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Covid-19: 29,5% dos enfermeiros mortos na pandemia trabalhavam na região Norte, aponta Fiocruz

A região, no entanto, tem um dos menores quantitativos de profissionais de Enfermagem do Brasil, como revela a pesquisa

O Liberal

Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicada nesta terça-feira (24), mostra que 29,5% dos 200 enfermeiros que morreram no primeiro ano da pandemia de covid-19 atuavam na região Norte. Isso representa 59 vítimas em números absolutos. Apesar de ter o menor percentual de profissionais de enfermagem do país — cerca de 7,6% dos mais de 582 mil em território nacional —, os estados nortistas somaram o maior índice de óbitos do país. Em seguida, a região Sudeste, com 26,5% das mortes de enfermeiros (53 ao todo), sendo que 45,1% dos profissionais estão nessa região. As informações são da Agência Brasil.

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Maria Helena Machado, autora principal do artigo publicado na revista científica Ciência & Saúde Coletiva, diz que os dados regionais de mortalidade dos profissionais de saúde por covid-19, entre março de 2020 e março de 2021, são “uma fotografia real, crua e dura da desigualdade social que impera no país e no Sistema Único de Saúde [SUS]”.

O Amazonas foi o estado brasileiro em que houve mais mortes de enfermeiros no primeiro ano da pandemia, com 12,5% do total. São Paulo teve 10,5%, e Rio de Janeiro, 9,5%.

"É lá [Região Norte] que se vê com clareza onde o genocídio dos profissionais se deu forma mais aguda. É onde tem piores condições de trabalho e maior aglomeração da população desesperada por atendimento. O Amazonas foi um exemplo vivo do descaso com que a Amazônia Legal vem sendo tratada no país. Ela ficou muito descoberta e desprotegida", disse a pesquisadora, em texto publicado pela Agência Fiocruz de Notícias.

Mortes de profissionais de saúde por covid-19 podem ter tido subnotificação

Outro alerta trazido pela pesquisa é a possível subnotificação nos dados de profissionais de saúde vítimas da pandemia. O estudo cita números da Organização Mundial da Saúde (OMS) que estima pelo menos 115 mil profissionais da saúde vítimas da covid-19 até maio de 2021, em todo o mundo, mas considera que o total pode ser ainda maior. Para o estudo da Fiocruz, foram usados os bancos de dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) e do Conselho Federal de Medicina (CFM), mas a pesquisa chama a atenção para o fato de não haver no país sistematização dos números de contaminados e de mortes entre os trabalhadores da saúde.

"É importante assinalar que a escassez e, por vezes, a ausência sistemática de dados sobre óbitos de profissionais de saúde em geral durante a pandemia é um fato grave. Isso implica um apagão de fatos que aconteceram e estão acontecendo com esses trabalhadores, gerando um cenário de incertezas na pandemia e no pós-pandemia", diz um trecho do artigo.

Perfil dos profissionais de saúde mortos por covid-19

O perfil dos profissionais da enfermagem mortos por covid-19 foi principalmente de mulheres negras:

  • Entre enfermeiros59,5% eram mulheres.
  • Entre auxiliares de enfermagem, mulheres eram 69,1%.

Recorte de raça/cor:

  • 31% dos enfermeiros que morreram por covid-19 eram brancos
  • 51% dos enfermeiros eram pretos e pardos.
  • 9,6% dos auxiliares e técnicos eram brancos
  • 47,6% dos auxiliares e técnicos eram pretos e pardos.

Pesquisa aponta disparidade entre médicos e auxiliares de enfermagem

A disparidade entre a proporção de profissionais e a proporção de mortes também aparece entre médicos e auxiliares de enfermagem. Com apenas 4,5% dos médicos do país, a região Norte mas teve 16,1% dos óbitos entre esses profissionais. Entre os auxiliares de enfermagem, 8,7% estão no Norte, enquanto 23,2% das vítimas dessa categoria profissional se concentram nesses estados.

A pesquisa mostra ainda que 75% dos médicos mortos estavam acima dos 60 anos, enquanto 80% dos técnicos ou auxiliares de enfermagem mortos estavam abaixo dessa faixa etária. Entre os médicos, 87,6% das vítimas são homens, e 12,4%, mulheres. A pesquisa informou que dados sobre cor e/ou raça não estão disponíveis no caso dos médicos.

"A enfermagem tem uma inserção mais institucional, assalariada e com tempo de trabalho predeterminado. Boa parte da enfermagem no Brasil tem assegurado o direito formal à aposentadoria. Na medicina, é exatamente o contrário, pois infelizmente os médicos estão cada vez mais de forma autônoma no mercado profissional. A outra questão é que as categorias da enfermagem têm inserção no mercado de trabalho em fases da vida bastante distintas. Os técnicos podem iniciar a jornada por volta dos 18 anos, por exemplo. Os enfermeiros, assim como os médicos, precisam primeiro se formar na universidade, mas o curso de medicina é mais longo, fazendo com que esses profissionais entrem mais tarde no mercado, o que também contribui para o prolongamento de suas carreiras”, analisa a pesquisadora.

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