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'As Barcarenas': histórias em comum entre Pará e Portugal

Tribos indígenas, colonização portuguesa, padres jesuítas, civilização islâmica na Península Ibérica, iluminismo e Marquês de Pombal. Pode parecer meio maluco, mas tudo isso forma um fio condutor ligado à origem da Barcarena paraense

Igor Wilson

Tribos indígenas, colonização portuguesa, padres jesuítas, civilização islâmica na Península Ibérica, iluminismo e Marquês de Pombal. Pode parecer meio maluco, mas tudo isso forma um fio condutor ligado à origem da Barcarena paraense (sim, existe uma outra em Portugal, muito mais antiga). Esqueça tudo que você ouviu sobre uma barca chamada ‘Arena’, que supostamente teria dado nome ao município. A história a seguir é baseada em conhecimento à luz da história, reproduzido pelo trabalho incansável do professor da rede de ensino municipal e estadual em Barcarena, Luiz Antônio Valente Guimarães.

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“Barcarena nasceu das aldeias dos indígenas Gibirie, que viviam onde hoje é a região mais central da cidade, e os Mortigura, que ficavam onde hoje é a Vila do Conde. Quando os padres jesuítas se instalaram em mortigura em 1653 e entre os Gibirie em 1709, fizeram desses lugares missões religiosas. Esses lugares foram até meados do século XVIII local de catequese dos indígenas, até que Marquês de Pombal resolveu colocar em prática a política de expulsão dos padres jesuítas do Brasil e consequentemente da região que viria a se chamar Barcarena”, explica o professor Luiz Antônio.

Pombal expulsou e renomeou geral

Os motivos da perseguição dos Jesuítas pela Igreja Católica Apostólica Romana são controversos. Antes importantes aliados, os padres da Companhia de Jesus passaram a ser considerados inimigos do cristianismo a partir de 1700. A Coroa Portuguesa os considerou um atraso por se basearem na “fé em oposição a ciência proposta pelo iluminismo”, e também por serem um estado contra o estado português.

“Com a perseguição aos jesuítas, o projeto pombalino visava ‘civilizar’ o povo e os lugares que traziam nomes religiosos ou indígenas, para nomes modernos e é claro, civilizados, que seriam de origem portuguesa. Os naturais daqui tiveram seus nomes mudados para se chamarem Joaquins, manoeis, e tantos nomes portugueses. Assim como foram os indivíduos, os lugares também tiveram seus nomes alterados. A missão dos gibirie e mortigura passaram a se chamar, respectivamente, Barcarena e Vila de Conde (cidade da região norte de Portugal), após determinação de Pombal em 1758”, diz Luiz Antônio.

Origem do nome Barcarena

Para chegarmos a origem do nome Barcarena, precisamos voltar bastante no tempo, precisamente entre os séculos XIII e XI. Durante estas centenas de anos, sociedades de árabes e cristãos conviviam na Península Ibérica. Se é certo que os dois impérios travavam uma guerra pelo controle da importante região, também é verdade que muitos islâmicos, cristãos e judeus conviviam em certa harmonia, afinal de contas, moravam no mesmo local.

Durante boa parte da ocupação de povos árabes em Portugal, o império islâmico dominou principalmente as regiões centro e sul do país luso, renomeando muitos locais, porém preservando a sonoridade original. Durante o processo de domínio árabe, a área portuguesa conhecida como ‘Torcena’, foi rebatizada como ‘Barcarena’, que significa ‘Terra da Nossa Habitação (Barr - Terra , Car- Habitação e Na - nós). O professor paraense, que também é pesquisador da UFPA, cita um livro chamado ‘Vestígios da Língua Árabe em Portugal’, onde é possível encontrar uma série de verbetes deixados pelos povos islâmicos, entre os quais Barcarena.

“O surgimento de Portugal ocorreu num processo chamado ‘Reconquista’, que foi uma campanha de católicos contra as populações islâmicas que estavam na península ibérica. A história diz que os espanhóis e os portugueses venceram os mouros e reconquistaram seus territórios. Mas, mesmo expulsando os muçulmanos desta região, eles acabaram deixando sua cultura na península ibérica. Arquitetura, religião, costumes e muitas denominação de lugares e objetos, como o que hoje é a Freguesia de Barcarena”, diz Luiz Antônio.

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