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Apae comemora 25 anos de conquistas e atuação em Marabá

Associação auxilia os pais a vencerem a desinformação e o medo do desconhecido

Tay Marquioro
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A dona de casa Maria José de Aguiar, de 53 anos, é mãe de três filhos e o caçula tem deficiência intelectual, desencadeada por uma paralisia cerebral. Há mais de dez anos, ela acompanha o jovem Francisco nas atividades oferecidas pela Associação de Paes e Amigos dos Excepcionais (Apae), em Marabá, sudeste paraense.

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“Quando eu entrei aqui, meu filho tinha 7 anos e ele já está com 19. A Apae foi tudo na vida dele, porque eu não sabia como agir na época. A gente não tinha informação sobre essa deficiência dele. Quando eu comecei a vir aqui com ele, isso foi mudando também a minha vida, em todos os sentidos. Até eu passei a me sentir mais segura no cuidado com ele. O desenvolvimento é lento, mas ele tem sim evoluído”, conta. “Hoje, em dia, ele está um homem feito, já aprendeu bastante coisa. Mesmo com as limitações, claro, mas ele se desenvolveu muito bem”.

Mas as dificuldades dessa dona de casa não param por aí. Ela também tem três netos autistas e todos são atendidos pela Apae. “Meus netos também têm aprendido muita coisa e até na convivência com a gente em casa e com as pessoas de fora as coisas têm melhorado. A interação é completamente diferente, muito melhor” afirma Maria José. “Sem a Apae, a gente não é ninguém. Com essas crianças especiais, esse trabalho deles aqui é muito importante. A gente não pode ficar sem isso”.

A desinformação e o medo do desconhecido são constantes nos relatos de pais dos alunos atendidos pela Apae. Para a administradora Suely Lopes Marinho, de 40 anos, saber que seu filho Gabriel tem Síndrome de Down foi um choque. “Aos sete dias de nascido, meu filho teve uma infecção generalizada e tivemos que ir às pressas para Belém. Quando o médico da Santa Casa de Misericórdia viu meu filho e disse que ele era ‘dalminha’, a minha primeira reação foi perguntar se isso tinha tratamento, se era uma doença grave, se meu filho ficaria com sequelas... eu não sabia de nada”, conta sobre a experiência vivida com o primeiro filho, há 21 anos atrás. “Recebi o diagnóstico assim. Eu mesma nem notava alguma diferença nele”.

image Suely Lopes, administradora: precisamos desmontar a ideia de que o Down é coitadinho (Tay Marquioro/ O Liberal)

De volta à Marabá, a família procurou a Apae e Gabriel passou a ser atendido pela instituição, que segue frequentando desde os 40 dias de nascido até hoje. “Cheguei aqui e já fui recepcionada pela diretora, com aquele amor todo, brincando, com um sorriso imenso no rosto, dizendo que ele era lindo. Até então, as pessoas olhavam para ele com um certo ar de espanto, como se Síndrome de Down fosse algo absurdo. Então só o carinho com que nós fomos recebidos aqui já me causou um conforto muito grande, uma sensação de acolhimento”, lembra Suely.

Apae garante apoio para toda a família

Com o passar do tempo, o interesse da mãe pela condição do filho só aumentou e a busca por mais conhecimento também cresceu. “Eu queria saber mais sobre a síndrome, quis estudar. Eu vim para dentro da Apae mesmo. Comecei a ser voluntária nas atividades aqui, trazia meu filho e já ficava para participar, conversava com outras mães, conversava com os profissionais que atendiam, isso tudo me ajudou muito. Mudou a minha visão completamente sobre a Síndrome de Down”, explica. “Eu chegava em casa e já envolvia toda a família no assunto, compartilhava mesmo. Meu marido e eu chegamos a imprimir um caderno com informações sobre a síndrome, e entregamos para toda a família. Fizemos todo um trabalho educativo com todos do círculo do meu filho, para desmontar aquela ideia de que o Down precisa ser tratado como coitadinho. Eu não queria isso para o meu filho”.

Tanto interesse e participação levaram Suely a assumir ainda mais responsabilidades dentro da instituição, onde há sete anos trabalha como Coordenadora de Projetos e ajuda a mudar a perspectiva de outras famílias sobre as pessoas com deficiência. “A Apae não só atende a pessoa com deficiência, mas dá todo um apoio para a família. A família está inserida nesse processo de transformação e isso é muito importante”.

A expansão do trabalho se reflete na ampliação do público atendido na Associação e com uma demanda ainda maior por mais vagas. Quando abriu as portas, em 1998, a Apae tinha 30 usuários participando das atividades. Atualmente, são 710 pessoas com deficiências diversas atendidas no local. Sem falar em uma lista de espera de cerca de 500 outras pessoas esperando por uma vaga. A cearense Socorro Cavalcante, de 62 anos, é diretora da instituição de 2002 e é a encarregada de coordenar toda essa engrenagem.

image Socorro Cavalcante, diretora: buscamos ressignificar a vida de cada um (Tay Marquioro/ O Liberal)

“O nosso trabalho é pautado sobre três pilares. São a Assistência Social, a Educação Especial e a Saúde. Por meio de uma equipe multidisciplinar, nós buscamos estratégias e planejamos atividades para que a gente possa ressignificar a vida de cada uma dessas pessoas com deficiência. Porque cada pessoa com deficiência aqui tem as suas dificuldades, as suas limitações. Então elas são trabalhadas individualmente, mas também em grupos por meio de atividades coletivas”, explica Socorro. “Hoje, nós temos dança, temos uma área riquíssima dedicada ao desporto, a área de artes, de educação, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, cursos voltados ao mercado de trabalho. E os resultados que alcançamos com eles são muito bons”.

image Aula de capoeira é uma das atividades oferecidas (Tay Marquioro/ O Liberal)

Em todos esses anos à frente da Apae, as dificuldades foram muitas. Mas, de acordo com Socorro, nenhuma missão é mais difícil do que negar atendimento a quem precisa. “Comunicar a um pai ou mãe que nós não conseguimos receber o seu filho, que não temos vagas. Esse ‘não’ é muito dolorido”, lamenta a diretora. Apesar disso, Socorro celebra as parcerias que, ao longo dos anos, fizeram da Apae de Marabá uma referência no atendimento à pessoa com deficiência e uma unidade destaque entre as mais de 2 mil Apaes por todo o Brasil. “Acredito que o fundamental para o nosso crescimento foi a credibilidade construída junto à sociedade. Conquistamos a confiança da classe empresarial e do município, por meio da prefeitura, que, independente da gestão, sempre apoiou o nosso trabalho”, conclui.

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