Carnaval de rua em Vigia deixa saudade para foliões do bloco 'As Virgienses'
Pelo segundo ano consecutivo, por conta da pandemia, a cidade com cerca de 50 mil habitantes não vivenciou as alegrias dos tradicionais blocos de rua
A tão aguardada segunda-feira (28) de Carnaval, em Vigia de Nazaré, no nordeste paraense, foi diferente em 2022. Pelo segundo ano consecutivo, por conta da pandemia, a cidade com cerca de 50 mil habitantes não vivenciou as alegrias dos tradicionais blocos de rua. Aos brincantes, só restaram celebrar o festejo nas portas de suas casas e recordar os bons momentos entre amigos.
O Carnaval de rua em Vigia é um dos mais famosos do Pará. A festa carnavalesca na cidade é marcada pela irreverência dos foliões que participam dos blocos As Virgienses e Os Cabraçurdos. No primeiro, e mais antigo, os homens se vestem com roupas e adereços femininos, enquanto no segundo, as mulheres usam vestimentas e acessórios masculinas.
"A segunda-feira gorda era um dia vazio nos antigos carnavais vigienses, então os próprios moradores da cidade decidiram criar um bloco com objetivo de sair para brincarem fantasiados, foi a partir daí que surgiu o bloco As Virgienses, em 1985", disse Pedro Palheta, 36 anos, representante do bloco.
Na rua de Nazaré, esquina com a avenida Dr Marciolino Alves, tradicional ponto de encontro dos brincantes, Pedro relembrou de momentos inesquecíveis para ele, junto de alguns amigos. Ao som de instrumentos de sopro e um cavaquinho, os amigos rememoraram os bons tempos. "Nesta segunda-feira nós comemoramos 37 anos do bloco. Aqui no local de concentração foi onde tudo nasceu, um dia amigos se vestiram de mulher para brincar, o que veio a ser tornar um dos eventos de Carnaval conhecidos em todo país", afirmou.
Dinner Pinheiro, 47 anos, conta que participa do bloco As Virgienses desde criança. Ele conta que o momento é de celebrar a tradição, dentro de casa, ao lado de poucos amigos para evitar aglomerações, e lembrar também dos parceiros que faleceram. “Temos que ficar em nossas casas, respeitar os protocolos e aguardar pela folia do ano que vem. Até lá todos estarão imunizados, se Deus quiser. Hoje vamos tocar algumas músicas e recordar de amigos que foram muito importantes para a realização desse bloco, mas que hoje já não estão mais entre nós”, comentou.
Como forma de valorizar a história do bloco, os organizadores do evento disponibilizaram na internet o documentário “As Virgienses - O show tem que continuar” que resgata as memórias da festividade e faz uma homenagem a foliões ilustres já falecidos. “Esse foi uma forma que escolhemos para agradecer aqueles que contribuíram com a festa. Lançamos nesta segunda-feira, no Youtube, por ser o dia em que o bloco iria sair às ruas”, explicou Pedro Palheta, que participou da produção do filme.
A Prefeitura de Vigia de Nazaré autorizou somente a realização de festas particulares, como blocos e micaretas, em sedes sociais, arenas e outros espaços privados, desde que fossem autorizadas previamente pela administração municipal e respeitassem os protocolos sanitários de prevenção contra a covid-19. De acordo com o decreto municipal Nº015 de fevereiro de 2022, ficou proibido o uso de carro som ou carretas sonoras nas ruas da cidade. A determinação também proíbe a utilização de caixas de som na Praça e Espaço Cultural Tia Pê.
Ambulantes e rede hoteleira são afetados com suspensão de blocos de rua
O turismo local durante o Carnaval movimenta a economia do município de Vigia de Nazaré. Nessa época, a cidade costuma receber cerca de 300 mil visitantes por ano. Por conta da pandemia do coronavírus alguns setores foram prejudicados, entre eles, o comércio informal e o setor hoteleiro.
O vendedor ambulante Luis Carlos, 43 anos, contava nos dedos quantas máscaras e adereços de Carnaval havia vendido na segunda-feira (28). Ele recorda dos anos anteriores à pandemia, quando as vendas eram expressivas. “O que movimenta mesmo a cidade são os blocos de rua e não os eventos fechados. Trabalho há dez anos com vendas desses acessórios e por causa da covid-19 as coisas estão paradas por aqui. Ano passado foi pior, mas fazer o quê? Agora é torcer para que as coisas possam melhoras”, diz o trabalhador.
Em um hotel do município, apenas três dos nove quartos estavam ocupados, afirma o gerente Sarmento Conceição, 57 anos. “Geralmente os hospedes reservam quartos com antecedência para o Carnaval. Quando a prefeitura anunciou que não teria blocos nas ruas, já sabíamos que seria desse jeito. Hoje, os três quartos estão ocupados por pessoas que vieram ao trabalho. O turismo em Vigia caiu muito”, enfatizou.