MENU

BUSCA

ONG católica gasta cerca de 22 milhões para rastrear padres gays em aplicativos de namoro

A organização obteve dados dos usuários na internet e divulgou para todos os bispos dos Estados Unidos

Vitória Reimão

Nos Estados Unidos, uma investigação revelou que um grupo de católicos conservadores do estado de Colorado investiu R$ 22 milhões para a compra de dados de usuários na internet. O objetivo era identificar o nome de padres que usam aplicativos de encontros direcionados ao público gay

A Catholic Laity and Clergy for Renewal, uma organização não-governamental de Denver, foi o grupo que obteve os dados e compartilhou com todos os bispos do país, segundo a investigação feita pelo jornal americano Washington Post. As informações foram vendidas aos sites e aplicativos de empresas, com a proposta de que sejam traçados perfis demográficos de comportamento. 

O grupo, segundo as informações do veículo americano, cruzou os dados de localização dos aplicativos e outros detalhes com a localização de igrejas, locais de trabalho e seminários para encontrar clérigos supostamente ativos nos apps. Esse uso dos dados pode simbolizar uma nova fronteira de vigilância em que pessoas físicas podem rastrear as localizações e atividades de outros americanos usando informações disponíveis comercialmente.

"O poder dessa história é que muitas vezes você não vê onde essas práticas [de rastreamento de dados] estão ligadas a uma pessoa ou grupo de pessoas específico. Aqui, você pode ver claramente esse link", disse Justin Sherman, membro sênior da escola de políticas públicas da Duke University, que se concentra em questões de privacidade de dados. 

VEJA MAIS

Explosão em mina de carvão na Colômbia deixa ao menos 11 mortos
Dez pessoas ainda estão presas no subsolo, a 900 metros de profundidade

Paciente americana é curada do HIV após transplante de células-tronco
O caso foi publicado na revista Cell na última quinta-feira (16)

Presidente da Fifa fala sobre casos de racismo contra Vinicius Jr. e se solidariza
Gianni Infantino citou orientações da Fifa sobre casos durante a Copa do Mundo do Catar

Nenhuma lei de privacidade dos EUA proíbe a venda desses dados. Entretanto, nem o Grindr e outros aplicativos que estão envolvidos na investigação da ONG, como Scruff, Growlr e Jack'd, compartilharam seus dados com o grupo. 

As informações revelam que uma dezena de padres foi confrontada após a divulgação do caso. Entre os nomes, Jayd Henricks, um dos principais integrantes da organização, recusou-se a responder às perguntas do portal americano, mas publicou um artigo de opinião no site First Things, no qual dizia se sentir "orgulhoso do projeto", com o propósito de "ajudar a igreja a ser santa". 

No artigo, Jayd disse que "não se trata de padres e seminaristas heterossexuais ou gays. Trata-se de um comportamento que prejudica todos os envolvidos, em algum nível e de alguma forma, e é um testemunho contra o ministério da Igreja”. 

Pessoas que participaram do projeto também estavam envolvidas na divulgação do perfil do padre Jeffrey Burril em um site de namoro. O pároco administrava a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA e teve suas informações reveladas em meados de julho de 2021.

Um site de notícias católicas chamado Pillar revelou que Burril era um usuário regular do aplicativo e que tinha ido a um bar gay, além de usar uma casa de banho e spa para homossexuais. Logo depois, Burril renunciou ao cargo de administrador e o site Pilar não chegou a revelar de onde vieram seus dados. 

De acordo com a reportagem do Washington Post, as pessoas que estavam por trás da saída de Burril e a extensão do projeto não eram de conhecimento público, nem o fato de que o rastreamento continuou por pelo menos mais um ano após o incidente. Em anonimato, duas pessoas da Igreja Católica alegam que o projeto é um ato de "espionagem e coerção" e que prejudicaria a relação entre padres e bispos sob a imagem da instituição eclesiástica. 

Oficialmente, a missão da ONG católica é "capacitar a igreja para cumprir sua missão" dando aos bispos "recursos para identificar as falhas na forma como ensinam os padres". Mas, quem é de fora do meio religioso, considera que a ação é um rastreamento para vigiar o público gay.

(*Vitória Reimão, estagiária sob supervisão de Hamilton Braga, chefe de reportagem de O Liberal)

Mundo