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Doenças que ocorrem no mundo se comportam diferente na Amazônia

Assunto foi abordado em curso no Congresso de Infectologia

Cleide Magalhães

Febre tifoide, hepatites, lagoquilascaríase, equinococose policística neotropical, raiva e toxoplasmose são algumas doenças ocasionadas por vírus, bactérias, helmintos e protozoário que se comportam diferente na Amazônia, mas também ocorrem em outros lugares do Brasil e do mundo. Essas doenças foram abordadas no curso sobre Medicina Tropical com Enfoque Amazônico nesta terça-feira (10), que faz parte do XXI Congresso Brasileiro de Infectologia.

Segundo Cléa Bichara, infectologista paraense, que falou sobre a toxoplasmose e o comportamento da doença na Amazônia, cerca de 80% da população já teve contato com o protozoário Toxoplasma gondii, agente causador da toxoplasmose, doença transmitida somente pelas fezes do gato.

"De modo geral, a toxoplasmose é uma doença extremamente benigna, tem distribuição mundial, mas as características do macro ambiente amazônico também favorecem a sobrevivência do toxoplasma e maior contato. Mas existe uma coisa de genética e epigenética de que o toxoplasma circula no mundo há mais de dez mil anos e quando chega na América do Sul se reorganiza de forma diferente. Por isso que na América do Sul os casos são mais graves que na Europa e nos Estados Unidos. E dentro do Brasil quanto mais se sobe maior é a prevalência das questões ambientais. Assim, 80% da população têm anticorpos e já teve contato alguma vez na vida com o toxoplasma. Então, somos diferentes e temos as formas mais graves", afirma a infectologista.

Outra doença é a febre tifoide, que está praticamente sob controle no Brasil, mas a região Norte ainda conta com maiores números de casos. No Pará, os casos confirmados da doença em 2017 somaram 72 confirmações. No ano seguinte, 56. Entre 01 de janeiro e 04 deste ano foram confirmados 28 casos da doença em todo o Estado, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa). O assunto foi bordado pela infectologista paraense Irna Carneiro.

Do mesmo modo, as hepatites virais, que existe no mundo, mas a Amazônia tem particularidade, sobretudo a hepatite B, que vem melhorando muito nos últimos 30 anos por conta da vacina, conforme destacou a infectologista do Pará Esther Miranda.  

Teve também abordagem sobre a lagoquilascaríase, que é uma zoonose incomum decorrente do parasitismo por Lagochilascaris minor. Na Região Amazônica, o primeiro caso foi descrito em 1978, mas não é uma doença exclusiva na Amazônia. Todavia, os casos mundiais estejam concentrados na região. "Temos que estar alertas para os casos, porque muitos são diagnosticados fora da Amazônia de pessoas que foram residentes aqui", frisou Cléa Bichara.

A lagoquilascaríase foi explanada pelo infectologista paraense Raimundo Leão. A doença, apesar de tantos anos, não tem tratamento efetivo, não tem mecanismo de transmissão definido, e acomete pessoas que geralmente moram em áreas remotas e de floresta: índios, lavradores. No Pará, prevalece a região do "Bico do Papagaio", no sudeste do Estado.

"Ainda não temos explicação do porquê de dentro do mundo a alta concentração de lagoquilascaríase está na Amazônia. Há casos também no Centro Oeste e outros estados do Brasil", disse Bichara. Sobre esse assunto uma das maiores experiências no mundo é o doutor Raimundo Leão, que fará lançamento de um livro sobre o tema nos próximos dias.

Outra doença que não é exclusiva da Amazônia é a equinococose policística neotropical. Ela acontece muito na América do Sul, mas dentro da Amazônia tem alta concentração na ilha do Marajó. Está relacionada ao hábito de comer carnes, sobretudo não bem cozidas. O tema foi destacado pelo infectologista também paraense Manoel Soares. Além disso, o curso destacou a raiva, tema que ganhou ampla repercussão com casos no Estado, com a infectologista paraense Rita Medeiros.

Para a infectologista Cléa Bichara, que é uma das colaboradoras da direção da Sociedade Paraense de Infectologia, as políticas públicas são fundamentais para criar barreiras de proteção à garantia da qualidade de vida das pessoas, já que os vírus, bactérias, protozoários e outros são seres vivos e estão nos ambientes.

"Temos uma visão de dizer que as doenças são das águas, dos ares e dos lugares. Então são seres vivos que vivem nos seus ambientes também. Mas vamos ter mais ou menos contato de acordo com a qualidade de vida, com o saneamento básico, com medidas de prevenção, como vacinas oferecidas. Se a pessoa tem condição de moradia menos favorável, terá mais contato. Não vamos conseguir tirar todos esses seres vivos do mundo, mas podemos criar barreiras de proteção e aí vem a qualidade de vida, a educação e as doenças imunoprevenível, que queríamos que todos tivessem. É uma convivência que pode ser interrompida com formas que não são a extinção deles. Pode ser diferente com alguns vírus, que tendem deixar de circular com a cobertura de vacinação", enfatiza Cléa Bichara.

O XXI Congresso Brasileiro de Infectologia - Infecto 2019 acontece até sexta-feira (13), no Hangar - Convenções e Feiras da Amazônia, no bairro do Marco. O objetivo é debater, discutir e trazer as novidades a respeito das doenças infecciosas e parasitarias em todas as suas subespecialidades. Mais informações acesse: http://www.infecto2019.com.br/

 

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