixando as famílias mais seguras. Esse momento de pandemia deixa as famílias e pacientes aflitos", justifica Priscila Viana, coordenadora de Enfermagem

'São como anjos da guarda'


O hospital Abelardo Santos, em Belém, foi o braço forte da rede estadual de saúde contra a covid-19 do início da pandemia até julho de 2020, quando parou de atender exclusivamente casos de coronavírus. O agravamento da pandemia em 2021 fez a unidade receber novamente esses pacientes. 

A fisioterapeuta Samara Cunha conta como funciona a técnica da ventilação mecânica não invasiva, que é o tratamento recomendado para quem está no início da infecção, acometido de maneira não tão grave. 

"Adaptamos com a melhor máscara e começamos com pressões mais baixas no inicio. A máscara serve para dar uma pressão e melhorar a oxigenação. O paciente que já chega em um estado grave geralmente não se beneficia dessa máscara e tende ir direto para a intubação", mostra ela.

Samara lembra que, na primeira onda da doença, ficava na "sala vermelha" onde eram recebidos diversos pacientes por dia, desde os que possuíam sintomas leves até os casos gravíssimos, na época quando o hospital funcionava no esquema de 'porta aberta'. 

"Hoje o hospital só recebe os pacientes em caráter regular, o que o deixou bem mais tranquilo. Mas em comparação com a primeira onda, vemos pacientes bem mais jovens com quadros mais graves dessa vez", lamenta a fisioterapeuta.

"Hoje o hospital Abelardo Santos só recebe os pacientes em caráter regular, o que o deixou bem mais tranquilo. Mas em comparação com a primeira onda, vemos pacientes bem mais jovens com quadros mais graves dessa vez", diz a fisioterapeuta Samara Cunha

Um dos pacientes mais jovens era Elielson Batista. O educador físico de 47 anos ficou 14 dias internado após chegar ao hospital com uma saturação por volta de 79% e 75% do pulmão comprometido. Ele conta que a atenção dos profissionais é 24 horas por dia e que eles fica perguntando a cada 15 minutos se está tudo bem.

"São como anjos da guarda.  A gente acha que é o Super Homem e nunca vai pegar e que é só uma dorzinha, uma falta de ar. Devido a minha desobediência e não vigilância, fui contaminado. Sou alguém da área da saúde que deveria ser um exemplo e não fui, pois às vezes me descuidava", desabafa.

"Eles são como anjos da guarda.  A gente acha que é o Super Homem e nunca vai pegar. Que é só uma dorzinha, uma falta de ar. Sou da área da saúde. Deveria ser um exemplo e não fui, pois às vezes me descuidava",  Elielson Batista, educador físico

Muito agradecido pelo tratamento que recebeu no Abelardo Santos, ele fez um pedido para as pessoas que ainda não foram infectadas pelo sars-cov2. 

"Cuide da sua família porque dinheiro não é tudo. O comércio vai se reerguer, mas por agora fiquem em casa e façam o que puder para se proteger. pois eu saí para levar dinheiro para casa e prejudiquei tanto a mim quanto a minha família".

 

Para a enfermeira, não há felicidade maior que, apesar da tristeza de perder tantas vidas, saber que um paciente foi salvo e está voltando para os braços da família, depois de muito trabalho e dedicação pela saúde do próximo

"A gente vê muito paciente sendo extubado, o que é sempre um momento lindo que a gente chora e ao mesmo tempo sorri, pois é o sinal de que a pessoa está voltando saudável para casa. Vimos famílias sendo destruídas.  Quando a gente ama alguém, a gente cuida. Se temos amor pela nossa família, não vamos ficar sem máscaras e evitar ir para a rua ou pisar em festas. Vamos nos cuidar". 

Na frente do Hangar, uma vez por semana a pastora Selma reúne vários amigos para orar pela vida dos pacientes do hospital de campanha. Ela roga por dias melhores e tem certeza que todo esse sofrimento é passageiro.

"Já vi muitas pessoas saindo desse lugar vitoriosas assim como vi muitas famílias não levar o ente querido para casa. A palavra certa hoje é fé. A fé é o nosso firme fundamento das coisas que eu não vejo mas eu espero", afirma ela sobre a cura dos desconhecidos, pelos quais ela ora, em um ato de fraternidade, desde o início da pandemia.

"Já vi muitas pessoas saindo desse lugar vitoriosas assim como vi muitas famílias não levar o ente querido para casa. A palavra certa hoje é fé. A fé é o nosso firme fundamento das coisas que eu não vejo mas eu espero", diz a pastora Selma, que uma vez por semana ora na frente do Hangar

Pará