França vai devolver obra de arte vendida durante o regime nazista a família judia
Segundo ministra da Cultura da França, Roselyne Bachelot, restituir a pintura aos seus verdadeiros donos é um reconhecimento dos crimes sofridos por eles
Um quadro famoso do pintor austríaco Gustav Klimt será devolvido pela França para os herdeiros de uma família judia que se viu forçada a vendê-lo para tentar sobreviver durante o regime nazista, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Segundo a ministra da Cultura da França, Roselyne Bachelot, restituir a pintura aos seus verdadeiros donos é um reconhecimento dos crimes sofridos por eles. Para ela, o quadro é uma testemunha das "vidas destruídas" pelos nazistas.
O governo francês comprou a pintura, a sua única de Klimt, em 1980, sem saber da história por trás da comercialização do quadro. Antes da Segunda Guerra Mundial eclodir, a dona de "Rosier sous les Arbres" (Roseiras sobre as Árvores) era Nora Stiasny, de uma conhecida família judia na Áustria. Ela herdou o quadro do tio, o empresário austríaco e colecionador de arte Viktor Zuckerkandi - contou a ministra da Cultura da França numa coletiva de imprensa no Musée d'Orsay, em Paris.
Stiasny foi forçada a vender a pintura em agosto de 1938 por um valor muito abaixo do mercado, meses depois de os nazistas anexarem a Áustria à Alemanha, para sobreviver financeiramente. Em 1942, ela foi deportada para um campo de concentração nazista na Polônia, onde morreu no mesmo ano. A primeira pessoa a comprar o quadro dela foi um negociante de arte que manteve consigo a pintura até morrer, na década de 60.
A França comprou "Rosier sous les Arbres" num leilão em 1980 para o Musée d'Orsay. "Hoje nós sabemos que é uma obra que foi saqueada na Áustria, em agosto de 1938", disse Bachelot aos repórteres. A ministra destacou que a decisão de devolver o quadro foi "difícil".
"Significa tirar uma grande obra de arte da nossa coleção nacional que é a única pintura de Gustav Klimt que a França possui", disse. "Mas essa decisão é necessária, essencial. Oitenta e três anos depois da venda forçada da pintura por Nora Stiasny, essa medida é um ato de justiça."
Os beneficiários da decisão da França são os descendentes da irmã de Nora Stiasny. O governo francês vai ter que aprovar uma lei para permitir que o quadro seja retirado da coleção nacional e entregue a essa família, acrescentou a ministra da Cultura. Em 2017, um pintura floral de Gustav Klimt foi vendida por quase 48 milhões de libras na casa de leilões Sotheby's, em Londres.