Boi Marronzinho leva resistência cultural e cidadania às ruas da Terra Firme
Há 32 anos, o cortejo do Boi Marronzinho leve a brincadeira do folguedo e consciência cidadã ao bairro
O cortejo do Boi Marronzinho tomou as ruas da Terra Firme, em Belém, neste domingo (22/6), em celebração aos 32 anos de trajetória dessa manifestação cultural que se consolidou como símbolo de resistência e afirmação de direitos na periferia da capital paraense. Com concentração e encerramento ocorreram no Curral Cultural “Seu Cici”, o desfile reafirmou o papel do Marronzinho na ocupação simbólica e política do bairro, reunindo moradores e admiradores da cultura popular.
A festividade reuniu não apenas moradores da Terra Firme, mas também grupos convidados como o Boi Prenda de São João, do próprio bairro, o Vagalume da Marambaia e o Rei da Barão, reforçando os laços entre diferentes territórios e coletivos da cultura popular de Belém. Após o percurso, houve distribuição de mingau, banho-de-cheiro e uma programação musical que teve como atração principal o grupo Zagaia, com repertório de carimbó, xote, brega e toadas.
Criado em 1993, o Boi Marronzinho surgiu num momento de apagamento das manifestações de boi-bumbá na Terra Firme. A iniciativa nasceu informalmente entre quatro amigos, em um contexto em que o bairro passava por um processo de expansão urbana e carência de políticas públicas. Desde então, a brincadeira se transformou em uma plataforma de mobilização social, atuando em frentes como o direito à cidade, sustentabilidade, educação e segurança alimentar.
“O Marronzinho surge em uma época em que a Terra Firme não tinha mais a brincadeira do boi-bumbá”, lembra Joelcio Ataíde, fundador do grupo. “Nós começamos a notar que, muito além da brincadeira do folguedo, essa comunidade era carente de tudo aquilo que era negado — dentro do campo dos direitos humanos, de cidadania, tudo era negado. Então o Boi Marronzinho dá uma guinada, que além da questão do folguedo, começa a trazer para suas discussões a necessidade de lutarmos por direito”, comentou.
Reconhecimento
Em 2024, o grupo foi reconhecido como Pontão de Cultura pelo Ministério da Cultura, o que o integra oficialmente à Política Nacional de Cultura Viva (PNCV). Com a conquista do título, o Marronzinho passa a integrar um sistema nacional de valorização das expressões culturais de base comunitária, ampliando sua capacidade de articulação e visibilidade. Além disso, o idealizador e fundador do grupo, Joelcio Ataíde, foi recentemente reconhecido pelo Ministério da Cultura como Mestre da Cultura Popular.
Cidadania
Entre as ações realizadas ao longo do ano estão aulas de reforço escolar, oficinas de musicalização e distribuição de alimentos em parceria com uma rede de supermercados. A trajetória do Marronzinho também é marcada por colaborações com a Universidade Federal do Pará (UFPA), sobretudo em iniciativas voltadas à sustentabilidade.
Uma das mais recentes conquistas, mencionadas por Joelcio Ataíde, foi a implantação da primeira Bacia de Evapotranspiração (BET) da Terra Firme, conhecida como “fossa de bananeira”, que é um sistema de tratamento de esgoto que utiliza processos naturais de evaporação e transpiração para remover a água do efluente, evitando a poluição do solo e de corpos d'água. A solução de baixo custo e impacto ambiental foi viabilizada por meio de um prêmio da Secretaria das Periferias, vinculada ao Ministério das Cidades. O projeto foi o primeiro colocado na região Norte e o quarto em todo o país.
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