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Divórcios no Pará aumentam e sexóloga orienta: 'Não casem por paixão'

Aumento nas separações oficializadas em cartório pode ser reflexo do maior período de convivência dos casais no ambiente doméstico

Dilson Pimentel e Eduardo Rocha / O Liberal

O número de divórcios realizados em cartórios no Brasil foi o maior da história no segundo semestre de 2020, quando foram contabilizados 43,8 mil processos. Segundo um levantamento do Colégio Notarial do Brasil – Conselho Federal (CNB/CF), o aumento foi de 15% em relação ao mesmo período de 2019. A média histórica dessa variação anual é de 2%. A reportagem é da publicação Brasil de Fato.

Na avaliação do CNB, o aumento nas separações oficializadas em cartório pode ser reflexo do maior período de convivência no ambiente doméstico por causa do isolamento social. Mas a mudança também sofre influência da facilitação dos processos, que agora podem ser feitos pela internet. Outubro do ano passado, foi o mês com maior número de divórcios desde 2007 — foram mais de 7,6 mil separações naquele mês.

Percentual por estado

A alta mais expressiva foi observada em 22 estados e no Distrito Federal. Em 16% das unidades da federação, os números atingiram recorde. Um recorte do IBGE de um período de 10 anos, mostra que no Pará, por exemplo, os divórcios concedidos em 1ª instância ou por escritura triplicaram.

Confira a lista dos estados com maior número de separações:

1- Rondônia (54%);
2- Acre (50%);
3- Mato Grosso do Sul (49%); 
4- Pernambuco (34%); 
5- Espírito Santo (30%); 
6- Distrito Federal (26%); 
7- Roraima (26%); 
8- Rio Grande do Norte (26%); 
9- Alagoas (21%);
10- Sergipe (21%); 
11- São Paulo (18%);
12- Goiás (19%); 
13- Maranhão (19%); 
14- Paraíba (19%); 
15- Amazonas (17%); 
16- Mato Grosso (15%); 
17- Ceará (14%); 
18- Pará (14%); 
19- Paraná (13%),
20- Minas Gerais (11%);
21- Santa Catarina (9%);
22- Rio de Janeiro (8%);
23- Rio Grande do Sul (7%). 

Segundo a presidente do CNB/CF, Giselle Oliveira de Barros, o acesso ao serviço online evitou que "situações de má convivência permanecessem sem serem solucionadas”. Ela ressalta que foi possível buscar a solução de problemas pessoais e patrimoniais sem o risco das aglomerações e com manutenção do isolamento social. “Este ano atípico de 2020, provocou muitas mudanças, tanto na convivência entre as pessoas, como também na prestação de serviços aos cidadãos", explica Giselle. Informações em:

Cara a cara

A doutora Mônica Moura, especialista em Educação Sexual, afirma que os divórcios sempre vão acontecer, afinal, todo mundo tem direito de mudar de opinião, de repensar, avaliar “e a gente, na verdade, só consegue compreender quem é o outro indivíduo com quem a gente decidiu casar a partir do momento em que a gente convive”, pontua.

Na avaliação dela sobre o aumento de divórcios no País, o cenário identificado na pandemia deve-se, basicamente, a que “as pessoas estiveram, de fato, talvez pela primeira vez, em muitos casos, convivendo”. “E a convivência não é uma coisa simples. As pessoas não costumam tomar decisões sobre o casamento de uma forma sensata”, disse.

“A gente geralmente decide casar movido pela paixão. E a falha de muitos casais é acreditar que essa paixão vai ser dar por muito tempo e vai se estender por muitos anos. Tem que ter algo a mais do que o 'fogo'. Tem que ter um algo a mais que o desejo sexual, algo a mais para sustentar. E quando você não pensa bem, não avalia, e chega o momento de pandemia em que você precisa de fato conviver com alguém, ali, na tua casa, no mesmo ambiente, aí você percebe que fez a escolha mais acertada ou não, fez a escolha mais leviana da vida. E aí, inevitavelmente, isso vai finalizar com o divórcio”, explica.

Ela não acha que as pessoas estejam se separando mais. Mas acredita que houve, sim, um aumento de decisões impulsivas por se relacionar, por conviver, por dividir a mesma casa, e, no momento em que se depara com a outra pessoa de verdade, percebe-se que pode não ter tomado a decisão mais sensata. Mônica Moura pontua que conviver não é algo fácil.

“Você dividir as tarefas como jogar o lixo fora, lavar a louça, lavar o box do banheiro, dar comida para os pets, ensinar atividades escolares para os filhos, passar mais tempo com a sogra, se eventualmente a sogra convive na casa, ou os enteados. Existiam muitos casais se mantendo casados exatamente pela possibilidade de fuga”.

Muitos casais passavam o dia inteiro longe e voltavam para casa sem ter que se preocupar com muita coisa, além de comer, dormir e fazer sexo eventualmente. “Mas, quando os modelos de trabalho se reorganizaram, quando as pessoas passaram a trabalhar de uma forma diferente e passaram a coabitar de fato, o nível de tolerância foi diminuindo. E, óbvio, a facilidade no processo de divórcio. Divorciar nunca foi tão fácil”, acrescenta a especialista.

O pandemia enfatizou a brevidade da vida por intermédio de familiares e amigos que, muitas vezes, morreram vítimas da covid-19. “Então quando você vê a vida indo embora de uma forma muito rápida e se enxerga dentro de um relacionamento onde não está feliz, o que você vai fazer? Vai divorciar e vai buscar a felicidade”, salienta.

Para quem está em crise conjungal, Mônica orienta: “Olhae para si”. “Porque é muito fácil a gente julgar o outro. Eu não estou feliz porque o meu marido não faz sexo do jeito que eu gosto, porque a minha casa está ruim. A gente está sempre olhando para fora. E a gente está sempre criticando o que está ao nosso redor. Poucas vezes a gente olha pra gente. Então a orientação é olhar para si. O que eu quero? O que eu espero para o meu relacionamento ser feliz? Se eu dou para o outro o que estou querendo”, enfatiza. Ela destaca que as principais queixas são sexuais, e, então, as pessoas buscam tratamento, ajuda, conselhos, buscam na internet; mas, não vão a um sexólogo. “Tudo pode ser resolvido, desde que você esteja disposto e outro também esteja”, crava.

O momento certo para tentar manter o relacionamento é enquanto a pessoa sente paz, ou seja, entender paz como “eu sei que o meu parceiro está com problemas, eu reconheço que estou com problemas, mas, apesar dos problemas, eu me sinto bem quando a pessoa está perto”.

União

Em contraponto aos casos de divórcio no País, está a história de amor do casal Miriam Bergamim Duarte, 64 anos, e Pedro Duarte, 66 anos. Eles estão casados há 44 anos e desenvolvem um trabalho importante para a manutenção de casais na Grande Belém: atuam como casal-coordenador da Pastoral Familiar da Arquidiocese de Belém, junto a 78 paróquias, orientando casais e famílias desde os tempos de noivos até a chegada dos filhos e netos. Esse trabalho fortalece o casal, como declaram uníssonos. "É um trabalho antes e depois do matrimônio, segue com a família", destaca a dona de casa Miriam.

Pedro ressalta que quem quer casar deve se preparar espiritualmente sobre o significado desse sacramento na sua vida. Acrescenta que a família, na concepção de Igreja, é indispensável à vida das pessoas.

"Vivemos em uma época de relativismo, individualismo, de falta de tolerância; o diálogo entre o casal é algo fundamental para o equilíbrio diante situações que ameaçam o matrimônio. Situações como a falta de respeito mútuo, a herança machista, falta de tolerância e outras questões", observa o contabilista Pedro Duarte. "Casar significa partilhar tudo", afirma Pedro, ao lado da esposa Miriam.

Miriam e Pedro concordam que a convivência maior em casa, em muitos casos, na pandemia da covid-19, fez com que um cônjuge viesse descobrir aspectos do outro que não sabia antes da chegada do coronavírus. "A pandemia revela mais de um para o outro, e, então, é preciso compreender o outro, o momento que a pessoa atravessa, valorizar o outro, respeitar a individualidade de cada um", reitera Pedro. "É estrutural ter uma base cristã diante dos desafios da vida", arremata Pedro, sempre ao lado de Miriam.

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