MENU

BUSCA

Tradição de ilha dinamarquesa promove o massacre de 1.400 golfinhos e gera indignação

A prática nas Ilhas Faroé está sendo questionada por grupos conservacionistas internacionais após captura recorde

O Liberal

Uma tradição cruel que pode estar com os dias contados. A caça de mamíferos marinhos praticada por moradores das Ilhas Faroé, território autônomo da Dinamarca, provocou uma cena de verdadeira selvageria no último domingo (12), deixando ambientalistas indignados em todo o mundo. O caso foi repercutido no portal Pragmatismo Político. 

Conhecida como grind (ou Grindadrap em feroês), a prática consiste em cercar grandes cardumes de baleias ou golfinhos com o auxílio de barcos e empurrá-lo para uma parte mais estreita e rasa da praia Skalabotnur, em Eysturoy, onde são mortos de forma brutal.

A matança de animais nesse ritual remonta há centenas de anos e é aprovada pelas autoridades locais. Mas, o que foi visto no último domingo deixou até mesmo os moradores da remota ilha do Atlântico Norte chocados. Mais de 1.400 mamíferos foram mortos em um único dia, um patamar de captura recorde. Um grupo de golfinhos-de-faces-brancas foi conduzido para o maior fiorde do território até as águas rasas da praia Skalabotnur, onde foram mortos a facas. E as carcaças foram transportadas para a terra e distribuídas aos moradores para consumo.

Registros feitos por moradores nesse dia mostram golfinhos se debatendo nas águas, que ficaram vermelhas de sangue enquanto centenas de pessoas assistiam da praia, inclusive crianças.

Praticantes do grind defendem que a caça aos mamíferos marinhos é uma forma sustentável de coletar alimentos da natureza e uma parte importante da identidade cultural nas Ilhas Faroé. Mas os ativistas pelos direitos dos animais consideram um massacre cruel e desnecessário.

De acordo com o governo local, uma média de 600 baleias-piloto e 40 golfinhos-de-faces-brancas são capturados todos os anos, em média. Mas para o biólogo marinho Bjarni Mikkelsen, os registros mostram que este foi o maior número de golfinhos já morto em um dia no território. O recorde anterior era de 1.200, em 1940.

Até o presidente da Associação de Baleeiros das Ilhas Faroé, Sjurdarberg, admitiu que a matança foi excessiva. “Quando o grupo foi encontrado, estimava-se que eram cerca de 200 golfinhos. Só depois que descobrimos o verdadeiro tamanho do grupo. Alguém deveria ter avaliado melhor. A maioria das pessoas está em choque com o que aconteceu”, disse. Todavia, ressaltou que nenhuma lei foi infringida.

A caça aos mamíferos aquáticos é regulamentadas nas Ilhas Faroé. Não são feitas com fins comerciais, mas, organizadas pela própria comunidade, de forma espontânea, quando alguém avista um grupo de mamíferos. E há regras para participar, dos caçadores é exigido um certificado oficial de treinamento que os habilite a matar os animais.

O deputado dinamarquês das Ilhas Faroé, Sjurdur Skaale, reconhece que a prática é legal, mas não popular. Ele visitou a praia de Skalabotnur para falar com os habitantes locais no dia seguinte ao massacre e disse que as pessoas ficaram furiosas. Ainda assim, defendeu a tradição desde feita da "maneira correta", utilizando-se uma lança usada para cortar a medula espinhal da baleia ou do golfinho antes de o pescoço ser cortado, o que leva o animal à morte em menos de um segundo.

A argumentação do parlamentar foi rechaçada pelo grupo ambientalista Sea Shepherd, que contestou a rapidez com que os animais são mortos, assim como o ritual da caça em si. “As caçadas de Grindadrap podem se transformar em massacres prolongados e frequentemente desorganizados”, diz o grupo. “As baleias-piloto e golfinhos podem ser mortos por longos períodos na frente de seus parentes enquanto estão encalhadas na areia, nas rochas ou apenas lutando em águas rasas.”

Mundo