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A Cidade Modelo e o trem da história da ocupação nordestina do município castanhalense

Segundo o escritor Hugo Luiz de Souza, os imigrantes nordestinos foram os verdadeiros desbravadores das terras por onde passava a ferrovia Belém -Bragança

Patrícia Baía

Se você não conhece a história da construção e do povoamento do
município de Castanhal, no nordeste do Pará, e passar algumas horas
andando pela cidade vai pensar que está em algum lugar da região
nordeste brasileira. Você vai escutar um sotaque diferente, e
principalmente se você for de Belém, aí é que vai estranhar. É, aqui é uma cidade construída por nordestinos, sobretudo por cearenses, que foram os primeiros a chegar, no final do século XIX.

De acordo com relatos do memorialista e escritor Hugo Luiz de Souza, os imigrantes nordestinos foram os verdadeiros desbravadores das terras por onde passava a ferrovia Belém -Bragança. “O governador Paes de Carvalho chamou os nordestinos, principalmente dos cearenses, pois o estado do Ceará, assim como toda a região, passava por severa seca e eles não tinham trabalho. Os nordestinos trabalhavam mais com a agricultura e a seca os prejudicava. Foi então que o governador chamou os nordestinos para serem a principal mão de obra para a construção da ferrovia”, explicou.

Castanhal foi se desenvolvendo e crescendo no entorno da estrada de
ferro, com ajuda dos imigrantes nordestinos. Hoje, o município que é o
polo da região nordeste paraense, é a terra de cearenses,
pernambucanos, maranhenses e de todos os nordestinos que aqui estão. Por isso os sotaques se misturam, e quem escuta, pensa logo que não é de paraense. As comidas típicas do município não são o tacacá, maniçoba ou pato no tucupi. Aqui tem gosto de baião de dois, macaxeira frita com manteiga de garrafa, carne de sol e cuscuz. E a música é o bom e velho forró. Inclusive, Castanhal já é conhecida como a cidade do forró de rua.

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Os avós de Thiago foram os primeiros a chegar, em 1974, e após muito trabalho conseguiram se estabelecer e convidaram o restante da família que estava no Rio Grande do Norte para vir morar em Castanhal. “Foi assim que viemos. Lá estava muito difícil e a falta de água também. Então meu avô chamou todo mundo para trabalhar com ele, que já tinha um caminhão e trabalhava com estiva e entregas”, contou o empresário.

Aos 10 anos começou a trabalhar. Foi carregador do caminhão do avô,
trabalhou selecionando frutas e verduras, no comércio de varejo, foi
gerente de supermercado e hoje é um dos grandes empresários do setor de distribuição de bebidas e água mineral do município.

“Meu coração é paraense e eu me sinto do Pará. Casei com uma paraense e tenho dois filhos paraenses. Aqui me sinto em casa. E Castanhal para mim é um pedaço do nordeste. Sou muito grato a essa terra e foi aqui que conquistamos e construímos tudo que temos e foi com muito esforço”, enfatizou Thiago Lira.

“O prestação”

Em Castanhal e em vários municípios do nordeste paraense é muito
comum ver um vendedor de rua batendo de porta em porta oferecendo
seus produtos. E tem de tudo na carrocinha atracada ao carro, ou ao
porta-malas. São tapetes, espelhos, jogos de colcha de cama, panelas, cadeiras e outras coisas. Eles são chamados de “prestação”. Vendem para pagar depois em suaves prestações. Esse modo de venda é tradicional dos cearenses. Foi assim que Francisco Genivaldo de Freitas Silva, o seu Genivaldo, de 52 anos, começou a trabalhar em Castanhal. Ele é do município de Parambu, no Ceará. “Eu me considero uma pessoa abençoada por Deus. Cheguei aqui com oito anos, e ficava observando meu pai que também já trabalhava com as vendas e assim consegui chegar no patamar que hoje estou”, contou seu Genivaldo.

Ele nos contou que lá no Ceará a vida era muito difícil e que seu pai,
Antônio Jorge da Silva trabalhava na roça desde criança, mas que queria outro tipo de vida. “Ele soube que aqui em Castanhal tinham condições melhores de trabalho e foi assim que tudo começou. O cearense quando vem para o Pará começa a vender de porta em porta os utensílios”, relembrou seu Genivaldo.

E já são mais 40 anos morando na cidade que o acolheu e por isso seu Genivaldo se diz um apaixonado e defensor do Pará e da Cidade Modelo.  “Tenho gratidão por tudo e não gosto que falem mal daqui. Hoje nossa cidade é promissora e sei que o nordestino contribuiu bastante para isso. Quando a gente sai da nossa terra é pra guerrear e somos vencedores”, finaliza o vendedor.

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