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Adeptos de religiões de matriz africana celebram o Dia Nacional das Tradições em Marabá

O Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé foi instituído pela Lei nº 14.529, sancionada em janeiro de 2023, mesmo período em que foi sancionada também a Lei 14.532, que equipara injúria racial ao racismo

Tay Marquioro

Adeptos do candomblé, umbanda, espiritismo, catimbó e outras vertentes religiosas de matrizes africanas se reuniram para celebrar o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. O local escolhido para o evento também foi simbólico, o mirante do Encontro das Águas, no bairro Francisco Coelho, que marca o local onde começou a ocupação de Marabá e fica entre os rios Itacaiúnas e Tocantins. Curiosos e simpatizantes também prestigiaram a celebração que entoou pontos e orações a diversas entidades e santos.

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A data de 21 de março foi escolhida por ser no mesmo dia em que foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. “Hoje, é uma data comemorativa para os povos do terreiro. É um evento nacional e em Marabá não seria diferente. Nós estamos realizando este evento para esclarecer as pessoas, falando das nossas crenças e inclusive com palestras. Para mostrar a nossa fé à sociedade que não conhece realmente os fundamentos da umbanda”, explica Pai Sílvio.

A dona Francisca de Assis ou Mãe Dedé, como é conhecida, começou seu caminho espiritual nas afrorreligiões em 1961, quando ainda tinha 14 anos. Atualmente, ela é uma das mais antigas mães de santo do município. “Hoje, tenho 73 anos. Para mim, é um privilégio ver um momento como esse. É uma força muito grande, eu me sinto uma grande fortaleza, porque sempre fomos muito discriminados. Hoje, me sinto bem e espero que isso acabe. Espero em Deus, nos Orixás e nos homens”, diz emocionada.

'Quem é de axé, diz que é'

Sob o mantra “quem é de axé diz que é”, os filhos de santo – como são chamados os frequentadores de terreiros – mostraram que o tempo de se esconder já passou e a luta contra o preconceito e o racismo religioso, por diversas vezes, este no centro do debate. A pedagoga Vanda Melo, especialista em Promoção da Igualdade Racial na Escola e Saberes Africanos e Afro-Amazônicos pela Universidade Federal do Pará (UFPA), conduziu um bate-papo sobre o tema.

“É uma discussão muito pautada no sentido de acabar com crenças que foram instituídas historicamente, a partir do processo de colonização. A compreensão que nos foi ensinada, desde criança, é que essas religiões estão relacionadas com o diabo, com algo negativo, com a intenção de fazer mal para alguém”, conta a pesquisadora. “E esse é um processo que começou a ser construído quando nosso povo foi sequestrado na África e espalhado pelo mundo, na dinâmica da escravização. Esses eram alguns elementos que eram utilizados para justificar o processo de sequestro dessas populações. Então tudo o que é preto, tudo o que é relacionado à cultura preta foi definido como coisa ruim, coisa do mal, algo que não tem valor”, analisa Vanda.

O que diz a Legislação

O Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé foi instituído pela Lei nº 14.529, sancionada em janeiro de 2023, mesmo período em que foi sancionada também a Lei 14.532, que equipara injúria racial ao racismo. Esta última, prevê pena de dois a cinco anos de reclusão, além da aplicação de multa para quem injuriar qualquer pessoa em virtude de razão de raça, cor, etnia ou procedência nacional. A legislação abrange também às ofensas proferidas por meios de comunicação, como as redes sociais, por exemplo, além de injúrias proferidas no contexto de atividades esportivas, religiosas, artísticas ou culturais destinadas ao público.

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