Eleição na Bolívia: conheça os candidatos de direita que chegaram ao 2º turno
O candidato de Jorge "Tuto" Quiroga voltou a ganhar destaque na política boliviana ao chegar ao segundo turno das eleições presidenciais. Ele disputará o cargo contra Rodrigo Paz, candidato de centro (confira seu perfil mais adiante), em um pleito marcado pela pior crise econômica do país em quatro décadas.
Quiroga, que governou a Bolívia entre 2001 e 2002, tem feito campanha prometendo "estabilidade, crescimento e trabalho" em contraste com o que ele chama de legado de "crise, inflação, filas por combustível, falta de dólares e desemprego" deixado por quase 20 anos de governos de esquerda.
Ex-vice de Hugo Bánzer, ex-ditador que posteriormente se converteu à democracia, Quiroga assumiu a presidência interinamente após a saída de Bánzer, em 2001. Ao longo da carreira, cultivou a imagem de gestor técnico, mas também enfrentou processos judiciais: foi condenado por difamação contra um banco estatal e investigado por contratos de petróleo, sendo posteriormente anistiado.
Aos 65 anos, Quiroga aposta em um discurso neoliberal e promete medidas duras: eliminar subsídios aos combustíveis, buscar apoio do Fundo Monetário Internacional, cortar gastos públicos e fechar estatais deficitárias. "Nunca tivemos uma crise tão dura em 40 anos", disse em entrevista.
A inflação no primeiro semestre de 2025 chegou a 15,5% em relação ao mesmo período do ano passado, o índice mais alto em quase duas décadas. A escassez de gasolina, que gera filas quilométricas nos postos, tornou-se símbolo da crise.
Figura conhecida pela postura crítica contra Evo Morales (2006-2019) e o atual presidente Luis Arce, ambos do Movimento ao Socialismo (MAS), Quiroga os acusa de terem levado o país à "ruína" por disputas internas. Ele também endureceu o tom contra aliados regionais da esquerda, como Cuba, Venezuela e Nicarágua.
A cientista política Jimena Costa avalia que, apesar de ter experiência administrativa e trânsito internacional, Quiroga enfrenta a fragilidade de não contar com um partido forte que o sustente. Ainda assim, seu perfil de "gestor neoliberal" pode atrair eleitores que associam a atual crise ao esgotamento do modelo estatal.
Paz: senador que quer seguir os passos do pai e presidir o país
O senador Rodrigo Paz surpreendeu no 1º turno das eleições realizadas no domingo, 17, na Bolívia ao conquistar uma vaga no segundo turno presidencial - um resultado que não havia sido previsto pelas pesquisas de intenção de voto.
Paz, de 57 anos, é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993) e da espanhola Carmen Pereira. Ele nasceu na Espanha, onde a família viveu exilada durante a ditadura militar boliviana (1964-1982). Seu pai foi o único sobrevivente de um trágico acidente aéreo em 1980, ficando com queimaduras no corpo e no rosto.
Vice foi afastado da polícia
Durante a campanha, Rodrigo Paz adotou uma estratégia modesta: caminhou por mercados e feiras populares. A atenção, no entanto, recaiu principalmente sobre seu candidato a vice, o ex-policial Edman Lara, que ganhou notoriedade nas redes sociais ao denunciar casos de corrupção na corporação. Lara foi afastado da polícia em 2024, acusado de "faltas graves".
No início do processo eleitoral, Paz sequer foi incluído nos debates entre os principais candidatos. Para contornar a exclusão, seus apoiadores chegaram a levar cartazes apenas para lembrar que ele também era postulante à presidência.
Ainda assim, sua campanha ganhou força com a promessa de "varrer a corrupção" e a defesa de que não seria necessário recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para enfrentar a pior crise econômica do país em quatro décadas.
"Não vou pedir dinheiro ao Fundo Monetário Internacional. Na Bolívia, se não roubarem, o suficiente aparece", declarou recentemente à rádio Erbol. Ele também acusou o governo do presidente Luis Arce de "se render" diante da escassez de combustíveis.
Outra de suas propostas é o que chama de "capitalismo para todos": um programa de crédito acessível para jovens empreendedores, aliado a incentivos tributários para fortalecer a economia formal em parceria com o setor privado.
Descontentamento e renovação
"Havia um voto popular de descontentamento que não queria o partido governista, o Movimento ao Socialismo, e Rodrigo conseguiu canalizar esse voto", afirmou o analista Carlos Saavedra.
Com experiência política acumulada, Paz iniciou a carreira como deputado em 2002 e já foi vereador, prefeito e governador de Tarija, sua região natal, no sul do país.
Atualmente, exerce mandato como senador pela aliança de centro-direita Comunidade Cidadã e concorreu à Presidência pelo Partido Democrata Cristão (PDC), alinhado à social-democracia europeia.
Formado em Economia e Relações Internacionais na Espanha, Paz tem ainda mestrado em Gestão Pública pela American University, em Washington (EUA).
"Rodrigo Paz representa um voto de renovação. Ele não se dedicou a brigar com adversários, mas sim a apresentar propostas", avaliou a analista política Ximena Costa.
*Este conteúdo foi elaborado com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.
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