Israel anuncia primeiras entregas de ajuda humanitária para Gaza
Israel retoma envio de ajuda humanitária após meses de bloqueio; ONU alerta para desnutrição grave entre crianças em Gaza
Israel anunciou, nesta segunda-feira (28), que as primeiras remessas de ajuda humanitária desde a abertura das passagens de fronteira no dia anterior foram distribuídas na Faixa de Gaza, onde a desnutrição atinge “níveis alarmantes”, segundo a ONU.
Pela primeira vez em meses, caminhões carregados com ajuda internacional cruzaram, no domingo, a fronteira de Rafah, que liga o sul do território palestino ao Egito. A passagem foi reaberta após o anúncio de uma pausa diária nos combates em determinadas áreas, para viabilizar ações humanitárias.
Os lançamentos aéreos de ajuda humanitária, suspensos há semanas, também foram retomados. O território está sitiado por Israel desde o início da guerra contra o Hamas, há quase 22 meses.
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“Aviões israelenses lançaram sete caixas de alimentos (...) no noroeste da Cidade de Gaza. Dezenas de pessoas correram para buscá-las, foi como uma guerra”, relatou Samih Humaid, de 23 anos, que disse ter voltado para casa com “apenas três latas de feijão”.
“A fome é implacável”, acrescentou.
No final de maio, Israel suspendeu parcialmente o bloqueio total imposto à Faixa de Gaza em março, que havia causado escassez severa de alimentos, medicamentos e outros itens essenciais, além de um risco de fome generalizada entre os mais de dois milhões de habitantes, segundo a ONU e diversas ONGs.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, no domingo, que a desnutrição atinge níveis críticos. Das 63 mortes associadas à desnutrição em julho, 24 eram de crianças menores de cinco anos.
Nesta segunda-feira, Israel anunciou que 120 caminhões com ajuda humanitária foram distribuídos em Gaza no domingo por agências da ONU e outras organizações humanitárias. As Nações Unidas confirmaram a distribuição de mais de 100 caminhões.
Sob pressão internacional, Israel declarou uma pausa diária nos combates, das 10h às 20h, em diversas áreas, para permitir a entrega segura de ajuda.
“Sem desculpas”
“Soubemos que caminhões com farinha e alimentos entrariam em Gaza. Esperamos que, se entrarem, cheguem até nós”, disse à AFP Suad Ishtaywi, uma mulher de 30 anos que vive em uma barraca no norte do território.
Israel, que controla os acessos a Gaza, nega restringir a ajuda e acusa o Hamas de saquear remessas e organizações humanitárias de não distribuí-las adequadamente. Por outro lado, essas organizações alegam que Israel impõe restrições excessivas à entrada de ajuda.
“Corredores seguros existem. Sempre existiram, mas agora é oficial. Não haverá mais desculpas”, declarou o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, no domingo.
Imagens da AFP, feitas durante uma visita supervisionada pelo Exército israelense, mostraram caminhões com ajuda entrando pelo lado palestino da região de Kerem Shalom, próximo a Rafah, onde havia grandes quantidades de pacotes e sacos de farinha armazenados.
Necessidade "imensa"
Diversas ONGs saudaram a retomada da ajuda, mas alertaram que ela ainda está muito abaixo do necessário para atender a população.
“Antes da guerra, entre 500 e 1.000 caminhões entravam todos os dias e, desde então, as necessidades aumentaram exponencialmente”, disse Bushra Khalidi, da ONG Oxfam.
“A ajuda que as famílias em Gaza precisam é imensa”, afirmou Rosalia Bollen, porta-voz do Unicef.
O conflito foi deflagrado após o ataque do grupo islâmico palestino Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, que deixou 1.219 mortos do lado israelense — a maioria civis —, segundo dados oficiais compilados pela AFP.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva militar que resultou na morte de ao menos 59.821 pessoas em Gaza, também majoritariamente civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007, com dados considerados confiáveis pela ONU.
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