Secretário americano desvia do assunto COP 30 e diz que EUA querem energia de Itaipu
Embora Brasil e Paraguai tenham preferência sobre o uso da energia de Itaipu, empresas estrangeiras podem usá-la se estiverem instaladas em um dos dois países
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que o excedente de energia do Paraguai gerado por Itaipu poderia impulsionar o desenvolvimento da inteligência artificial (IA) nos Estados Unidos. A declaração, feita nesta terça-feira (20), durante uma audiência no Senado americano, gerou desconforto nos bastidores diplomáticos sul-americanos.
Questionado sobre a presença dos EUA na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), marcada para Belém (PA), Rubio desviou o foco para questões energéticas e defendeu que a política externa americana priorize parcerias com países que tenham oferta energética compatível com as demandas futuras.
“O Paraguai é um exemplo, com sua hidrelétrica e um acordo antigo com o Brasil, que previa a venda de 50% da energia gerada. Com o fim desse contrato, avaliam o destino do excedente que não será mais automaticamente enviado ao Brasil”, disse, demonstrando o interesse americano em usar a energia de Itaipu como ativo estratégico para suas ambições tecnológicas.
Isso adiciona tensão às negociações entre Brasil e Paraguai sobre o “Anexo C” do tratado da usina, que definia as bases comerciais e financeiras. Esse tratado vigorou desde 1973 e expirou em 2023 com o fim do pagamento da dívida de construção. A partir de então, o excedente paraguaio passou a depender de novas negociações.
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Cenário incerto após o fim do Anexo C
No ano passado, Brasil e Paraguai anunciaram um entendimento: a partir de 2027, o Paraguai poderá vender diretamente sua energia no mercado livre brasileiro, incluindo ao setor industrial. As tratativas, no entanto, foram suspensas após o governo paraguaio denunciar uma suposta invasão hacker da Abin, episódio esse que causou impasse e congelou as negociações.
No Brasil, a fala de Rubio causou cautela. No Planalto, avalia-se que não há ainda proposta formal dos EUA. Já no Itamaraty, a declaração foi vista como um recado ao mercado, sugerindo oportunidades para investidores de IA se instalarem no Paraguai, aproveitando o excedente energético.
Há preocupação no governo brasileiro com a possibilidade de os EUA atraírem data centers — que consomem muita energia — antes do Brasil, prejudicando projetos semelhantes em análise, especialmente os ligados ao Ministério da Fazenda, que aposta na energia renovável como diferencial competitivo.
Embora Brasil e Paraguai tenham preferência sobre o uso da energia de Itaipu, empresas estrangeiras podem usá-la se estiverem instaladas em um dos dois países. Nesse contexto, autoridades brasileiras reforçam que o país não deve ser visto como obstáculo, destacando que o Brasil financiou a linha de transmissão que leva eletricidade a Assunção.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia