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Dia da Amazônia: em ano de COP, protagonismo local tem papel estratégico nas discussões ambientais

Às vésperas da conferência em Belém, lideranças políticas e pesquisadores destacam a importância do bioma amazônico para o equilíbrio climático global

Gabriel Pires

No ano em que Belém sedia a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), o mundo volta os olhos para a capital paraense com o objetivo de potencializar as discussões sobre os impactos das mudanças climáticas, especialmente no bioma amazônico. Nesta sexta-feira (5), Dia da Amazônia, destaca-se o papel crucial da região para o equilíbrio climático global, ao mesmo tempo em que a região ganha protagonismo nesse debate.

Às vésperas do evento, que será realizado em novembro, o prefeito de Belém, Igor Normando, afirmou que a COP 30 proporcionará uma oportunidade para os povos amazônicos apresentarem suas realidades. “Vamos mostrar que não temos somente belezas naturais e a capacidade extraordinária de construir situações favoráveis ao meio ambiente, como também o fortalecimento da bioeconomia, da preservação ambiental, mas ainda mostrar que, além das florestas e dos nossos rios, existe um povo amazônida que precisa da sensibilidade internacional para garantir a sua sobrevivência”, afirma.

Normando ainda destaca iniciativas locais pensando no cuidado com o meio ambiente. “Belém, nesse momento, se destaca não só por realizar a COP 30, mas sobretudo por engajar em grandes causas importantes, principalmente na arborização da cidade. Uma parceria da prefeitura de Belém, junto ao Governo do Estado e ao BNDES, vai garantir a arborização em um plantio de 200 mil árvores na cidade. E ainda, viemos fazendo um plantio de mais de 2 mil árvores por mês”, pontua o prefeito.

“Além do projeto de programa de arborização da cidade, entendemos que a conscientização é fundamental. Por meio da Secretaria de Educação, elegemos embaixadores ambientais dentro das escolas. Os próprios alunos vão conscientizar não só os próprios colegas, como também sua família. Não existe preservação sem educação e sem a importância de compreender o quanto a Amazônia, a floresta em pé, os nossos rios preservados têm um papel fundamental para a sobrevivência humana”, acrescenta Normando.

Povos tradicionais

Essa visão sobre a importância da preservação ambiental se alinha ao entendimento de que a Amazônia deve ser tratada como um espaço vivo, culturas que precisam ser respeitados. Na avaliação do pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (Naea/UFPA), Thales Ravena, para que o Pará e a Amazônia sejam protagonistas nas soluções ambientais apresentadas na COP, é fundamental fortalecer o que já existe e o modo de vida dos povos tradicionais frente à sociedade hegemônica.

“É fundamental que a gente dê visibilidade e não dê voz, porque essas pessoas já possuem voz, mas é necessário que se abra espaço e se viabilize o protagonismo dos povos e comunidades tradicionais. Isso porque é o meio de vida deles que vem garantindo a floresta em pé por todos esses anos. Existem estudos que mostram que a floresta amazônica não é uma floresta natural, portanto, espontânea, que teria nascido assim do jeito que a gente conhece hoje”, observa Thales.

O pesquisador também pontua que a Amazônia “é uma floresta que foi cultivada, é um artefato cultural dos povos indígenas e, nos últimos 200 e 300 anos, dos povos que a gente chama de caboclos”. E que, nos últimos 20 e 30 anos, a gente vem chamando de povos tradicionais. Essas comunidades têm um meio de vida que manteve a floresta em pé todos esses anos, mas é a sociedade moderna que vem mudando o clima”, observa Thales.

Regulação do clima

Toda essa preocupação com a preservação se sustenta no fato de que a Amazônia, sendo uma das maiores florestas úmidas e possuindo uma das faixas contínuas de manguezal mais extensas do mundo, desempenha um papel crucial na regulação do clima. Quase metade da faixa costeira de manguezais do mundo está no litoral amazônico, conhecido como “Amazônia Azul” - importante devido à contribuição dos oceanos e das plantas marinhas. O bioma amazônico ainda contribui para a regulação do clima global por ser uma floresta tropical composta por diversos ecossistemas menores.

Por conta dessa importância ambiental, o pesquisador destaca que, além de ações cotidianas, políticas públicas são essenciais para garantir a preservação da floresta e fortalecer o protagonismo local. “Já vemos sendo desenvolvida a política estadual de bioeconomia, que vem dando abertura para fortalecer as práticas ecológicas e econômicas dos povos tradicionais. Existe também a política nacional de desenvolvimento regional. Essas ações precisam focar no fortalecimento dos processos ecológicos e econômicos que os povos tradicionais vão fazendo ao longo dos anos”, comenta.

“É preciso fortalecer a extração do açaí, como é tradicionalmente feita, assim como a produção da farinha e o agroextrativismo. E ainda, a pesca artesanal, porque com isso se pulveriza o processo produtivo, ocupando um grande número de pessoas”. “Ao ocupar e produzir economicamente com essas pessoas, também se permite que elas, ao manterem seu modo de vida tradicional, exerçam o que hoje os cientistas chamam de agroecologia e sistema agroflorestal”, reforça Thales.

Ciência

E ao mesmo tempo em que ações governamentais e iniciativas da sociedade civil são importantes, a universidade também desempenha um papel determinante no viés de conservação do meio ambiente, como aponta a vice-reitora da UFPA, a professora Loiane Verbicaro, que também é presidente da Comissão de Sustentabilidade da instituição. “A Universidade Federal do Pará tem desempenhado um papel fundamental na conservação ambiental e no desenvolvimento sustentável na Amazônia por meio de diversas iniciativas de ensino, pesquisa, extensão, inovação, sustentabilidade e cooperação nacional e internacional”, enfatiza.

“A UFPA é a Universidade que mais produz ciência sobre a Amazônia no mundo. São estudos e pesquisas práticas em todas as áreas do conhecimento e de modo transversal, com inovação aplicada à Amazônia, que subsidiam políticas públicas para a conservação e desenvolvimento sustentável na nossa região. A pesquisa científica desempenha um papel fundamental no desenvolvimento econômico e social do país”, completa Verbicaro.

A Comissão de Sustentabilidade da UFPA foi criada para planejar e dar visibilidade às ações de sustentabilidade, visando inserir o tema de forma transversal em todas as dimensões da universidade. Ainda de acordo com a vice-reitora, a UFPA ganha relevância estratégica no contexto amazônico, pois ela está inserida em um território com imensos desafios e potencialidades”. “Suas pesquisas contribuem para o desenvolvimento regional sustentável, produzindo conhecimento aplicável às necessidades regionais, apoiando a formulação de políticas públicas específicas para a realidade amazônica e contribuindo para a construção de modelos de desenvolvimento socialmente referenciados”, ressalta.