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Covid-19: Laboratório da UFPA já identificou mais de 100 variantes na Grande Belém

Conheça o trabalho do Laboratório de Genética Humana e Médica (LGHM) da Universidade Federal do Pará, que atua em parceria com o Instituto Tecnológico Vale (ITV)

João Paulo Jussara / O Liberal

Na última quinta-feira (6), o Brasil registrou a primeira morte pela variante Ômicron do coronavírus, na cidade de Aparecida, em Goiás. O caso mostrou que a circulação de novas variantes pode dificultar o combate à pandemia no mundo todo. No Pará, o trabalho de identificação e monitoramento de cepas do vírus é feito pelo Laboratório de Genética Humana e Médica (LGHM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Mesmo com a dificuldade para importar insumos e com a escassez de financiamento, a instituição já conseguiu identificar mais de 100 variantes do Sars-CoV-2 circulando entre os moradores de Belém e região metropolitana.

Antes da pandemia, o laboratório já realizava um trabalho de caracterização do DNA das populações que habitam a região amazônica. Quando o coronavírus começou a circular no Pará, em março de 2020, a equipe foi convocada pelo governo estadual para ajudar a montar estratégias para entender o porquê de algumas pessoas estarem apresentando uma gravidade maior ao serem acometidas com a covid-19 do que outras, enquanto algumas nem apresentavam sintomas. A partir daí, os pesquisadores do LGHM deram início ao sequenciamento do vírus, para entender como todo esse processo de adoecimento ocorria.

"Quando a gente começou a investigar o vírus, em parceria com outras instituições como o Instituto Tecnológico Vale (ITV), nós começamos a sequenciá-lo. Hoje, já temos mais de mil amostras de pacientes sequenciadas, e temos mais ou menos um cenário do que aconteceu. Mas infelizmente, a gente parou de sequenciar em dezembro. Foi o último mês que sequenciamos, porque faltaram insumos. E esses insumos são todos importados", explica a professora e coordenadora do LGHM, Ândrea Ribeiro dos Santos.

A pesquisadora revelou que a instituição já identificou mais de cem variantes do coronavírus em moradores da Grande Belém. "Mas é importante dizer que a variante é qualquer alteração na molécula de DNA. Há aquelas que não vão ter nenhum significado, só mudaram, e há aquelas que alteram a nossa molécula e trazem um importante significado clínico. Ou aumenta a transmissão, ou reduz a sua capacidade de responder imunologicamente àquele agressor, impedindo que você crie citocinas para combater o vírus", afirma.

A primeira identificação da variante Gama, batizada inicialmente de P1, foi realizada no laboratório, circulando tanto em profissionais acadêmicos quanto na população em geral. "Nós identificamos a Delta bem precocemente aqui na região. Mas também identificamos a variante Beta, que inicialmente foi detectada na África do Sul, e o setor de saúde do Estado e do município de Belém conseguiram conter essa variante e ela não se espalhou para o resto da população. Essa foi uma medida muito salutar de vigilância genômica", pontua a especialista.

 

 

Falta de insumos é o principal desafio

Ândrea Ribeiro destaca que o principal desafio para que o laboratório continue desenvolvendo o trabalho e fazendo uma boa cobertura genômica na região é a falta de insumos. Esses "materiais consumíveis", como os pesquisadores chamam, são extremamente caros e são produzidos fora do país, então a importação é indispensável. Para isso, além do dinheiro, que segundo a professora foi muito escasso nos últimos anos, com os sucessivos cortes do governo federal na área de pesquisa e tecnologia, também é preciso que haja uma boa estrutura de importação.

"O que atrapalha mais é a falta de recurso. E também as estruturas hierárquicas, que pensam na saúde do Brasil, como um todo, muito amarradas. Quando a gente tem uma pandemia, trata-se de uma situação anômala, então você tem que pensar em uma estratégia fora daquela que você faz para o diagnóstico. Você tem que sair do papel e pensar em novas estratégias para evitar que o vírus se espalhe ainda mais e tentar fazer um contingenciamento melhor desse vírus", pontua.

Outro problema crescente para a área da ciência, de acordo com a pesquisadora, é o negacionismo. Ela afirma que a melhor prevenção para o surgimento de novas cepas e variantes é a vacina. "O negacionismo é muito complicado, porque se o mundo respondeu bem a esta pandemia, é porque tinha uma ciência básica por trás. Não adianta você negar que existe vírus. Não adianta negar que a vacina funciona. As taxas de óbito caíram vertiginosamente, enquanto as de vacinados, aumentou", diz Ândrea Ribeiro.

Além disso, as medidas não farmacológicas também são eficazes para evitar que haja novas mutações, e devem ser mantidas até que a pandemia esteja totalmente controlada. "Uso de máscaras, distanciamento, lavar sempre as mãos com água e sabão, se não tiver, álcool em gel, esterilizar na medida do possível aquele ambiente em que você está trabalhando e evitar aglomerações, que é o que o nortista e o nordestino não sabem fazer. Mas a gente tem que entender que a melhor medida de todas, sempre vai ser a vacina", conclui.

Pará