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No Pará, especialistas analisam cenário no Afeganistão: ‘Momento de soberania’

Responsável pelo Centro Islâmico Cultural do Pará, Said Mounsif ressaltou o desejo do país em ser independente. Mário Tito, doutor em relações internacionais, citou fracasso da ocupação americana

Eduardo Laviano

O mundo tem assistido com apreensão e muita atenção cada passo do retorno do Talibã ao comando do Afeganistão desde a noite da última sexta-feira (13) e no Pará não é diferente.

Para o professor Said Mounsif, da Faculdade de Engenharia Naval da Universidade Federal do Pará e responsável pelo Centro Islâmico Cultural do Pará, o que mais impressionou foi a rapidez do grupo que volta ao comando do país depois de 20 anos de ocupação estadunidense.

O efeito dominó começou na noite de sexta-feira pelo norte do país.

No sábado (14) de manhã, as forças do Talibã já haviam progredido rumo ao sul e o sudoeste, tomados sem maior esforço bem como a cidade de Mazar-i-Sharif.

No domingo foi a vez de Jalalabad, que liga a capital ao Paquistão. Horas depois, Herat e Lashkar Gah se renderam diante de um cerco e Cabul, enfim, caiu, sem resistência do governo local.

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Tito acredita que a União Europeia evita se manifestar sobre qualquer coisa que vá além das portas abertas para os refugiados e que a Organização das Nações Unidas está escondida, "sem saber o que fazer".

E ele concorda com Saif sobre o fracasso da ocupação americana. 

"O Afeganistão antes da guerra fria era um país até desenvolvido. O livro O Caçador de Pipas fala sobre um Afeganistão próspero. A Guerra Fria chega e gera a Al-Qaeda e o Talibã, além das perdas das estruturas sociais. Esses 20 anos representaram uma presença para proteger as fontes petrolíferas lá com a desculpa de estabelecer uma democracia. Não estabeleceram sobre aspecto nenhum a possibilidade do país se sustentar após a retirada", diz. 

A bomba explodiu nos colos do presidente Joe Biden. Tito avalia que a pressão dos norte-americanos era muito grande e que todos os presidentes anteriores ao democrata já sabiam que precisavam se retirar do Afeganistão, apesar de terem gastado um trilhão de dólares antes fazê-lo.

O professor lamenta que o fato de que o Brasil não poderá fornecer nenhum tipo de apoio para a crise internacional e acha que as coisas teriam sido diferentes anos atrás.

Para ele, o alinhamento automático do atual governo com o ex-presidente Donald Trump e outras apostas em líderes que não estão mais no poder trouxe prejuízos. 

"A tradição diplomática brasileira sempre foi de mediação de conflito, que poderia chegar ao acordo entre as partes e conclusão de ganho e ganho. O grande problema é que o Brasil nos últimos anos perdeu muito capital diplomático no mundo e não é mais visto como um grande player [ator, em inglês] e perdeu espaço inclusive para outros países da América Latina", diz.

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