Mulheres no puerpério devem ter atenção redobrada com a saúde mental
Especialistas alertam para necessidade de acolhimento e cuidado às mães durante o período, tanto por meio da rede de apoio quanto de uma equipe profissional multidisciplinar
Especialistas alertam para necessidade de acolhimento e cuidado às mães durante o período, tanto por meio da rede de apoio quanto de uma equipe profissional multidisciplinar
Privação de sono, recuperação física, mudanças hormonais, isolamento e sobrecarga mental. Esses são alguns dos vários desafios diários vividos por mulheres no período do pós-parto. Conforme orientações de especialistas, as mulheres devem ter atenção redobrada com a saúde mental durante o puerpério, período que decorre desde o parto até que os órgãos reprodutores da mãe retornem ao seu estado pré-gravídico.
De acordo com a pesquisa realizada em 2020, pelo Instituto Fiocruz, sobre as principais questões de saúde mental no parto, cerca de 10% das mulheres grávidas e 13% das puérperas (período após o parto até que o organismo da mulher volte às condições normais) sofrem de problemas de saúde mental. Dentre eles, a depressão se destaca.
Conforme a especialista, a amamentação promove o vínculo afetivo entre mãe e bebê e acarreta alterações hormonais que geram sensação de bem-estar tanto para mãe quanto para o lactente, diminuindo a incidência de sintomas de ansiedade. "Mães que passam por dificuldades na amamentação podem contar com o suporte dos bancos de leite, bem como das profissionais de consultoria de amamentação, de profissionais da psicologia e de seu médico ginecologista e obstetra", explica.
O sono também é um aliado das mães nesse período e está diretamente ligado ao bem-estar físico e mental. "Durante o puerpério, é essencial contar com uma rede de apoio bem articulada. Apesar da amamentação ser uma função materna, deve haver uma divisão de responsabilidades entre os cuidadores para garantir à mulher um sono reparador", conclui.
O cansaço e a culpa de não conseguir dar conta de tudo são sentimentos frequentes na vida daquelas que acabaram de trazer uma vida ao mundo, ou duas, como relata Bruna Martins, que concebeu um par de gêmeos há dois meses, Melinda e Vicente.
“A gente sente os dois simultaneamente. Se sente cansada e se sente culpada por se sentir tão cansada. Porque a mãe tem que estar sempre pensando no que ainda não foi feito e o que ainda precisa ser feito para que o bebê não precise esperar por alguma coisa, principalmente no meu caso que é tudo em dobro. É uma ansiedade que nunca para", relata.
"É uma carga muito grande para carregar sozinha e a gente não quer compartilhar muitas vezes, porque queremos sempre mostrar que que damos conta de tudo, mesmo já estando no limite. Com certeza esse foi o maior desafio, lembrar que eu estava dando o meu máximo e que preciso aceitar que não consigo dar conta de tudo", completa.
A autônoma de 27 anos, mãe de três crianças, voltou à casa dos pais, junto ao marido, e conta que o apoio da família faz toda a diferença para que ela possa cuidar dos bebês e de si mesma enquanto se recupera de um parto cesárea. "Devido à cirurgia, eu não podia fazer muita coisa no começo. Então, era uma culpa muito grande por ter que depender de outras pessoas. Minha mãe sempre está lá para me tranquilizar nos momentos em que fico assustada e preocupada ao extremo", informa.
Bruna também relata que a sensação de sobrecarga e isolamento foram comuns desde a gestação. "São muitos pensamentos que, mesmo que a gente tente explicar, as pessoas não entendem, acho que só quem já passou consegue. Uma gravidez delicada e o pós-parto de gêmeos é ainda mais puxado, a gente se sente muito sozinha mesmo estando cercada de pessoas", conta.
A autônoma reconhece a importância de priorizar o autocuidado em meio às demandas da vida de mãe para evitar exaustão e crises de ansiedade. Embora aspectos da vaidade, como cuidar das unhas e sobrancelhas, precisem ser temporariamente deixados de lado, ela encontra alívio em simples rituais diários de autocuidado, como lavar o cabelo, tomar um banho revigorante, ouvir música, dormir ou assistir filmes enquanto os bebês tiram uma soneca e saborear suas comidas favoritas.
No puerpério, as transformações no corpo são inevitáveis. No entanto, a crítica alheia em relação ao corpo das mães pode prejudicar sua autoestima e bem-estar mental.
"Um comentário simples sobre o nosso corpo nos afeta de uma forma muito brusca. Meu corpo ficou com marcas e manchas, o que é normal e não me incomodava. Isso mudou a partir do momento que eu percebi olhares e recebi comentários. As pessoas devem entender que, nesse momento, a prioridade é cuidar do bebê. Elas devem ter mais carinho, respeito e guardar as opiniões para si", conclui.
Eva Pires (estagiária sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)