Número de crianças obesas já é maior que o de desnutridas, diz Unicef
A nível global, um em cada 10 jovens apresenta a condição, que aumenta o risco de doenças fatais
Levantamento do Unicef divulgado nesta quarta-feira (10) mostra que, pela primeira vez, o número de crianças e adolescentes obesos ultrapassou o de menores abaixo do peso ideal. A mudança reflete uma transição rápida nas dietas e ambientes alimentares ao redor do mundo.
Segundo o relatório, atualmente 1 em cada 10 jovens apresenta obesidade — um aumento de 3% em 2000 para 9,4% em 2022 — enquanto a prevalência do baixo peso caiu de quase 13% para 9,2% no mesmo período.
A pesquisa aponta que 1 em cada 5 crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos está com sobrepeso, totalizando quase 391 milhões de jovens. Desses, cerca de 188 milhões são classificados como obesos. A tendência é generalizada, exceto por algumas regiões como África Subsaariana e Sul da Ásia, onde a desnutrição ainda é mais prevalente.
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Riscos à saúde associados à obesidade juvenil
A obesidade na infância e adolescência aumenta o risco de doenças que podem ser fatais ou comprometer a qualidade de vida no longo prazo. Entre as condições mencionadas no relatório estão:
- Resistência à insulina e maior probabilidade de diabetes tipo 2;
- Hipertensão e doenças cardiovasculares;
- Maior risco de certos tipos de câncer, incluindo pâncreas e fígado.
Brasil como exemplo da mudança de panorama
O relatório destaca o Brasil como um caso emblemático dessa transição nutricional. Em 2000, 5% da população infantojuvenil brasileira estava obesa, enquanto 4% sofria de desnutrição. Em 2022, a obesidade saltou para 15% e a desnutrição caiu para 3%. A taxa de sobrepeso no país passou de 18% para 36% no mesmo intervalo.
Onde a obesidade é mais prevalente
Os dados, reunidos em mais de 190 países para o relatório intitulado "Alimentando o Lucro: como os Ambientes Alimentares Estão Falhando com as Crianças", indicam concentrações muito altas em algumas regiões e países. As Ilhas do Pacífico apresentam a maior prevalência de obesidade entre jovens, atingindo 30%.
Países de alta renda também registram números elevados: no Chile, 27% dos jovens são obesos; nos Estados Unidos e nos Emirados Árabes Unidos, a taxa é de 21%.
Ultraprocessados: principal fator por trás da crise
O estudo identifica a substituição de alimentos naturais por produtos ultraprocessados como a principal causa do aumento do sobrepeso e da obesidade entre crianças e adolescentes. As escolhas alimentares dos jovens são fortemente influenciadas pelo marketing da indústria alimentícia, que tem presença marcante em comércios e escolas.
“Esses produtos dominam comércios e escolas. A indústria de alimentos e bebidas tem acesso poderoso ao público jovem”, alerta o relatório. Catherine Russell, diretora-executiva do Unicef, reforça que os ultraprocessados estão substituindo frutas, vegetais e proteínas precisamente numa fase em que a nutrição é crítica para o crescimento, desenvolvimento cognitivo e saúde mental das crianças.
Impacto no desenvolvimento e alerta para políticas públicas
O relatório coloca em evidência a necessidade de medidas públicas que restrinjam o marketing dirigido a crianças, melhorem a disponibilidade de alimentos saudáveis em ambientes escolares e revertam a penetração dos ultraprocessados nas dietas infantis. Níveis crescentes de obesidade podem comprometer tanto a saúde quanto o desenvolvimento socioeconômico das futuras gerações.
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