Retorno do voo direto Belém-Lisboa anima paraenses que moram e têm negócios em Portugal

A rota voltará a ser ofertada pela TAP a partir do dia 31 de outubro, com dois voos semanais, que sairão sempre aos domingos e às quartas-feiras

Anna Carla Ribeiro / Especial para O Liberal
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Pouco mais de seis mil quilômetros separam as cidades de Belém do Pará e Lisboa. A distância, por si só, já é um tanto considerável. Mas, nessa viagem, deve-se acrescentar, ainda, diferenças culturais, um jeito de falar diferente – apesar da mesma língua - e os contrastes climáticos. Mesmo assim, ano após ano, muitos paraenses juntam-se aos milhares de brasileiros que buscam tentar uma vida do outro lado do Oceano Atlântico. Muitos deles apostaram carreira e negócios em terras portuguesas. Para esses paraenses, principalmente, há uma grande expectativa quanto ao futuro: depois de mais de um ano parado por conta da pandemia da Covid-19, o voo direto Belém – Lisboa – Belém, da companhia aérea TAP, vai voltar a ser operado a partir de 31 de outubro.

Uma dessas pessoas é a empresária Andressa Pimenta. Hoje, com morada em Lisboa, Andressa passou boa parte da sua infância no meio de uma plantação de açaí, a brincar com a colheita do fruto, descer ladeira abaixo em carrinhos improvisados e voltar para a casa com os pés sujos de terra. Morava em Belém. Porém, todos os finais de semana, ia ao sítio do pai, em Santa Izabel do Pará, local em que ele iniciou a cadeia de produção do açaí, em 1997. “Nós vimos tudo desde o início. O meu pai plantou, a plantação cresceu e eu o acompanhei na colheita dos primeiros frutos”, destacou.  

Em 2013, a família abriu uma indústria para beneficiar o açaí. Mesmo sendo advogada, Andressa sempre estava dentro da fábrica, que já produzia polpas e gelados. “Me casei, o meu marido também começou a trabalhar comigo. E a gente achava que precisava de mais. Foi aí que veio a ideia de trazer o produto para a Europa. Foi muito pelo fato de que eu vivi com esse produto a vida inteira”.

Mudaram-se, ela e o marido, Daniel Pimenta, para Lisboa em agosto de 2019. Abriram, junto com mais dois sócios, uma distribuidora de açaí na capital portuguesa. Passaram pelos perrengues de quem vai para longe das suas raízes. Enfrentaram diferenças culturais, as saudades da família e dos amigos, o gélido inverno europeu, além de terem passado pelos rigorosos meses de confinamento, após o início da pandemia da Covid-19, em 2020.

“Eu sempre quis alçar novos voos. Mas foi um choque. Vim com a minha filha, que na época tinha quatro anos. Antes, eu tinha toda uma rede familiar e de amigos. Depois passou a ser eu, o meu esposo e a nossa filha. Foi muito difícil ter de lidar com a adaptação de uma criança. Além disso, teve o inverno, o fato de as roupas não secarem. Culturalmente, sofri alguns atos de xenofobia, tive que me impor em algumas situações. Mesmo assim, considero que fui muito bem acolhida por Portugal. Muitas vezes eu senti que eu estava em Belém, já que a nossa cidade é a capital do Brasil que mais se assemelha à cultura portuguesa. Às vezes eu estava andando na rua e pensava ‘Meu Deus, parece que estou na Cidade Velha’”, contou.

Hoje, a empresa de Andressa já distribui polpa de açaí e gelados da fruta e de outros sabores, como banana e maracujá, para várias cidades portuguesas, Espanha e há planos para entrar no mercado da França. A empresa também distribui, em pequena quantidade, para a Bélgica e Holanda. No total, desde que o negócio foi iniciado no exterior, foram distribuídos cerca de dois containers à Europa, cada um com 32 mil quilos de produtos.

Com a facilidade de um voo direto entre Belém e Lisboa, Andressa mostra-se otimista. “Acreditamos que o retorno do voo direto Belém - Lisboa vai permitir que a comunidade paraense venha para cá com mais facilidade. Facilitará também que a comunidade portuguesa conheça o Pará, principalmente a cultura. Com essa aproximação, a busca por produtos do Pará será intensificada pelos próprios portugueses e, assim, o nosso negócio tende a crescer mais”.

Natural de Belo Horizonte, a advogada Jessica Ramos se considera paraense, já que seus pais são de Belém e desde muito pequena veio morar na capital papa chibé. Em 2013, com apenas 24 anos, viajou de Belém para Lisboa para fazer mestrado e passou um ano dedicada aos estudos. “Acabei por me apaixonar por Lisboa. Depois de uma semana aqui, eu já sabia que era o lugar que eu queria ficar. Depois isso foi só se solidificando, com o passar dos anos”, destacou.

image Jéssica Ramos possui um escritório de advocacia na capital portuguesa (Junio Caetano / Divulgação)

Das dificuldades que ela teve, ressaltou as diferenças da língua entre os dois países. “Nós não estamos habituados ao português de Portugal. Eu me lembro da primeira aula que tive, eu abri o computador para fazer os apontamentos e o professor começou a falar. Eu escrevi apenas uma linha porque ou eu tentava entender o que o professor falava ou eu anotava”, afirmou.

Após finalizar o curso, ela entrou no mercado de trabalho local e atuou em diversos escritórios de advocacia, por cerca de seis anos. Depois desse tempo, veio a vontade de abrir o seu próprio escritório. Há pouco mais de um mês, Jessica abriu o escritório, junto com outros seis associados. “Tentei alugar uma sala um pouco antes da pandemia. Mas, quando ela chegou, tive que dar um passo para trás. Entreguei a sala e voltei a trabalhar em outros escritórios. Agora retomei o projeto com pessoas que eu acredito no potencial. Está sendo cansativo, mas é muito gostoso também pensar nas realizações. Eu sou uma menina do bairro da Sacramenta, cresci sabendo que a minha avó lavava roupa e cozinhava para o bairro. Eu sabia que o que os meus pais podiam me dar era estudo”, explicou.

Agora, sabendo que daqui a algumas semanas já será possível pegar um avião e em menos de oito horas sair de Lisboa e chegar em Belém, Jessica comemora não só a possível aproximação com clientes paraenses, mas também uma forma mais prática e rápida de matar as saudades. “Para os clientes, tem a vantagem de ter essa proximidade com muito mais vantagem do que fazer um voo muito mais longo para outro Estado do Brasil e depois ainda ter que fazer voos domésticos. E para mim também. Hoje em dia Lisboa é a minha casa, mas Belém é a minha terra. É onde eu tenho todas as minhas referências de vida, de história, a minha família, desde falar com amigos e lembrar de gírias, expressões e locais. Sinto muitas saudades da família e do sentimento de pertencimento. Por mais que eu seja integrada aqui – e sou muito bem integrada - acho que é a sensação de saber que você é de um lugar”, confessou.

Retorno do trecho

O voo da TAP Belém – Lisboa volta a ser operado no dia 31 de outubro, com a volta, Lisboa – Belém, programada para o dia 1 de novembro. Serão, ao todo, dois voos semanais, que sairão sempre aos domingos e às quartas-feiras. De acordo com o diretor-geral da TAP no Brasil, Mario Carvalho, a expectativa é positiva. “Por causa da pandemia, a Europa ficou fechada para turistas brasileiros por cerca de um ano e meio. A abertura do mercado e, consequentemente, a volta do voo, são motivos de comemoração por si só”.

Porém, Mario Carvalho ressalta que é preciso que haja um esforço para que o Pará, assim como o resto do Brasil, seja visto como um destino seguro aos olhos do turista europeu. “Após a abertura de Portugal para os brasileiros, a procura pelo destino mais do que triplicou. Mas não é o que acontece no sentido contrário. Se Belém conseguir se divulgar internacionalmente como um destino seguro, tem tudo para ter um retorno econômico muito positivo”, afirmou.  

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