MENU

BUSCA

Dom Carlos Verzeletti: Vida a serviço do Evangelho

Bispo tem 26 anos de nomeação episcopal e, em janeiro do ano que vem, completa 40 anos de chegada ao Brasil

Patrícia Baía

Aos 72 anos, Dom Carlos Verzeletti, esbanja simpatia, alegria e muita vontade de levar o evangelho a todos que ainda não conhecem a Jesus. O bispo de Castanhal completou, em julho, 26 anos de nomeação episcopal. 

“Eu devo muito a todos. Um bispo não pode ser bispo sozinho. É importante estar em comunhão com os padres e todos o presbitério porque eles são o braço direito do bispo”

E foi com muito carinho que ele contou ao Liberal como foi sua trajetória até chegar em 27 de fevereiro de 2005, a Arquidiocese de Castanhal, que abrange toda a região nordeste do estado e é formada por 37 paróquias, 50 padres e 1221 comunidades. 

“Há 26 anos eu recebi essa notícia e fiquei assustado. Foi quando fui nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese de Belém e quem me confortou naquelas horas e também me animou a dar o meu sim foi o bispo de Bragança (naquela época), Dom Miguel Maria Jambeli, mas também Dom Vicente Zico que disse: diga o teu sim”, relembrou Dom Carlos.

Dom Vicente Zico, já falecido, foi arcebispo de Belém e dom Carlos conviveu com ele por oito anos. “Aprendi com Dom Vicente a ser bispo, no tempo que passei com ele em Belém. Eu me espelhei nele. Viver em comunhão com Dom Vicente contribuiu para o meu crescimento e formação episcopal. Foram oito anos de convivência e depois foi criada a arquidiocese de Castanhal e fui nomeado e já estou há 17 anos aqui em Castanhal”, contou o bispo.

Dom Carlos percebeu o chamado de Deus para uma vida sacerdotal quando era adolescente, lá na Itália, na cidade de Trenzano, onde nasceu. Entrou para o seminário aos 13 anos de idade. “Eu tive a graça de ter nascido em uma família muito cristã, com mãe e pai santos e desde pequenino respirava a presença de Deus. E na minha adolescência comecei a perceber um chamado interior para uma entrega total de mim mesmo”, relembrou o bispo.

Verzeletti foi ordenado padre com 26 anos, na cidade de Brecha, na Itália, onde trabalhou por seis anos com jovens e famílias. “Desde o seminário eu sentia a vocação para a missão. E sempre falava ao bispo que quando ele quisesse poderia me enviar para missão e seis anos depois ele disse que estava precisando de alguns padres para o Brasil e em janeiro de 83 cheguei em Bragança”, contou.

Chegou ao Pará, tomou açaí e ficou 

O então jovem padre não conhecia nada sobre Brasil, somente o que lia nos livros. “Mas os livros são bem diferentes da realidade. Fiquei impactado com a acolhida do povo paraense. E eu dizia a mim mesmo: tenho que me fazer um deles. Aprendi a falar o português não na escola, mas com os caboclos”, contou Dom Carlos.

E para se tornar uma paraense tem que gostar de açaí. E não é que foi o primeiro alimento brasileiro que experimentou, no dia 28 de janeiro de 1983. “Cheguei às 5h da manhã, no aeroporto de Belém e o Dom Miguel Jambeli me disse: vamos até a Basílica tomar um cafezinho e depois partimos para Bragança. E chegamos lá no refeitório dos padres barnabitas e no lugar do café ele disse toma esse aqui e derramou em uma tigela uma coisa que eu pensava ser chocolate e era açaí as 6h da manhã e eu não tinha tomado nem um copo de água. A primeira coisa que eu coloquei na boca quando desci do avião. E eu ia colocando a primeira colher e a segunda e pensava meu Deus do céu isso me lembra o cheiro do capim cortado e quando ele viu que eu não conseguia tomar ele disse para colocar açúcar e foi pior. Prometi a mim mesmo que nunca mais iria tomar açaí”, relembrou.

Porém 15 dias depois, já no interior de Bragança. “E lá me chega essa bendita tigela de açaí e eu pensava: tenho que me fazer um deles e vou fazer um esforço. Tomei a tigela de um gole só. E as pessoas que serviram o açaí começam a aplaudir e disseram: olha o padre tá gostando de açaí e derramaram mais. Depois disso tomar açaí se tornou a coisa mais normal do mundo. E como dizem que quem tomou açaí ficou. Eu tomei estou aqui”, disse o bispo.

Em janeiro Dom Carlos completa 40 anos de Brasil. Ele acredita que a fé do povo e espontaneidade do povo fizeram com que ele não se sentisse um estrangeiro. “O povo alimenta a minha caminhada”, comentou.

Instrumento de Deus 

“Sou um instrumento de Deus. Humilde e muito pequenino e percebo que Deus continua me chamando, enviando e me dando tantas oportunidades. Meu chamado vem antes da eternidade porque nós estamos no pensamento de Deus desde sempre”, disse Dom Carlos.

Segundo a carta apostólica do Papa Francisco, quando um bispo titular completar 75 anos deve apresentar carta de renúncia, sendo que esta não perderá a validade se não for respondida em três meses, devendo antes aguardar resposta do pontífice.

Faltam três anos para que esse momento chegue a Dom Carlos. “De vez em quando eu penso nisso. Mas só sei que não posso deixar de trabalhar até o último instante. E vou deixar para depois o que vou fazer quando esse dia chega. Nós temos que olhar para a nossa meta final que é o dia de encontrar com o Senhor”, contou.

VEJA MAIS

O bispo destaca também o trabalho realizado na área da educação. “A diocese tem quatro escolas conveniadas. Três são do ensino fundamental nas áreas mais pobres e uma escola técnica profissionalizante, a Escola das Artes São Lucas, que é um investimento na cultura. O evangelho passa pela cultura”, explicou Dom Carlos,

A arquidiocese acaba de iniciar uma outra grande obra que é a construção de um hospital, na BR- 316, na vila do Apeú e que irá se chamar ABA (Associação Beneficente Bem Acompanhar), mas Aba também é Pai em aramaico. “ Este grande hospital será voltado para os doentes que são despachados pelos outros hospitais. Quando dizem que não há mais nada a fazer e é aí que ainda tem muito a fazer. Acompanhar e acolher os pacientes e suas famílias”, finalizou Dom Carlos.

 

 

 

Pará