Plano israelense de ocupar a Faixa de Gaza é recebido com críticas dentro e fora de Israel
Plano de Netanyahu para ocupar a Cidade de Gaza provoca reação internacional e críticas internas por risco aos civis e aos reféns
O plano israelense de ocupar completamente a Cidade de Gaza foi duramente criticado dentro e fora de Israel nesta sexta-feira, 8. O temor é que a ofensiva militar aprofunde ainda mais a crise humanitária e a epidemia de fome no território palestino.
A reação mais forte veio da Alemanha, que anunciou a suspensão das exportações de armas que possam ser usadas na Faixa de Gaza. “Está cada vez mais difícil entender como o plano militar de ocupar a Cidade de Gaza contribui para os objetivos de Tel-Aviv”, disse o chanceler Friedrich Merz.
“Nestas circunstâncias, o governo alemão não autorizará qualquer exportação de equipamento militar que possa ser usado na Faixa de Gaza até novo aviso”, afirmou Merz. Ele acrescentou que o governo continua “profundamente preocupado com o sofrimento contínuo da população civil” e que, com o novo plano, Israel “assume uma responsabilidade ainda maior” na proteção de civis.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, também condenou a decisão. Em comunicado, classificou o plano como um “erro” e pediu que o premiê Binyamin Netanyahu “reconsidere imediatamente”. “Essa ação não trará o fim do conflito nem garantirá a libertação dos reféns. Apenas resultará em mais mortes”, disse.
Outros países europeus, como Holanda e Dinamarca, também repudiaram a ofensiva. A China manifestou “sérias preocupações” com o plano, enquanto a Turquia exortou a comunidade internacional a “impedir sua implementação”. O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, foi direto: o plano “deve ser interrompido imediatamente”.
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Críticas internas
A decisão do governo israelense também provocou reações dentro do país. O líder da oposição, Yair Lapid, chamou o plano de “catástrofe que trará outras catástrofes”. O Fórum das Famílias dos Reféns — principal grupo que representa familiares de israelenses mantidos em Gaza — afirmou que a medida “significa abandonar os reféns”, desconsiderando alertas da liderança militar e a vontade da maioria da população.
O chefe do Estado-Maior de Israel, Eyal Zamir, também se opõe à ocupação da Faixa de Gaza, por considerar que ela colocaria os reféns em risco e aumentaria a pressão sobre o Exército. Ex-oficiais de segurança se manifestaram contra novas operações, alegando que o Hamas já foi amplamente enfraquecido militarmente e que pouco restaria a ser obtido com novas ofensivas.
Nas últimas semanas, Israel tem enfrentado crescente pressão internacional à medida que imagens de crianças famintas evidenciam o agravamento da crise humanitária em Gaza.
Reféns em risco
Segundo o Exército israelense, cerca de 50 reféns ainda estão em poder do Hamas, mas apenas 20 são considerados vivos. A preocupação é que uma nova operação militar de grande porte aumente o número de soldados mortos e coloque os reféns em perigo.
Nos últimos dias, Hamas e Jihad Islâmica divulgaram vídeos mostrando reféns em condições críticas, visivelmente desnutridos e com sinais de abalo psicológico. O Hamas já havia declarado que instruiu seus combatentes a matar os reféns caso detectem a aproximação de tropas israelenses. Em agosto do ano passado, seis reféns foram mortos durante uma operação militar israelense em Rafah.
A nova ofensiva
O plano de ocupação da Cidade de Gaza foi aprovado nesta sexta-feira, 8, após reunião do Gabinete de Segurança de Israel. Em entrevista à Fox News na véspera, Netanyahu já havia delineado planos mais amplos, afirmando que Israel pretendia assumir o controle de toda a Faixa de Gaza — território do qual já domina cerca de três quartos.
No entanto, a decisão oficial se restringe à Cidade de Gaza e pode, em parte, ter o objetivo de pressionar o Hamas a aceitar um cessar-fogo nos termos propostos por Israel.
A cidade já foi alvo de diversos bombardeios e incursões, com o Exército retornando a bairros anteriormente evacuados, à medida que combatentes do Hamas se reagruparam. Hoje, é uma das poucas regiões do território que ainda não foi transformada em zona-tampão nem está sob ordens formais de retirada. Uma nova ofensiva terrestre pode provocar o deslocamento de milhares de pessoas e dificultar ainda mais a entrega de alimentos a uma população em estado crítico.
Questionado pela Fox News sobre a intenção de assumir o controle de toda a Faixa, Netanyahu respondeu: “Pretendemos, para garantir nossa segurança, remover o Hamas de lá”. Ele afirmou que Israel não deseja manter o controle do território, mas sim entregá-lo a “forças árabes que o governem adequadamente, sem ameaçar Israel e oferecendo uma vida digna aos moradores de Gaza”.
Desde o início da guerra, em 7 de outubro de 2023, cerca de 60 mil palestinos foram mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas. O conflito foi deflagrado após o ataque do grupo ao sul de Israel, que deixou 1,2 mil mortos e 250 sequestrados.
(Com agências internacionais)
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