Machismo impossibilita que muitos homens façam o toque retal para detectar alteração na próstata
“Esse preconceito desnecessário está nos impedindo de salvar mais vidas”, diz vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia
Muito machismo vai levar a pessoa a óbito e óbito não tem sexo. Passa a ser uma estatística. O alerta é feito pelo Dr. Luis Eduardo Werneck, médico oncologista clínico e PDH em oncologia clínica, ao falar sobre o toque retal, procedimento que detecta se há alteração na próstata. E o preconceito impede que muitos homens façam esse exame. “O toque retal é um procedimento de exame clínico. Isso é simples e deveria afastar esse preconceito desnecessário e que está nos impedindo de salvar mais vidas”, afirmou ele, que é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia (SBC). E a campanha “Novembro Azul” aumenta a conscientização sobre o atendimento integral à saúde dos homens.
O número de casos de câncer de próstata, no Pará, caiu nos últimos três anos. Em 2019, foram 407 casos. Em 2020, 283. E, em 2021, 98. Já os números de óbitos por câncer de próstata são os seguintes.
Em 2019, 378. No ano seguinte, 2020, aumentou para 402. E este ano, até o momento, caiu para 237, mas ainda é alto.
O exame que detecta alteração na próstata, exame de rastreio e prevenção e diagnóstico, é o toque retal com o PSA (pela coleta do sangue). “Não adianta fazer só o PSA, não adianta fazer só o toque retal. É o toque retal com o PSA, porque tem outras alterações da próstata que também podem causar um exame alterado ou um PSA alterado, como, por exemplo, uma hiperplasia prostática. Isso vai diferenciar do câncer”, explicou. A hiperplasia prostática é um aumento benigno (não é um câncer) do tamanho da próstata . A próstata é uma glândula que só o homem possui e que se localiza na parte baixa do abdômen.
Ela é um órgão pequeno, tem a forma de maçã e se situa logo abaixo da bexiga e à frente do reto (parte final do intestino grosso). O câncer de próstata, excluindo-se os cânceres de pele, é o câncer mais comum entre os homens, no Brasil e no mundo. “Isso decorre que parece que nós temos umas diferenciações, replicações celulares da próstata e, com o envelhecimento da população, as pessoas estão vivendo mais tempo, vai aumentando a razão de chance de haver algum erro de replicação celular e isso iniciar um processo neoplásico que é o início da gênese do câncer”, explicou o Dr. Luis Eduardo Werneck.
Os pacientes de risco naturalmente são homens – só o homem tem próstata – e a média de incidência no Brasil vai ocorrer entre 64 e 65 anos. “A gente vem percebendo, com os estudos, que a incidência vem aumentando um pouquinho em idades um pouco mais precoces. Mas ainda é muito raro um câncer de próstata em homens abaixo de 50 anos”, disse.
Toque retal não é realizado apenas para a próstata
Ainda sobre a resistência em fazer o toque retal, o médico afirmou que isso não tem “muito sentido” porque esse procedimento não é realizado só para a próstata. “A gente fala que médico não tem sexo. Quando um médico examina a mama, um ginecologista examina a genitália, a vagina, os seios, não está examinando uma mulher, ele está examinando um ser humano e isso o médico sabe distinguir muito bem isso”, afirmou. “Isso é muito bem ensinado e muito respeitado, visto que os casos em que ocorrem desrespeito à individualidade, à intimidade do paciente são raros, a mídia noticia amplamente, mas são muito raros, porque nós, médicos, de fato respeitamos muito a individualidade e a sexualidade do ser humano”, completou.
Ainda sobre esse machismo, o médico disse ficar muito preocupado porque o único exame que pode deixá-lo vivo o homem prefere não fazer por achar que isso vai interferir em sua masculinidade. “Eu não gosto nem das brincadeiras jocosas que se faz com urologistas, com piadas de gosto duvidoso com relação ao toque retal. Não é só para a próstata que se faz toque retal. Se faz para hemorroidas, outras doenças do ânus, se faz colonoscopia. Muitos homens fazem. Identifica Mais de 10 doenças: diverticulite (é uma doença intestinal marcada pela inflamação na parede interna do intestino), Doença de Crohn (é uma síndrome que afeta o sistema digestivo e tem como principal sintoma dor abdominal associada à diarreia, febre, perda de peso e enfraquecimento por causa da dificuldade para absorver os nutrientes). E não é um toque. É um aparelho inteiro que vai no ânus e vai até o intestino do paciente”, explicou.
A recomendação é, acima de 50 anos, fazer toque retal com PSA para quem não tem casos na família – pai, avô, tio, irmão. Acima de 45 para quem tem casos de câncer na família. “Eu pessoalmente já recomendo para um grupo de pacientes pequeno, um subgrupo, acima de 40 anos, se quem teve câncer na família (pai, tio, avô ou irmão) teve esse câncer abaixo de 55 anos. Quanto mais jovem for o parente ou familiar que teve câncer, essa pessoa terá que fazer o toque retal e o PSA a partir de 40 anos e não 45 e 50. Mas são casos isolados, é uma recomendação geral. Isso melhora a nossa detecção”, afirmou.
Palavras-chave