MENU

BUSCA

Professora realiza projeto com alunos da periferia de Belém

Ganhadora do prêmio Professores do Brasil e indicada ao Global Teacher Prize, Lília Melo desenvolve projeto com estudantes do bairro da Terra Firme

Ana Paula Gama

Analisar os contextos de vulnerabilidade social no desenvolvimento infantojuvenil tem sido cada vez mais necessário para a sociedade, pois crianças e adolescentes são uns dos principais prejudicados pela falta de políticas de assistência social, segurança, além de problemas familiares.

Com o objetivo de apoiar os jovens que enfrentam a vulnerabilidade socioeconômica no bairro da Terra Firme, em Belém, a professora Lília Melo criou o projeto “Juventude Negra Periférica: do extermínio ao protagonismo!” para incentivar os meninos e meninas a falarem de suas identidades e cotidiano, por meio da produção de filmes e documentários, além de desenvolverem núcleos de teatro, dança, poesia e arte visual.

De acordo com a docente, a ideia de criar o projeto surgiu após uma chacina que vitimou 11 pessoas no bairro da Terra Firme, em novembro de 2014.

“Quando eu iniciei o ano letivo de 2015, percebi que havia necessidade de escutar essa experiência da perda de familiares, vizinhos e pessoas do convívio dos alunos. A partir daí, vi que essa chacina teve um impacto muito forte para eles e passei a compreender como era o cotidiano. Depois disso, descobri verdadeiros artistas”, lembra.

Inicialmente, a sede do projeto era a Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, local onde Lília Melo dá aulas aos alunos do ensino fundamental e médio. Porém, devido ao crescimento do programa, a casa da professora também tornou-se o ponto de encontro dos jovens.

“Eles me chamam de mãe e a minha casa, que é o ponto de encontro do projeto, é onde eles encontram acolhimento. Eles sabem que podem contar sempre comigo. Além disso, a arte é o instrumento para eles extravasarem as suas emoções” - Lília Melo

Em 2018, o  trabalho da professora ganhou projeção nacional quando levou seus alunos ao cinema para assistir ao “Pantera Negra”, filme de super-herói que tem a maioria de atores negros. Foi uma forma encontrada por ela para que os jovens se identificassem como protagonistas da própria história por meio da Sétima Arte. Para alguns, aquela era a primeira vez em que entravam numa sala de projeção.

Atualmente, o projeto “Juventude Negra Periférica: do extermínio ao protagonismo!” conta com mais de 50 integrantes, na faixa etária de 6 a 20 anos, que se dividem nos seguintes grupos: arte visual, cine dance, poesia ribeirinha e audiovisual.

Segundo Lília Melo, a iniciativa tem o propósito de questionar a metodologia tradicional aplicada nas escolas e também de acolher os jovens marginalizados pela sociedade.

“O menino que não é bom em matemática, mas grafita bem e se dedica nessa arte, está estudando algo que é diferente do tradicional. A gente precisa acompanhar o cotidiano dessas crianças e jovens para saber como elaborar essa construção do conhecimento e como utilizá-la na escola”, pontua a professora.

Empatia e dedicação premiadas

Em 2018, Lília conquistou o prêmio Professores do Brasil na categoria ensino médio. Já no ano de 2020, esteve entre os cinquenta finalistas do The Global Teacher Prize, considerado o prêmio Nobel da educação.

“Nunca teve uma representação do Norte do Brasil nessa premiação, ainda mais de uma comunidade periférica. Ao ganhar esses prêmios, eu me senti abrindo caminhos para outros entrarem. Depois dessa premiação, muitos profissionais da área da educação começaram a querer revolucionar também”, confessa.

A docente revela que é preciso ter muita coragem para enfrentar os diversos desafios que aparecem pelo caminho. Porém, ações como o “Juventude Negra Periférica: do extermínio ao protagonismo!” lhe dão forças para continuar lutando por uma educação digna para todos.

“Ao longo da minha trajetória na educação, eu enfrentei muitos desafios com pessoas dizendo que esse projeto não estava no caminho certo e que era marginalizado. Porém, ele deu tão certo que os resultados podem ser vistos nas plataformas digitais. Os jovens encontraram acolhimento e espaço para socialização”, destaca Lília.

Mulheres