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Entidades e Sespa combatem notícias falsas para incentivar indígenas e quilombolas à vacinação

Fake news e matérias sensacionalistas amplamente divulgadas têm levado esse público a sentir medo, dúvidas e acabe não tomando a vacina contra a covid-19

Cleide Magalhães

Nesses 11 meses ainda de existência da pandemia da covid-19, o cenário de morte, medo, tristeza, dor e saudade também faz parte do cotidiano de milhares de quilombolas e indígenas da Amazônia Brasileira. A covid-19, doença ocasionada pelo novo coronavírus, já atingiu 142 povos indígenas da região. Deles, 28 são do Pará. Já ocorreram 777 mortes em 107 dos 142 povos indígenas já atingidos pelo novo coronavírus. Além disso, 34.281 casos foram confirmados e 772 suspeitos na Amazônia Brasileira.

Do total de 777 mortes, 102 indígenas são de 20 povos do Pará, onde há 6.391 infectados e 126 casos ainda sob suspeita, até o último dia 8. Os dados foram publicados no informativo "Covid-19 e Povos Indígenas na Amazônia Brasileira", da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), no último dia 12. Além do Pará, a Amazônia Brasileira conta com os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão. 

Os povos indígenas do Pará já atingidos pela covid-19 são: Aparaí, Arara, Arapiun, Asurini do Trocara, Asurini do Koatinemo, Borari, Kahyana, Kaiapó, Kuxuyana, Kumauara, Kuruyara, Gavião do Akrãnkiytegê, Gavião, Kykatejê, Gavião Parkatejê, Juruna, Munduruku, Parakanã, Sateré Mawé, Suruí do Sororó, Tembé, Tiriyó, Tupinambá, Xikrin do Cateté, Xikrin do Bacajá, Xipaya, Wayana, Wai Wai e Warao (Amazônia Venezuelana).

Em relação aos indígenas, a Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) informa que o órgão dispõe dos dados fornecidos pelos municípios, através dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) pelo Sistema de Monitoramento, o qual não contempla a informação por etnia, apenas por Dseis´s.

Ainda para a Sespa, foram registrados 61 óbitos de indígenas, de 31 de março de 2020 a 4 de fevereiro de 2021. Além disso, 6.598 casos de covid-19 em indígenas já foram confirmados no período de 31 de março de 2020 até o último dia 5. No momento, para a Sespa, não há casos sob suspeita.

Em relação aos quilombolas, de acordo com informações repassadas pela Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu) e o Núcleo Sacaca-Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), a covid-19 já atingiu todas as comunidades quilombolas do estado do Pará.

Ainda segundo as entidades, os números da covid-19 entre as comunidades quilombolas do Estado, atualizados no último dia 8, trazem que 2.188 casos foram confirmados, 54 mortes, 1.255 casos são suspeitos e ainda em tratamento e 2.143 foram recuperados.

Vacinação dos indígenas e quilombolas

A Sespa afirma ainda que, até o momento, 7.521 indígenas foram vacinados, o que representa 29.3% da cobertura vacinal. A meta é vacinar 25.692 indígenas. O prazo depende do número de doses enviadas pelo Ministério da Saúde, bem como a aceitação desses povos tradicionais para a realização da vacina.

“O Plano Nacional de Imunização, na fase inicial, colocou como prioridade os indígenas aldeados, por ser uma população mais suscetível a doenças. Aqueles que já se vacinaram já possuem disponíveis as segundas doses, encaminhadas aos municípios desde a última segunda-feira (8) para a vacinação”, esclarece a Sespa.

Já em relação à vacinação dos quilombolas, a Sespa informa que, “conforme o Plano Nacional de Vacinação, a vacinação ainda está na primeira fase, o que ainda não abrange esse grupo prioritário, o qual faz parte do segundo grupo”, explica a Secretaria.

Além de lidar com perdas e sequelas da doença, indígenas e quilombolas à vacinação precisam vencer as notícias falsas

Como se não bastasse os povos indígenas terem que lidar com tantas perdas e até sequelas deixadas pela pandemia, a circulação de fake news (notícias falsas) e matérias sensacionalistas amplamente divulgadas têm levado indígenas a sentirem medo, dúvidas e acabem não tomando a vacina contra a covid-19.

Para combater essa ação considerada como crime inclusive contra a própria vida, no neste mês de fevereiro, entidades e governo do Estado lançaram campanhas para ajudar no combate às fake news. A Coiab, em parceria com a Amazon Conservation Team - Brasil (ACT-Brasil) e o Centro de Medicina Indígena Bahserikowi'i, lançou um vídeo nas redes sociais e no YouTube, a partir de depoimentos de lideranças indígenas que já foram vacinadas, para incentivar a vacinação nas aldeias e comunidades de povos das mais diversas etnias.

“Nós, Coiab, acompanhamos e vivemos de perto o luto e a luta que os povos indígenas enfrentam no meio desta pandemia. Mais do que nunca, precisamos nos unir para sobreviver, e, neste momento, precisamos que a vacinação chegue a todos nós”, ressalta a coordenadora-geral da Coiab, Nara Baré.

“Indígenas e quilombolas são grupos prioritários, porque têm elevado grau de vulnerabilidade social e econômica”, enfatiza a coordenadora estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais, Tatiany Peralta

Além dos indígenas, a ação do governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), via Coordenação Estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais, visa alertar os quilombolas, os quais também vêm sendo vítimas de notícias falsas e orientações equivocadas, que estão afastando-os da vacina contra o novo coronavírus. Para isso, a Sespa lançou a Cartilha Educativa Combate à Desinformação entre Indígenas e Quilombolas.

Em um áudio encaminhado à Sespa, uma liderança quilombola disse que um dos fatores que têm levado a população a se esquivar da vacina é a orientação equivocada feita por lideranças religiosas nas comunidades.

Para aumentar a aceitação da vacina contra a covid-19 entre os indígenas e quilombolas, a Coordenação Estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais, desenvolve ações nos territórios dessas populações desde o início da pandemia.

A Coordenação também acompanha e monitora junto aos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis) acerca das estratégias de vacinação dos povos indígenas no Pará.

“Além de manter diálogo permanente com os Dseis, realizamos ações de saúde nos territórios indígenas, incentivando a vacinação, combatendo as fake news e levando informações verdadeiras para as populações”, afirma a coordenadora estadual de Saúde Indígena e Populações Tradicionais, Tatiany Peralta.

As equipes da Sespa juntamente com as dos Dseis e as organizações quilombolas, por meio de mídias digitais e mensagens simples, vão disseminar informações verdadeiras sobre a importância da vacina contra a covid-19 respondendo às seguintes perguntas: “Por que se vacinar?”, “Por que indígenas e quilombolas são grupos prioritários para a vacinação?”, “Quem vai receber a vacina da covid-19?”, “Quem não pode receber a vacina da covid-19?”, “Quem já teve covid-19 pode receber a vacina contra a covid-19”, “Quantas doses serão necessárias da vacina contra a covid-19? e “Poderei viajar, ficar sem máscara e esquecer o distanciamento social depois de ter recebido a vacina contra a covid-19?”.

Tatiany Peralta enfatiza que indígenas e quilombolas devem se vacinar para proteger a sua saúde, a da sua comunidade, da sua aldeia, a vida dos anciãos, guardiães da ancestralidade e as gerações futuras. “As vacinas contra covid-19 são seguras e trarão muitos benefícios para todos”, frisa.

Ela explica que os indígenas e quilombolas são grupos prioritários, porque têm elevado grau de vulnerabilidade social e econômica. “Pois, historicamente, foram vítimas de doenças e epidemias resultantes do processo de colonização, que dizimou grande parte dessa população”, explica Tatiany Peralta.

Tatiany informou, por fim, que estão sendo vacinados apenas indígenas e quilombolas acima de 18 anos, com exceção de mulheres grávidas ou em amamentação. Crianças também não serão vacinadas até que estudos sobre os efeitos da vacina nessa população sejam divulgados.

A reportagem aguarda a Sespa se manifestar sobre a quantidade disponível de doses de vacinas contra a covid-19 e quantas já foram aplicadas nas populações indígenas e quilombolas do Pará, mas ainda não se manifestou.

Serviços:

Para acessar o vídeo lançado pela Coiab, com depoimentos de lideranças indígenas já vacinadas, clique aqui.

Para acessar a Cartilha Educativa Combate à Desinformação entre Indígenas e Quilombolas, clique aqui