Após o primeiro caso da covid-19, feirantes de Abaetetuba temem avanço do coronavírus
Feira do município é a segunda maior entre as situadas ao ar livre da América Latina

A Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) confirmou, na manhã desta terça-feira (31), o primeiro caso de coronavírus no município de Abaetetuba, no nordeste do Estado, distante 115 quilômetros de Belém. E a situação preocupa os trabalhadores da feira de Abaetetuba, que é a segunda maior feira ao ar livre da América Latina, ficando atrás apenas do Complexo do Ver-o-Peso, em Belém.
Mais de três mil pessoas, no mínimo, circulam por dia na feira. São pessoas oriundas das ilhas, das estradas e de municípios próximos. “Até o momento, o prefeito ainda não sentou com a nossa categoria para conversar com a gente. Existe, sim, uma preocupação. A gente está em cima do muro. Se a gente não trabalha, passa fome. Se for para o isolamento social, a é verdade, gente evita de estar pegando a covid-19. Mas, de outra forma, acaba passando necessidade. E o prefeito ainda não deu contrapartida de como vai ficar a nossa situação”, disse o presidente do Sindicato dos Feirantes do Município de Abaetetuba, Marcos Ângelo dos Santos Fonseca.
Total de 95% na informalidade
Fonseca argumenta : “Somos a segunda maior feira da América Latina. Existe uma preocupação, porque 95% das pessoas que trabalham na feira são informais. E dependem desse trabalho para manter o sustento da sua família. E quando falo sustento é a alimentação. Até o resto a gente pode abrir mão - do social, do colégio, que agora está parado, da conta de luz, que também não pode ser cobrada. Mas temos que pensar na alimentação. Eu vou para a minha casa, para o isolamento social. Tenho filhos. E como fica o sustento dos nossos filhos? Ninguém tem reserva (financeira). A prova disso é que a gente sequer contribui com o SUS para ter a nossa aposentadoria ao chegar aos 65 anos”.
Marcos Ângelo disse que é preciso que as autoridades olhem, com humanidade e mais mais carinho, para esses trabalhadores. “Nossa categoria não está toda na feira. Mas ainda existe um número muito grande. Se mandar a gente pra casa, a gente vai passar fome e vai acabar morrendo também. A gente quer solução. Quer que a Prefeitura, Estado e Governo Federal olhem para a gente”, afirmou. “Por mais medo que a gente tenha, temos que colocar o pescoço na guilhotina, porque temos filhos, mulher, família. Mas sabemos a gravidade do coronavírus”, reforçou.
Feirantes pedem apoio municipal
Ele disse que a Prefeitura de Abaetetuba poderia ajudar os feirantes com a distribuição de álcool em gel, máscaras e outros equipamentos e acessórios de saúde. “Agindo assim, estará prevenindo e zelando pela nossa qualidade de vida. Mas isso não está acontecendo”, afirmou. Marcos Ângelo diminuiu sua ida diária à feira.
“Agora, vou duas ou três vezes por semana, para buscar recursos. Mas a maioria precisa ir todos os dias, até porque a venda também caiu”, disse. Ele acredita que, cadastrados pelo município, há entre 600 a 700 feirantes. “Mas o número é maior, pois tem ambulantes, os que vendem coxinhas, tapiocas. Mais de mil dependem dessa feira”, afirmou.
A redação integrada de O Liberal entrou em contato com a Prefeitura Municipal de Abaetetuba para obter respostas aos questionamentos dos feirantes, mas ainda não obteve retorno. Acompanhe.
Os casos da covid-19 no Pará*
- Belém: 21
- Ananindeua: 6
- Castanhal: 1
- Marabá: 1
- Itaituba: 1
- Parauapebas: 1
- Abaetetuba: 1
Total: 32 casos no Estado
*Dados atualizados até 11h30 de hoje.
* Fonte : Sespa
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