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A cada dez minutos, um jovem tenta tirar a própria vida no país

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, apontam que o Brasil teve 100.678 casos de autolesão ou tentativa de suicídio

Vito Gemaque

Estudo recente da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) revelou que cerca de mil adolescentes perdem a vida por suicídio a cada ano no país. Os dados são alarmantes. A cada dez minutos, um adolescente comete algum tipo de autolesão ou tenta tirar a própria vida no Brasil. Apesar da Região Norte ter números bem menores que outras regiões, na comparação direta, pode estar havendo uma alta subnotificação de casos.

Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, apontam que o Brasil teve 100.678 casos de autolesão ou tentativa de suicídio. A região com a maior quantidade de casos foi o Sudeste que sozinho concentrou 46.918 registros. O Norte teve a menor de notificações de 5.303 casos. Os registros do Sinan são obrigatórios. Todos os profissionais que atendem adolescentes nessas condições devem seguir o protocolo de notificação. Apenas nos últimos dois anos, a média diária chegou a 137 atendimentos a jovens entre 10 e 19 anos.

De acordo com a presidente da Sociedade Paraense de Pediatria, Patrícia Carvalho, entre os grupos mais sensíveis de região segundo informações do Data SUS, o predomínio de casos no Norte estão na faixa-etária de 14 aos 19 anos, com menor escolaridade, em maioria pardos, e do interior do Estado. As causas por trás dessas atitudes extremas estão a baixo autoestima, o bullying e a depressão. A opção sexual está entre as causas principais para a autoagressão.

“Os números do Norte não refletem a realidade epidemiológica, existindo de fato uma subnotificação em virtude da falta de núcleos de vigilância epidemiológica estruturados, o que dificulta a alimentação regular do sistema levando a subnotificação, além de parte da população do Norte viver em áreas rurais, ribeirinhas ou indígenas, com baixa cobertura de CAPS, prontos-socorros e hospitais gerais, locais onde normalmente ocorre a notificação”, destaca.

Outro problema é o tabu sobre o tema do suicídio, que faz que a causa não conste nas declarações de óbito, e o preenchimento inadequado das fichas de violência do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que muitas vezes é classificado como “outras causas externas”.

A especialista alerta que apesar dos números parecerem baixos, a região Norte tem mais casos quando se analisa a proporção da população. “Não tem menos suicídios e automutilações em termos proporcionais — pelo contrário, estudos mostram taxas de crescimento elevadas, por exemplo mais de 56,6% entre 2010–2021 no Norte, contra o aumento de 42% no Brasil. O que ocorre é que a subnotificação é mais acentuada que em outras regiões, por fatores estruturais, culturais e de acesso”, aponta.

Carvalho aponta que a causa para automutilação é multifatorial. Na infância e adolescência, as situações estão muitas vezes ligadas com a forma de lidar com dor emocional intensa. Dentre os sinais de alerta para todos ficarem atentos estão isolamento social repentino, queda no rendimento escolar, irritabilidade e mudanças bruscas de humor, desinteresse por atividades antes prazerosas e falas sobre “não querer viver” ou se sentir inútil.

Outra orientação é que pais e responsáveis fiquem atentos aos sinais físicos e indiretos como marcas no corpo (arranhões, cortes, queimaduras), especialmente escondidas por roupas inadequadas ao clima, alterações no sono e apetite e dores sem explicações. Há também outros alertas nas redes sociais como mudanças no uso de redes sociais com exposição à conteúdos de automutilação ou suicídio e grupos virtuais de risco, e exclusão repentina de perfis ou mensagens de despedida.

A orientação dos especialistas é que trate-se a criança ou adolescente com empatia. Responsáveis devem buscar ajuda profissional imediata, não reforçar tabus ou minimizar a dor e fortalecer uma rede de apoio familiar, na escola e na rede de saúde.

“A infância e adolescência são uma fase do desenvolvimento humano onde se estrutura habilidades socioemocionais, autoestima, resiliência e vínculos afetivos. Sabe-se que metade dos transtornos mentais adultos começa antes dos 14 anos e que a intervenção precoce evita agravamento. A proteção e vigilância atenta das nossas crianças, reduz comportamentos de risco como drogas, violência, gravidez precoce e evasão escolar, buscando assegurar qualidade de vida, relacionamentos saudáveis e projetos de futuro”, assegura Carvalho.