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A história de Sebastião: o 'Uber bike' mais querido do Jaderlândia

Sebastião via os trabalhadores da bicicleta passando em frente a sua casa e decidiu se juntar ao grupo, há dez anos.

Igor Wilson

dez anos, Sebastião Jeremias estava sentado no pátio de sua casa, no bairro Jaderlândia, quando teve uma ideia que mudaria sua vida. Fazia pouco tempo que ele tinha visto algumas pessoas ganhando dinheiro com transporte de passageiros com bicicleta. “Rapaz, no comecinho achei que era uma ideia doida, porque tinham os mototáxis né, mas depois vi que tinha espaço pra todo mundo, alguns conhecidos começaram a ganhar dinheiro e pensei ‘porque não!?’”, conta.

Na época, Sebastião estava sem renda. Sua rotina se dividia entre as tarefas domésticas do cotidiano e a vida familiar. Olhou para sua bicicleta modelo Barra Forte. Estava precisando de uma reforma, mas nada que atrapalhasse seu início como ‘bike táxi’, ou ‘Uber Bike’, como o serviço ficou popularmente conhecido com o passar dos anos. “Dei uma reformada, mandei fazer uma garupa legal, acolchoada, e me mandei pra parada da BR na manhã do outro dia”, lembra Sebastião.

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O morador lembra que no seu primeiro dia já aprendeu o sistema da nova função, algo que ele cumpre rigorosamente até hoje. São dois turnos de trabalho, de manhã e pela noite, até terminar o fluxo de passageiros, que geralmente são moradores do bairro que descem do ônibus e não querem caminhar, seja por medo de assaltos ou cansaço. “De manhã, até umas 11h ou 12h, e a noite, à partir das 18h, é que aparecem os passageiros. Eles vão e chegam do trabalho, são muitos, o serviço não para durante essas horas”, conta.

MAIS BARATO QUE MOTO

Quando o passageiro desce do ônibus no perímetro dos bairros Guanabara e Jaderlândia, já é possível ver os trabalhadores do bike-táxi. Todos alinhados, aguardando a vez. Ao lado, ha alguns metros de distãncia, os mototaxistas, da mesma forma. Ao contrário do muitos podem pensar, não há divergências entre as classes atualmente. Mesmo que de maneira informal, cada uma conta com uma associação que representa os interesses e organiza o fluxo de trabalho e reinvindicações das classes, em harmonia. O serviço de transporte por bicicleta custa entre R$ 2 a R$ 3 mais barato, dependendo da distância percorrida.

“O preço depende de onde o passageiro mora. Se for aqui perto, até um quilometro, é R$ 3, se chorar fica até por R$ 2, dependendo do dia. De moto costuma ser R$ 4 ou R$ 5. Mas o tempo fez ambos perceberem que existe espaço pra todos. Tem cliente que está com pouco dinheiro, tem cliente que gosta de bicicleta, que não gosta de moto, são vários motivos”, diz Sebastião, se aprontando para deixar mais uma cliente em casa.

Certo de que aquela ideia que teve há dez anos foi algo bom em sua vida, o trabalhador agradece a Deus por ter lhe mostrado um ofício quando estava sentado em sua casa sem muitas perspectivas. Ser bike táxi lhe faz bem. Uma década se passou e Sebastião não consegue lembrar dos dias que não pegou sua bicicleta para ir trabalhar. “Faça chuva ou faça sol, estou aqui de manhã e a partir do final da tarde. Muitos clientes já me conhecem, alguns já mandam mensagem antes de descerem do ônibus, pra eu garantir a vaga deles”, diz Sebastião, partindo em seguida para mais uma viagem.

Pará