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Clima amazônico não favorece infecção pela monkeypox, diz Sociedade Brasileira de Infectologia

Segundo Alexandre Naime, vice-presidente da SBI, o cenário paraense é um reflexo do que está acontecendo no Brasil; casos no Pará sobem para 82

Fernando Assunção

O último boletim da monkeypox no Pará, divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), aponta que o Estado tem 81 casos confirmados de varíola dos macacos. A Região Metropolitana de Belém concentra a grande maioria dos registros da doença, com 72 casos, sendo 57 só na capital. Segundo o pesquisador e infectologista Alexandre Naime, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o cenário paraense é um reflexo do que está acontecendo no Brasil.

“A monkeypox chegou no Brasil principalmente pelos aeroportos dos grandes centros econômicos, como São Paulo e Rio de Janeiro, por meio de pessoas que viajaram para a Europa, principalmente Espanha e Portugal. Agora, a doença está se disseminando pelo país. Os estados mais distantes da região sudeste, como é o caso do Pará, tiveram alguns meses de atraso em relação à contaminação pelo vírus, mas a gente já observa um aumento de casos também neles”, conta o pesquisador. Ele é palestrante no 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop), realizado nesta semana, no Hangar Centro de Convenções & Feiras da Amazônia, em Belém. Na terça-feira (15), ele abordou o tema “A varíola dos macacos” na mesa redonda sobre "Surtos emergentes e globais”.

A principal via de transmissão é sexual, alerta o especialista, mas a monkeypox também pode ser disseminada através de gotículas de saliva e compartilhamento de objetos de uso pessoal, como talheres e toalhas. “A orientação para quem apresentar sintomas compatíveis com a doença, como vermelhidão na pele ou lesões nas regiões genitais, que causem inchaço na área e bolhas, é procurar atendimento médico, se isolar até as lesões cicatrizarem, usar máscara e não manter relações sexuais”, destaca.

“A varíola dos macacos não se previne com o uso de preservativo. A principal via de transmissão ainda é sexual, mas não por causa da penetração e sim pelo contato pele a pele. Então, é muito importante, em caso de sintomas, que se evite o sexo”, completa. “Todo mundo tem que ficar alerta”, diz ainda.

Clima amazônico não favorece infecção pelo monkeypox

Apesar do risco de transmissão por via de gotículas de saliva, características do clima amazônico como a umidade e a transpiração não são fatores de risco para a varíola dos macacos. “O suor não contamina, mas o contato pele a pele sim. Então, se eu tenho uma pessoa infectada, eu vou abraçar, vou ficar junto com essa pessoa tendo contato de pele, por exemplo, para assistir TV no sofá, isso transmite. Agora, a gota de suor não”, explica. 

O médico ainda aponta o risco de aglomerações para a propagação da monkeypox e citou o Círio de Nazaré como exemplo. “No Círio, acaba que as pessoas ficam esbarrando umas nas outras. Caso tivesse alguém infectada ali, ao ter esse contato pele a pele, não necessariamente pelo suor, mas pela aglomeração, poderia infectar outras pessoas. Então, o alerta para sintomáticos é evitar essa alta concentração de pessoas. Uma pessoa com diagnóstico para a doença não poderia ir para o Círio”, diz.

Pará não tem registro de óbitos

Atualmente, o Brasil é o segundo país em número de casos (9.655) de varíola dos macacos e o primeiro líder em mortes (11), segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. O Pará não tem registros de óbitos pela doença. ”Os óbitos acontecem quando a monkeypox chega em pessoas imunossuprimidas, caso de pacientes do HIV em estágio avançado. E, infelizmente, esse cenário pode vir a se repetir no Pará. Se a transmissão continuar, uma hora ou outra, uma pessoa imunocomprometida se contamina com a varíola dos macacos e acaba evoluindo para a morte”, alerta. 

Vacina

No Brasil, levantamento da SBI mostra que a maioria das vítimas fatais de monkeypox viviam com HIV na fase de Aids: dez dos onze casos. Diante do cenário e da escassez de vacinas no mercado internacional, a recomendação da entidade é destinar as doses para pessoas com HIV, que estão com células de defesa linfócitos CD4 menor que 350. “A comunidade global está trabalhando para ter um estoque muito maior de vacinas porque a ideia é vacinar todo mundo, mas, no cenário atual, a prioridade devem ser os grupos onde o vírus pode ser mais prejudicial”, conclui.

 
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