Detentos e servidores do sistema penal do Pará acessam curso com técnicas de autocontrole
São 350 os custodiados e 150 os servidores de todo o Estado que participam de curso de inteligência emocional
Conseguir equilibrar emoção e razão, para obter melhor qualidade de vida e os benefícios que se podem alcançar superando dificuldades e limitações próprias. É essa a oportunidade que custodiados e servidores do sistema penitenciário do Pará têm recebido, desde a última quarta-feira (10), através de uma iniciativa pioneira: um curso de inteligência emocional, oferecida pelo é do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), por meio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).
Quebrando as barreiras e dificuldades impostas pela dimensão continental do Pará, das 48 unidades prisionais do Estado, 33 promovem o curso, realizado por uma entidade de referência na área, com método próprio. A ação já chegou a mais de 600 mil pessoas no mundo. No Brasil, cerca de 800 pessoas privadas de liberdade tiveram a oportunidade de receber esse curso. No Pará, são 350 custodiados do Estado assistindo ao método de forma gratuita, no período de 10 a 14 de junho. Além deles, 150 servidores também participam.
Controle e mudanças
Com o objetivo de promover mudanças, como a autorresponsabilização e trabalhar todas as áreas da vida, por meio do acesso a técnicas que prometem melhorar o dia, o diálogo, o equilíbrio, o autocontrole emocional, a realização de metas, o otimismo, a valorização da família e da vida, entre outros, o curso oferece ferramentas para que seus participantes mudem seu estilo de vida e superem seus obstáculos emocionais.
Para isto, a Seap adaptou os espaços educacionais das unidades penitenciárias para a transmissão do curso, respeitando as medidas preventivas quanto ao novo coronavírus, como quanto ao número de participantes por sala, o distanciamento entre eles e o uso de máscaras.
“Foi incrível, mexe com a memória da gente. Esse curso é bom e vai me trazer vários recursos bons quando eu sair daqui”, disse emocionada, a custodiada Ana Lúcia Pantoja. De acordo com Renata Silva, coordenadora administrativa do Centro de Reeducação Feminino (CRF), de Ananindeua, o método Coaching Integral Sistêmico é a oportunidade para agregar conhecimento às internas, fazendo com que elas compreendam a autorresponsabilidade e passem a observar que são responsáveis pelos seus erros e acertos.
Com a interlocução de Maycon Rottava, Agente Federal de Execução Penal e colaborador da Seap, o curso oferecido traz ferramentas de coaching de forma democrática, além de possibilitar a remição de pena. “O curso oferecido pelo senhor Paulo Vieira à Secretária de Administração Penitenciária do Estado do Pará é um passo muito importante para reconstrução de potencialidades motivacionais aos internos e aos servidores que, ainda por desmotivação, falta de aceitação e autorresponsabilidade, não tinham, até então, as ferramentas necessárias e apresentadas para a mudança de vida e a crença de que acreditar e buscar o melhor sempre é possível", afirma. PhD em Business Administration, Paulo Vieira, é mestre em coaching da Febracis Coaching Integral Sistêmico. O curso é ministrado por ele próprio, o criador do método.
Fomentando as ferramentas de reinserção social, como trabalho e estudo, o Juiz Deomar Barroso, Titular da Vara de Execução Penal, garante a remição de pena aos internos participantes do curso e explica a metodologia utilizada.
“A importância desse curso é fantástica. A partir do que está sendo apresentado, vai promover um novo pensar, um novo olhar sobre as dificuldades e os desafios da vida. Além da promoção da inteligência emocional, serão realizadas em cada dia de curso, resenhas sobre o que é apresentado. Pela primeira vez, esse instrumento educacional servirá como remição de pena. As resenhas serão avaliadas por cada casa penal. Há cada 12 horas de curso, será um dia remido. Temos que dar ferramentas para os custodiados saírem e não voltarem mais, tendo em vista que podem ser independentes e gerarem a própria renda de forma digna. Estamos inaugurando um novo sistema prisional no Pará, fazendo a diferença. A etapa agora é o fortalecimento da ressocialização, como o projeto 'Conquistando a Liberdade'", explica o juiz Deomar.
Para o secretário de Estado de Administração Penitenciária (Seap), Jarbas Vasconcelos, “É uma oportunidade que eles têm de olhar para o extramuro das cadeias e ter uma perspectiva diferente de tudo que eles já viveram fora da cadeia e dentro. E as unidades penitenciárias se envolveram, abraçaram a causa porque perceberam a importância desse momento. É o primeiro passo do início de uma grande parceria com judiciário, com o Depen, com a equipe do Paulo Vieira, no sentido de oportunizar aos nossos custodiados e também aos nossos servidores, outros cursos, palestras e seminários para que percebam o valor deles", considera o titular da Seap.
Na região metropolitana de Belém, na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI), no Complexo Penitenciário de Santa Isabel, o sentimento é de gratidão. “Esse curso tá sendo muito bom para cada um de nós, principalmente para o auxílio da nossa reinserção social. É uma ferramenta muito boa e aplicável na nossa vida, porque ele traz uma autoconfiança, a inteligência emocional a qual devemos, nós, equilibrarmos para termos o melhor de cada um de nós”, ressalta o custodiado Jefferson Ribeiro.
Em Marituba, no Presídio Estadual Metropolitano I, o Diretor Jair Guimarães ressalta a importância da ação para os gestores e servidores, que também participam. “Primeiramente, gostaria de agradecer pela oportunidade da gente aplicar esse curso aos internos e servidores. Isso vai ajudar na nossa gestão nas unidades prisionais, tendo em vista, o isolamento social, onde o preso está ocioso, então o curso vai mostrando que nós diretores estamos esforçados em ajudar os internos, reinventar pra quando ele sair, ter uma oportunidade lá fora”, afirma o diretor.
Curso atinge internos em todo o Estado
A 300 quilômetros de Belém, na ilha do Marajó, o custodiado em Breves, Alex Baia, destaca a lição aprendida: “Uma frase: o melhor da sua vida só acontecerá quando você não colocar o seu fracasso na culpa dos outros. Esse curso está me ajudando na grande transformação que vai acontecer na minha vida, agradeço ao CIS”.
Altemar Prata, custodiado em Itaituba, localizada a 1.300 quilômetros da capital paraense, reafirma a importância em aprender. “As grades que nos prendem, não acorrentam nossa mente, nossa mente continua livre para assimilar, principalmente para capturar esse tipo de conhecimento. Enquanto preso, quero agradecer a oportunidade”.
Já para Adelson da Vera Cruz e para Mayara da Silva, ambos custodiados em Marabá, região sudoeste do estado, este é o momento para a ressocialização. “Estou muito grato, estou aprendendo cada dia mais com o curso, a ser uma pessoa melhor para me reintegrar na sociedade”, observa Adelson.
Para Mayara, a oportunidade é muito edificante. "Está nos proporcionando a nos tornar pessoas melhores. Estamos começando aqui de dentro para quando chegar lá fora também podermos ajudar outras pessoas conseguir entender mais sobre as suas emoções”.
Além deles, outros internos dos regimes fechado e semiaberto, das unidades masculinas e femininas do interior do estado, participam da formação que, para estes, é voltada, sobretudo, à ressocialização e mostra o encurtamento das distâncias, por meio da tecnologia e da padronização de ações que vem sendo realizadas em todas as unidades prisionais do estado.
Os diretores de Breves e Itaituba destacam a importância do curso de inteligência emocional na ressocialização e a oportunidade que este representa. “Aliado à ressocialização, estudo e trabalho, precisa haver algo que vai motivá-los, sempre, a querer continuar e buscar o melhor. Esse curso traz isso, nesse momento, sempre pensando que esse momento da vida deles não é o fim, é algo que aconteceu, que estão aqui pagando, mas que existe uma vida pós-cárcere e que tem que ser pensada a partir de agora”, afirma o diretor do CRRB, Ocir Adam Silva.
“Quando mencionado que haveria esse curso ficamos gratos e surpresos ao mesmo tempo, posto que o apenado se sente mais integrado e mais valorizado enquanto ser humano, onde fica evidente a preocupação do Estado em ressocializar através da conscientização e nos moldes adequados”, afirma Fagner de Souza Sá, diretor do CRRI.