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Após pressão internacional, Israel e Hamas aceitam cessar-fogo em Gaza

Egito será encarregado de monitorar o cumprimento do acordo

Agência Brasil

Após intensa pressão internacional, israelenses e palestinos concordaram na quinta-feira, 20, com um cessar-fogo para acabar com o conflito de 11 dias que deixou mais de 240 mortos. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, disse que a trégua proposta pelo Egito é "mútua e incondicional". Um funcionário do Hamas afirmou que o acordo será "simultâneo".

Israel e Hamas, no entanto, têm um histórico de ignorar tréguas acertadas no passado. Por isso, muitos analistas preferem esperar para ver se o conflito realmente termina. O cessar-fogo começaria às 2 horas de hoje (21 horas da noite de ontem, em Brasília). A pausa na violência veio um dia depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, que vinha evitando pressionar abertamente Israel, disse a Netanyahu que esperava "uma redução significativa" da tensão.

Ontem, em breve pronunciamento na Casa Branca, Biden comemorou o cessar-fogo. Ele prometeu ampliar a ajuda humanitária à Faixa de Gaza e manter a assistência militar a Israel. "Creio que temos uma oportunidade genuína para avançar rumo ao fim desse conflito", disse o presidente americano, que agradeceu a mediação do Egito.

No entanto, mesmo após o anúncio e antes do prazo para o início da trégua, os dois lados continuaram a troca de fogo. Sirenes alertaram para a chegada de foguetes do Hamas em comunidades israelenses na fronteira e repórteres relataram novos ataques aéreos em Gaza. Nos bastidores, porém, os dois lados pareciam preparados para desviar as atenções do campo militar e começar uma nova disputa, desta vez para construir uma narrativa vitoriosa.

Fontes militares de Israel, de forma anônima, foram citadas na imprensa local dizendo que o Exército estava satisfeito com os danos infligidos ao enclave, principalmente com a destruição da rede de túneis usada para atacar o país. Ao mesmo tempo, os militantes palestinos garantiram que a batalha havia atingido seus objetivos.

Osama Hamdan, principal autoridade do Hamas no Líbano, afirmou que o grupo obteve concessões de Israel em vários pontos, incluindo o fim das agressões a muçulmanos na mesquita de Al-Aqsa e no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, onde colonos israelenses tentam expulsar algumas famílias palestinas. "Conseguimos garantias para levantar a mão da ocupação de Sheikh Jarrah e da mesquita", disse ele, em entrevista à TV do Hezbollah.

Autoridades israelenses, no entanto, garantiram que o cessar-fogo apenas suspende as operações militares. O acordo, que foi aprovado por unanimidade pelo gabinete de Netanyahu, não oferece nenhuma concessão em Jerusalém. "Gostaria de elogiar nossas forças de segurança e o Exército, que nos últimos 11 dias alcançaram conquistas sem precedentes em sua escala, precisão e importância estratégica para a luta contra organizações terroristas em Gaza", afirmou o ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz.

Em um primeiro momento, de acordo com analistas, as coisas parecem ter ficado como antes: o Hamas segue mandando em Gaza, território que ainda permanece isolado por Israel. Mas o que parece ter mudado é o poder dos dois protagonistas do conflito, o premiê israelense e o grupo militante palestino.

Com os disparos de foguetes contra Israel, o Hamas voltou a ganhar relevância na política palestina. Cada vez mais impopular em Gaza, sem conseguir fornecer serviços básicos para seus 2 milhões de habitantes, o grupo fortaleceu seu controle sobre o território e, ao posar de protetor da mesquita de Al-Aqsa, melhorou sua imagem junto aos palestinos da Cisjordânia.

"O Hamas conseguiu algo sem precedentes nos últimos dias: além de disparar foguetes contra Israel, mobilizou milhares de manifestantes palestinos na Cisjordânia, provocou pequenos disparos de foguetes do Líbano e da Síria e, mais significativamente, atraiu árabes israelenses extremistas para sua batalha", disse o analista Avi Issacharoff.

Do lado de Israel, Netanyahu também saiu mais forte. Antes do conflito, ele estava a ponto de ser destituído do cargo. Uma coalizão de oposição estava prestes a anunciar uma aliança, quando o Hamas disparou os primeiros foguetes. O conflito descarrilou as negociações.

Dois opositores, Naftali Bennett e Gideon Sa’ar, agora analisam a possibilidade de participar de um governo com o premiê. Caso ninguém consiga maioria, Israel teria sua quinta eleição em dois anos - e uma vitória contra o Hamas poderia aumentar as chances de Netanyahu nas urnas.

(Com agências internacionais)