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Na Argentina, taxista peronista 'a vida toda' conta por que votou em Milei, que toma posse

Imprevisível Javier Milei terá a insólita missão de fazer os argentinos voltarem a acreditar que este ainda é um país com futuro

Gustavo Freitas - Especial para O Liberal
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Saindo do Ezeiza, o principal aeroporto de Buenos Aires, vim conversando com um taxista que dirigia um Corsa antigo, que provavelmente é mais velho do que eu. Estava nos meus planos puxar conversa para falar de Javier Milei, mas o senhor de voz agitada foi mais rápido.

Ele me avisou que neste final de semana o novo presidente assumiria o país. Contei a ele que vim exatamente para isso, e foi aí que o trajeto se tornou curto para o diálogo que tivemos.

O motorista se chama Diego e mora em Buenos Aires desde que nasceu. Disse que já viu tudo na política argentina e que cansou de acreditar nas “boludeces” ditas por todos. Votou em Milei porque cansou. Ele admite não ter certeza de qual será o futuro, mas pondera que a situação está se deteriorando tanto que “dar um tiro no escuro é melhor que se atirar olhando no espelho”.

Diego foi peronista a vida toda e afirma que todos os argentinos mais velhos, em algum momento da vida, já foram peronistas, ainda que por um dia. O peronismo está intrinsicamente ligado ao povo há décadas e é impossível imaginar a política diária sem que este nome ecoe nas discussões, nos momentos bons e ruins.

O simpático taxista recordou que foi feliz no governo de Nestor Kirchner, seu peronista predileto, mas diz que o político foi também sua maior decepção. Diego sempre precisou trabalhar muito para ter as suas coisas, mas conseguia viajar com a família no verão. Gostava de ir até Pocitos, próximo à Patagônia, para visitar a família. Hoje, sente que trabalha dobrado para ter comida na mesa.

Sucessivos erros penalizam a população, que tem ficado cada vez mais pobre

Este não é um discurso solitário de um taxista frustrado em Buenos Aires, a cidade está cheia de Diegos que estão cansados. O problema político no país transcende o agora ex-presidente e, na minha opinião, é maior que apenas o peronismo. Entre os últimos mandatários, Maurício Macri não era um peronista e também foi um fracasso. São sucessivos erros que penalizam a população, que tem ficado cada vez mais pobre.

Já estive na Argentina sob o governo de Maurício Macri, Alberto Fernández e, agora, com Milei. Com Macri, vi protestos pesados após o descongelamento do preço do gás, que aumentou em 400% o preço final para os argentinos. Sob Fernández, presenciei cidadãos irritados com a quarentena mais longa do mundo durante a pandemia, enquanto o presidente foi pego fazendo festa na residência oficial e, hoje, deixa um país ainda pior economicamente do que encontrou.

Cienma argentino mostra paradoxos do país

No fantástico cinema argentino tem um filme que se chama “Made in Argentina”, que conta a história de dois irmãos que foram separados na ditadura. O mais velho se exilou em Nova York, o outro ficou em Buenos Aires. O irmão exilado passou a viver melhor, se vestia e morava bem, enquanto o outro trabalhava duro para ter o mínimo.

A narrativa termina com o irmão residente tentando convencer a esposa a se mudar para Nova York, mas ela prontamente recusa. Em discussões acaloradas, ela dizia que a Argentina já havia tirado muito deles, mas ainda eram alguém no país. Quando precisaram, os vizinhos ajudaram. E, em Nova York, não seriam ninguém. Esta, também, é a história de Diego.

Ao ser indagado se sairia da Argentina, negou com a mesma contundência com que critica o governo. Nos últimos anos, o país mais tirou do que ajudou, mas sair não é uma opção.

O imprevisível Javier Milei terá a insólita missão de fazer os argentinos voltarem a acreditar que este ainda é um país com futuro. Para Diego, o futuro significa voltar a levar sua família para a praia em Pocitos. Não é muito, mas na Argentina de hoje, é um sonho distante.

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