França planeja prisão de segurança máxima na Amazônia para traficantes e radicais islâmicos
O complexo carcerário custará 450 milhões de dólares (R$ 2,5 bilhões) e terá capacidade para 500 presos, com 15 vagas para condenados por radicalismo islâmico

O governo francês anunciou que planeja construir um anexo de segurança máxima na Guiana Francesa, com inauguração prevista para 2028. O projeto, voltado a abrigar traficantes e condenados por radicalismo islâmico, gerou forte reação de moradores, parlamentares e autoridades locais, que denunciam a falta de diálogo e criticam a decisão como reflexo de práticas coloniais.
A unidade será erguida em Saint-Laurent-du-Maroni, na selva amazônica, como parte de um complexo carcerário de 450 milhões de dólares (R$ 2,5 bilhões) e capacidade para 500 presos. Sessenta vagas serão destinadas ao regime de segurança máxima, incluindo 15 para condenados por radicalismo islâmico. Segundo o ministro da Justiça, Gérald Darmanin, o local remoto dificultará o contato dos líderes do tráfico com suas redes criminosas. “O objetivo é tirá-los de circulação permanentemente”, afirmou ao Journal du Dimanche.
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A proposta, porém, contraria o acordo firmado em 2017, que previa uma nova prisão apenas para reduzir a superlotação no território. Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa, criticou o governo por não consultar os representantes locais. “Transformar a Guiana em depósito de criminosos e radicalizados da França continental é inaceitável”, afirmou.
Críticas ao projeto
O deputado Jean-Victor Castor também repudiou a medida, chamando-a de “provocação política” e “retrocesso colonial”. A nova prisão será construída próxima ao antigo Campo Penal de Saint-Laurent-du-Maroni, ativo do século 19 até meados do século 20, que abrigou prisioneiros políticos em condições degradantes e inspirou o livro Papillon.
A cidade foi escolhida por sua localização estratégica — na fronteira com o Suriname e próxima ao Brasil — e por ser rota frequente do tráfico de cocaína rumo à França. Em 2023, a Guiana Francesa registrou 20,6 homicídios por 100 mil habitantes, a maior taxa proporcional do país, 14 vezes a média nacional.
Apesar do alto índice de criminalidade, líderes locais defendem que as soluções de segurança devem ser construídas com participação da população. “Combater o crime é necessário, mas não com decisões unilaterais”, declarou Castor.
O governo ainda não respondeu formalmente às críticas. A expectativa é que ocorra uma revisão do projeto ou ajustes que contemplem as reivindicações regionais.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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