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Trump associa, sem provas, autismo ao uso de paracetamol e a vacinas em bebês

Declaração polêmica foi feita ao lado de Robert F. Kennedy Jr.

Hannah Franco

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez nesta segunda-feira (22/9) uma série de declarações polêmicas durante coletiva de imprensa, nas quais associou, sem apresentar provas, o uso do medicamento Tylenol (paracetamol) durante a gravidez ao desenvolvimento de autismo em crianças. Trump também voltou a criticar o atual calendário de vacinação infantil, afirmando que “bebês recebem até 80 vacinas de uma vez”.

As declarações foram feitas ao lado do secretário de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por suas posições controversas sobre vacinas.

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Alerta sobre paracetamol na gravidez

Segundo Trump, a FDA (agência reguladora de medicamentos dos EUA, equivalente à Anvisa) irá emitir notificações a médicos recomendando cautela no uso de paracetamol por gestantes. “Tomar Tylenol não é bom. Vou dizer, não é bom”, declarou Trump. Ele defendeu que o medicamento seja evitado durante a gestação, “a menos que seja estritamente necessário”.

Contudo, não há comprovação científica de que o uso do paracetamol cause autismo.

O paracetamol, conhecido comercialmente como Tylenol nos Estados Unidos, é um dos medicamentos mais usados no mundo para tratar febre e dor leve a moderada. Durante a gravidez, ele é considerado seguro por médicos e órgãos reguladores, sendo preferido justamente porque anti-inflamatórios não esteroidais, como o ibuprofeno, não são recomendados para gestantes.

‘Não há base científica’

A farmacêutica Kenvue, responsável pela produção do Tylenol (e que se separou da Johnson & Johnson em 2023), respondeu às declarações de Trump com veemência. “A ciência sólida mostra claramente que tomar paracetamol não causa autismo”, disse a empresa em comunicado.

A resposta veio logo após a coletiva, como forma de evitar que a desinformação afete o uso correto e seguro do medicamento por gestantes.

Durante a mesma coletiva, Trump também fez novas críticas às vacinas aplicadas em recém-nascidos. Segundo ele, “os bebês são carregados com até 80 vacinas de uma vez”, o que, segundo o presidente, estaria ligado ao aumento dos casos de autismo.

Essa associação, porém, já foi amplamente desmentida por estudos científicos. A teoria de que vacinas causam autismo surgiu com base em um estudo fraudulento publicado em 1998, que já foi retirado e repudiado pela comunidade médica.

A vacinação infantil continua sendo uma das estratégias de saúde pública mais seguras e eficazes para prevenir doenças graves, como sarampo, coqueluche, poliomielite e hepatite B.

Trump chegou a afirmar que crianças não deveriam ser vacinadas contra a hepatite B, por ser “sexualmente transmissível”. Porém, médicos alertam que o vírus também pode ser transmitido da mãe para o bebê durante o parto — o que justifica a vacinação neonatal.

Trump cita ‘leucovorina’ como possível tratamento

Além das críticas ao Tylenol e às vacinas, Trump e Kennedy Jr. apresentaram um medicamento chamado leucovorina como possível tratamento para sintomas do transtorno do espectro autista (TEA).

A leucovorina é um fármaco utilizado originalmente na década de 1950 para reduzir os efeitos colaterais da quimioterapia. Estudos recentes apontam possíveis benefícios em alguns casos específicos de autismo, mas não há aprovação oficial para esse uso, e especialistas alertam para os riscos da automedicação.

O autismo, ou transtorno do espectro autista (TEA), não é uma doença, mas sim uma condição do neurodesenvolvimento. Ele se manifesta de forma diferente em cada indivíduo, podendo afetar a comunicação, o comportamento social e o processamento sensorial.