No Pará, casos de AVC somam 2.626 internações pelo SUS
Por mês, 328 pessoas são internadas no Estado. Somente em Belém são 143. Ainda na capital já ocorreram 52 mortes este ano.
No Pará, em 2019, foram registradas 4.646 internações por Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente como "derrame" ou "trombose". Em 2020, somente de janeiro a agosto, foram contabilizadas 2.626 internações pela doença no Sistema Único de Saúde (SUS). Assim, em média, 328 pessoas são internadas por mês no Estado. Em Belém, capital paraense, no ano anterior, foram 1.146 internações por AVC. Já este ano, de janeiro a agosto, já são 593 internações na cidade. Somente em Belém são 1.146 internações e a cidade atinge a média mensal de 143 pessoas.
Porém, não é somente no Pará e em Belém que os casos geram preocupação. O AVC ocupa o segundo lugar no ranking de enfermidades que mais causam mortes no Brasil, atrás apenas das doenças cardiovasculares. Todos os anos cerca de 100 mil brasileiros perdem a vida por causa do AVC, segundo dados do Ministério da Saúde. A reportagem não conseguiu obter os dados de mortes no Pará junto à Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) nem ao Datasus, uma vez que, desde quinta-feira (5), o site do Datasus está fora do ar.
Em Belém, ainda segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), em 2019, foram 42 óbitos por AVC entre os residentes da cidade, sendo 24 homens e 18 mulheres, na faixa etária de 30 a 69 anos. Em 2020, até o último dia 5, foram registrados 52 óbitos por AVC, dos quais 29 homens e 23 mulheres, na faixa etária de 40 a 69 anos. Os dados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Datasus, do Ministério da Saúde.
Uma das vítimas do AVC foi o ator Tom Veiga, conhecido por ser intérprete do Louro José no programa "Mais Você", apresentado por Ana Maria Braga. Ele foi encontrado morto na casa dele na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, no último domingo (1º). Segundo aponta o laudo oficial do Instituto Médico Legal (IML), o ator morreu em função de uma "hemorragia intracraniana por rotura de aneurisma cerebral", isto é, ele sofreu um AVC hemorrágico. A informação também foi confirmada ao vivo durante o programa "Mais Você".
Desde 2015, a telefonista Glória da Silva, 63 anos, que é hipertensa, já sofreu três casos de AVC. O mais recente e grave ocorreu em 2019. “Acho que tive AVC devido estresse oriundo de problemas familiares. Nos dois primeiros não procurei logo médico, mas quando ocorreu o terceiro sim, porque minha pressão ficou muito alta, senti suor e formigamento nas mãos e pernas, desfaleci. Me levaram para a UPA, lá fui medicada para pressão e me mandaram procurar um cardiologista. Fiquei fazendo medicação e sem conseguir andar quase um mês”, conta Glória.
Depois que melhorou um pouco, a telefonista afirma que foi à Unidade de Saúde do Conjunto Providência, em Belém, em busca de atendimento específico à doença. Mas, até hoje, ela espera ligação para confirmação de consulta com neurologista pelo SUS. “Nunca me ligaram. Então, tive que pagar um cardiologista e neurologista para sair daquela situação logo. Aí passei a fazer minha medicação correta para a pressão, evito me estressar, me alimento melhor e faço caminhada. Hoje me sinto melhor e não tenho sequelas. Porém, tenho vontade de ser acompanhada pelo neurologista do SUS, porque o AVC pode acontecer sem mesmo eu esperar”, preocupa-se a telefonista.
Especialistas e entidades que atuam na área da Medicina e Neurologia defendem que algumas soluções para o problema no Brasil, no Pará e em Belém é melhorar o atendimento das redes básica de saúde.
Obesidade e sedentarismo são perigosos
A Sespa informa que, por meio da Coordenação Estadual de Controle de Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), são realizados assessoramentos técnicos, capacitações, disponibilização de material educativo para os municípios para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco, dentre elas o acidente vascular cerebral. Os principais fatores de risco são sobrepeso, obesidade, inatividade física, dislipidemias, alimentação inadequada e tabagismo.
A Sespa esclarece, ainda, que a execução das ações cabe aos municípios (Atenção Primária), que recebem apoio da Sespa. “A Coordenação Estadual dá assessoramento técnico, capacita os profissionais da saúde de outras secretarias afins e fornece material educativo para implementação de alguns Programas como Academia da Saúde, Programa Saúde na Escola, Saber Saúde, Crescer Saudável e o Programa Controle do Tabagismo, que qualifica os profissionais para a oferta do tratamento aos fumantes. Além da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), para o enfrentamento das doenças crônicas na parte da promoção e prevenção”.
A Sespa informa também que a pessoa pode iniciar o tratamento contra a hipertensão nas Unidades de Saúde ou pelas Equipes das Estratégia Saúde da Família.
Ainda no Pará, a Sespa esclarece que o paciente que apresenta quadro de AVC pode receber atendimento e acompanhamento nos Hospitais Regionais do Araguaia, de Marabá, da Transamazônica, do Baixo Amazonas, do Leste, de Tucuruí e os Hospitais Abelardo Santos e Ophyr Loyola.
Em caso suspeito, Samu deve ser chamado
A Sesma informa que, em Belém, o Hospital de Pronto Socorro Mário Pinotti, no Umarizal, é habilitado para atendimento de pessoas com AVC para casos agudos. Os hospitais credenciados pelo SUS para AVC são o Hospital da Ordem Terceira, na Campina, e Hospital Dom Luiz, no Umarizal.
Em caso de suspeita de AVC, a Sesma orienta que “é importante acionar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) ou buscar atendimento médico imediatamente”.
Para prevenção do AVC, a Sesma afirma que disponibiliza, dentro da Atenção Básica ou Primária, os programas voltados para controle do diabetes e da hipertensão arterial, tratamento do tabagismo. E o acompanhamento por equipe multiprofissional dentro das unidades de saúde com médicos, enfermeiros, psicólogos e nutricionistas, com incentivos à atividade física e alimentação saudável
Para casos pós- AVC, a Secretaria explica que possui equipes do programa Melhor em Casa, que presta assistência domiciliar. Esclarece também que “há o encaminhamento do usuário para serviços de reabilitação, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicologia imediatamente por meio da regulação”. A rede SUS municipal conta com instituições próprias e conveniadas para esse atendimento.
O que é o AVC?
A neurologista Sthephani Martins explica que o AVC pode ser definido como o surgimento de um déficit neurológico súbito causado por um dano nos vasos sanguíneos do sistema nervoso central, que pode se dar tanto por uma isquemia ou hemorragia.
“Ela afirma que o AVC ocorre de forma súbita. No AVC isquêmico há uma interrupção do fluxo sanguíneo para determinada área, uma obstrução do vaso sanguíneo. Já no AVC hemorrágico ocorre um rompimento do vaso fazendo com que o sangue extravase para onde não deveria ir”, esclarece.
E, dependendo da área do cérebro que ocorre, pode se manifestar de diferentes maneiras: dificuldade de falar, desorientação súbita, crise convulsiva, assimetria na face ou uma dificuldade para caminhar ou pegar um objeto.
Diante disso, Sthephani Martins orienta que a pessoa procure atendimento médico sempre que houver algum desses déficits neurológicos súbitos. “Em até quatro horas e meia do início dos sintomas, poderá ser realizado um tratamento com medicação chamado trombólise endovenosa, que pode reverter os sintomas de forma completa ou parcialmente. Caso contrário, a falta de socorro pode levar a pessoa à morte”, alerta a neurologista.
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