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Expedição científica faz registro inédito de dunas submarinas de 10 metros no mar amazônico

A primeira expedição científica do Ciências do Mar II pelo projeto do INCT-BAA ocorreu de 24 de outubro a 7 de novembro

Ayla Ferreira*

No fundo do mar amazônico, há uma biodiversidade ainda inexplorada e nova para a ciência. É a chamada “Amazônia Azul” — extensão de quilômetros de mar que vai do Amapá ao Piauí. O território foi foco de estudos de pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), durante uma expedição científica nacional liderada pela universidade na região Norte. Em 15 dias no mar amazônico, os pesquisadores registraram um campo de dunas submarinas de dez metros de altura, um jardim de esponjas centenárias e cânions gigantes, entre outras descobertas inéditas — tudo embaixo d’água.

A expedição no navio Ciências ao Mar II foi coordenada por Eduardo Paes, doutor em oceanografia e professor da Ufra, com o objetivo de mapear e estudar de forma aprofundada a biodiversidade da Amazônia Azul. “Essa expedição de pesquisa faz parte de uma maior por toda a costa brasileira, na região Sul, Sudeste, Norte e Nordeste”, explica Eduardo.

Em cada região, foi escolhido um local específico onde o navio realiza uma série de coletas. Além do Ciências ao Mar II, existem mais três navios oceanográficos, todos idênticos, parcialmente financiados pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Biodiversidade da Amazônia Azul (INCT-BAA), criado através de um edital do CNPq. As quatro embarcações foram adquiridas pelo Ministério da Educação em parceria com a Marinha Brasileira com o objetivo de apoiar o ensino e as pesquisas em Ciências do Mar. 

Pela primeira vez, os quatro navios realizaram os cruzeiros no mesmo período, com a mesma metodologia, mesmo tipo de coleta de dados, imagens de satélite, medidas de corrente, coletas de água, em toda a costa brasileira. Essa foi a primeira expedição científica do Ciências do Mar II pelo projeto do INCT-BAA e ocorreu de 24 de outubro a 7 de novembro, partindo de Belém.

“Aqui no Norte, foi da Foz do Amazonas em direção ao alto-mar. O navio chegou próximo à foz e foi se distanciando da costa, até chegar ao limite da plataforma continental do Pará, que representa o fenômeno de desembocadura de um rio muito grande, e quando ele desemboca no mar, traz água doce”, diz. 

Descobertas

Uma das principais descobertas na expedição foi a presença de megadunas, localizadas a dez metros de profundidade no mar amazônico. A denominação ‘megaduna’ foi dada pelos próprios pesquisadores, já que dunas do porte encontrado ainda não haviam sido registradas em nenhum outro lugar do Brasil, segundo o professor da Ufra.

“É tudo novo. Temos uma ideia do que pode ser, provavelmente é um processo resultante das macromarés na costa da Amazônia, que são fortes, de amplitude muito alta, com correntes marinhas fortes e direcionadas. Esse campo de dunas está na faixa entre os 40m até os 80m de profundidade. É um achado, vamos publicar em uma revista científica”, conta Eduardo.

No local, os pesquisadores também encontraram novas espécies, que ainda serão analisadas em laboratório. Entre elas, estão invertebrados, pequenas larvas, bactérias e outros elementos da fauna. “Nessa região, também encontramos uma possível região de embarque, com rêmoras. Vimos várias rêmoras pela câmera, soltas e livres, nadando por aí”, diz o professor.

Rêmora é um tipo de peixe que se fixa em outros animais, como tubarões ou tartarugas, e pode viajar longas distâncias. Ele se alimenta dos restos alimentares e também limpa o hospedeiro de parasitas. Eduardo conta que é incomum ver a espécie nadando livre pelo mar, já que ele sempre está acoplado a outro animal de porte maior. “Elas estavam sozinhas e a gente viu uns tubarões passando por ali, então levantamos essa hipótese. Pode ser uma região de embarque, onde os peixes grandes passam, elas colam e pegam o transporte e seguem caminho”, afirma.

Na expedição, foram detectados cânions gigantescos, formados a partir de antigos rios no fundo do mar. Em um dos trechos, a profundidade saltou abruptamente de 100 metros para 600 metros, voltando para 100 metros depois. “Nós achamos que era um buraco, mas mapeamos e descobrimos que era um grande canyon submarino, ainda desconhecido, que não estava na Carta Náutica. Não tem nome, vamos dar nome para essas feições ainda”, diz.

Há também um Jardim de Esponjas e um campo de rodolitos, nome dado a algas vermelhas que concentram carbonato de cálcio e se apresentam como pequenas bolas de pedra. 

Futuro

A expedição da Ufra contou com 18 pesquisadores da universidade e de outras do país, incluindo alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doc, além de dez membros da tripulação. A expectativa é que novas expedições sejam realizadas, com o objetivo de coletar informações sobre o mar, que controla grande parte das questões de vida na Terra.

Eduardo defende que é preciso mostrar a importância do mar amazônico para a população e os dirigentes, pois acredita que o Pará é um estado privilegiado por contar com o mar “nas costas do estado. Ele acrescenta, ainda, a importância de desenvolver um programa de monitoramento, para aproveitar a biodiversidade, os serviços, as moléculas novas que podem ser usadas na medicina e nos fármacos, entre outros.

“Tem várias outras feições que devem ser mapeadas e monitoradas regularmente. Isso serve para estabelecer política pública, para navegação, petróleo, e pesca, por exemplo. Todos os setores dependem diretamente ou indiretamente do conhecimento”, finaliza.