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Após ataques e ameaças, cresce procura de escolas por segurança privada

Estabelecimentos privados de ensino tem procurado esses serviços desde as ameaças de atentado, ocorridos no mês passado. Mas a presença de vigilantes, inclusive armados, ainda dividem opiniões entre educadores

Enize Vidigal

As ameaças de atentado a escolas e universidades de Belém, que viralizaram nas redes sociais no mês passado, assustaram pais e alunos e exigiram uma resposta rápida e contundente dos órgãos de segurança pública e dos estabelecimentos de ensino públicos e privados. Passados alguns dias da “onda de terror”, as medidas de segurança nas escolas se mantém. O consultor de segurança Jean Farias afirma que a procura por esse serviço cresceu em 20% nos últimos 40 dias, na empresa de segurança armada dirigida por ele. Os serviços mais procurados têm sido de vigilância armada e a escolta armada (modalidade em que os vigilantes ficam em veículos na frente das escolas). A situação tem exigido a capacitação para os vigilantes lidarem com crianças e adolescentes de forma adequada.

 

As empresas que trabalham com segurança privada têm que ter as atividades obrigatoriamente legalizadas pela Polícia Federal, enquanto os vigilantes precisam possuir a Carteira Nacional da categoria. Apesar do aumento na procura por segurança privada, o preço do serviço não sofreu alteração, segundo Jean. Houve crescimento nas contratações de vigilantes.

O vigilante consegue perceber toda a movimentação e se antecipar a um possível crime. A pronta resposta tem que ser cirúrgica para evitar que o fato ocorra. Em primeiro lugar, vamos salvar a vida de todos ali e, depois, vem o patrimônio”, acrescenta.

Mãe tranquila

A pedagoga Edelra Nunes, mãe de aluna de um tradicional colégio particular de Belém, contou que se sentiu mais tranquila quando o estabelecimento contratou a vigilância privada, apesar de não ter percebido efetivo armado. Além disso, a escola restringiu o acesso de não-alunos e definiu o atendimento de familiares somente com horário agendado. “Acho que ainda precisa melhorar, porém as ações tomadas pela escola foram rápidas e eficientes”, afirma.  “Percebi também que a direção inseriu elementos de esporte e lazer no pátio da escola, como mesa de ping-pong, totó, xadrez e dama. Adorei, pois a prática de esporte e lazer contribuem muito para a saúde mental das crianças e adolescentes”.

Sindicato das escolas

O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Pará (Sinepe) emitiu nota afirmando que as escolas da rede privada estão adotando “todas as providências que garantam a segurança de seus alunos e de seu quadro funcional, inclusive com equipes preparadas para identificar e prevenir qualquer mudança de comportamento que necessite de ajuda”. Ainda, informou que cada estabelecimento de ensino está definindo as estratégias de segurança sob a recomendação de trabalhar em conjunto com as famílias e o poder público a fim de “garantir uma cultura de paz e tranquilidade”.

“O Sinepe disponibilizou, ainda, para diretores, coordenadores e professores da rede privada, palestras com agentes de segurança que abordaram a segurança no ambiente escolar para que as orientações possam ser também utilizadas com pais e responsáveis pela observação de seus filhos no ambiente fora escola”.

Opiniões divididas

Perguntada se contratou ou pretende contratar vigilância privada armada ou desarmada, a direção de um tradicional colégio de Belém, respondeu que não adotará essa medida, inclusive, seguindo a orientação nacional da rede de ensino à qual pertence. A vice-diretora educacional do estabelecimento, Aynara Gaia, apontou que a segurança pública compete ao Estado e que “combater a violência com a violência é entrar em um círculo vicioso” e que “cabe à escola ensinar a não violência, devendo pautar em seu currículo a educação em valores, os direitos humanos, a mediação de conflitos e a cultura da paz”.

Entre as medidas adotadas pela escola, segundo Aynara, estão a criação do Programa Escola Segura com iniciativas de prevenção, educação e segurança, que envolveu melhorias de infraestrutura, formação continuada de funcionários, responsabilização, atendimento à comunidade, acolhimento dos estudantes, articulação com órgãos de segurança e a relação entre escola e família. E para cuidar do aspecto emocional dos alunos, especialmente da data do dia 20 de abril, data em que aconteceriam os atentados segundo as mensagens ameaçadoras, a escola promoveu na véspera o “Dia da Paz”, o que levou o número de faltosos na data mencionada a ser “inexpressivo”.

Já a diretora de uma rede de ensino popular, Renata Gemaque, não respondeu se contratou segurança privada. “As medidas de segurança foram reforçadas, assim como a escuta e a atenção à comunidade estudantil por meio de práticas pedagógicas ativas”, informou. “Como educadores continuamos trabalhando para que a escola seja um espaço seguro e de aprendizagem. Reforçamos a parceria ‘casa x escola’, tomamos medidas de segurança e informamos a comunidade escolar sobre essas mudanças”.

No campo motivacional, foram criados murais para os alunos se expressarem e, no dia 20 de abril, fizemos a ‘corrente do bem’ para estimular gestos e mensagens de acolhimento no ambiente escolar. “O resultado foi fantástico! Porém, mesmo com todas as ações que realizamos, no dia 20 de abril tivemos cerca de 50% de faltosos”.

Custo da segurança

O advogado e professor da Faculdade de Direito e da Pós-Graduação em Direito, da Universidade Federal do Pará (UFPA), Luiz Alberto Rocha, que é Doutor em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP), explica que o custo dos investimentos para o aumento da segurança nos estabelecimentos de ensino não poderá ser repassados ao consumidor, por enquanto. Os contratos assinados entre pais de alunos e as escolas, antes do início de cada ano letivo, garantem a estabilidade do valor das mensalidades para os 12 meses de prestação de serviço educacional.

“Os custos de segurança vão impactar no custo da educação de um modo geral”, avalia o professor, fazendo uma avaliação para o futuro. Mesmo assim, o aumento de mensalidade não será fácil e deverá depender do crivo dos pais de alunos. “O repasse desse valor todo (investido) depende de um acordo multilateral, como vem sendo feito por reuniões anuais entre o Procon (Serviço de Proteção ao Consumidor), o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e a representação de pais e das escolas para decidir o aumento percentual das mensalidades”, pontua.

“Não acho que a escola, de forma unilateral, vá poder repassar uma planilha cheia dos novos mecanismos de segurança para o valor das mensalidades. Mesmo porque a segurança na escola faz parte do serviço de ensino que elas prestam aos alunos”, destaca.

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