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Kast diz que 'oposição é importante' e que busca transição 'ordeira e respeitosa' no Chile

Estadão Conteúdo

O candidato da oposição, José Antonio Kast, obteve uma vitória expressiva no segundo turno das eleições presidenciais do Chile, realizado no domingo, 14, marcando o retorno da direita ao poder depois de quatro anos sob o governo de esquerda de Gabriel Boric.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Kast prometeu implementar as mudanças necessárias para o país sul-americano e afirmou que o "respeito" será o princípio norteador de seu governo. "É um dia de alegria", disse Kast a apoiadores. "Vamos fazer as coisas direito nestes próximos quatro anos", acrescentou. Ele também pediu união e uma administração baseada no diálogo.

O líder do Partido Republicano foi eleito presidente do Chile para um mandato de quatro anos, com 58,17% dos votos, contra 41,83% da candidata de esquerda, Jeannette Jara, após a apuração de mais de 99,6% das urnas pelo Serviço Eleitoral do Chile.

Cerca de 15,7 milhões de eleitores estavam aptos a votar neste segundo turno, que colocou em disputa a continuidade da centro-esquerda no poder ou uma guinada à direita.

Kast agradeceu aos filhos, netos, pais, a Deus e, especialmente, à sua mulher, María Pía Adriasola, com quem dividiu o palco durante o discurso. Ele reafirmou a promessa de implementar mudanças profundas, incluindo medidas mais rigorosas para combater o crime organizado e conter a imigração. "O Chile quer mudança, e eu quero dizer que o Chile vai ter uma mudança real", disse.

O presidente eleito também adotou um tom conciliatório em relação à oposição liderada por Jeannette, com quem afirmou ter "sérias divergências", e agradeceu aos demais candidatos de direita que o apoiaram no segundo turno.

"Um governo não se constrói apenas com apoiadores; a oposição é importante", disse Kast. "Alguém pode ter uma ideologia diferente, mas é uma pessoa como nós."

Repercussão da vitória

O primeiro a reconhecer a vitória de Kast foi o atual presidente do Chile, Gabriel Boric. Em um telefonema, Boric afirmou que o adversário obteve "uma vitória clara" e destacou a responsabilidade do cargo. "É uma grande responsabilidade que deve ser encarada com muita cautela, muita humildade e muito trabalho", disse.

Kast agradeceu as palavras e expressou a expectativa de que a transição seja "ordeira e respeitosa". "Depois de 11 de março, também gostaria muito de ouvir suas opiniões e sua perspectiva sobre o país", afirmou, em referência à data de posse.

Governos conservadores da região também se manifestaram. O primeiro líder latino-americano a parabenizar Kast foi o presidente da Argentina, Javier Milei. "Meus sinceros parabéns ao povo chileno por este processo democrático exemplar e ao estimado José Antonio Kast por sua eleição como presidente do Chile", escreveu. 'Estou confiante de que trabalharemos juntos para fortalecer ainda mais a amizade e a cooperação entre nossos países."

Kast compartilha opiniões semelhantes às defendidas por Milei, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que, sob a liderança de Kast, "o Chile avançará em prioridades compartilhadas, incluindo o fortalecimento da segurança pública, o fim da imigração ilegal e a revitalização de nossas relações comerciais".

"Os EUA esperam trabalhar em estreita colaboração com seu governo para aprofundar nossa parceria e promover a prosperidade compartilhada em nosso hemisfério", acrescentou Rubio.

Na região, Kast também foi parabenizado pelos presidentes do Equador, Daniel Noboa, e do Paraguai, Santiago Peña - ambos de direita - e pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Jeannette, por sua vez, telefonou para Kast após reconhecer a derrota e lhe desejou sucesso. "É na derrota que mais aprendemos", afirmou diante de apoiadores reunidos na Praça San Francisco, em Santiago. Ela disse ser "hora de estar na oposição", mas ressaltou que não quer "um país dividido".

A eleição

Jeannette foi a primeira comunista a liderar uma chapa única que reuniu todos os setores da esquerda e da centro-esquerda chilenos. Kast, que disputou a presidência pela terceira vez, atraiu eleitores com a promessa de adotar tolerância zero contra o crime organizado e a imigração irregular, as duas maiores preocupações dos chilenos.

Na sede de campanha de Kast, no bairro nobre de Las Condes, em Santiago, milhares de apoiadores comemoraram as primeiras palavras do presidente eleito. Alguns carregavam faixas e fotos do ditador Augusto Pinochet.

Há quatro anos, Kast quase venceu a eleição presidencial, mas foi derrotado no segundo turno por Boric, em meio a críticas às suas posições consideradas extremistas, como a oposição ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, ao aborto, à redução da jornada de trabalho e sua postura em relação à ditadura de Pinochet.

Neste ano, no entanto, o candidato optou por deixar parte dessas pautas em segundo plano e concentrou sua campanha em um "governo de emergência" para conter a violência e a imigração irregular. Entre as propostas, defendeu deportações em massa de mais de 330 mil imigrantes sem documentos.

Para o analista político Gilberto Aranda, da Universidade do Chile, a vitória de Kast reflete "a segmentação dos medos da população, juntamente com um setor insatisfeito com um candidato comunista e um voto de protesto contra o governo". "Essa combinação cria um ambiente favorável a Kast, que soube explorar o tema da segurança e da imigração irregular", concluiu.

*Com informações da Associated Press.